segunda-feira, 28 de julho de 2008

VIVENDO O DIA SEGUINTE




Não vos inquieteis, pois, pelo dia amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal.” (Mateus, 6:34)


Quando o dia acabava, eu olhava para o céu, olhava aquela escuridão e dizia: “ufa! Menos um dia de vida...” E assim, repeti essa frase inúmeros dias consecutivos. Temia como seria o dia seguinte; o que faria?; como suportar mais um dia? Como agüentar mais um nascer do sol? Fazia uma espécie de contagem regressiva, na expectativa do dia que não mais acordaria...


Meus dias duravam, literalmente, 24h. As outras 24 eram imprevisíveis. Era uma vida com início, meio e fim em 24h. Doía muito o medo do amanhã.


Sentia dores que não sabia precisar onde eram... doía algo por trás do coração. Dores que me abatiam, que me faziam ficar sem respirar direito. Meu coração batia num compasso diferente. Eu era outra pessoa.


Lembrava dessa passagem em Mateus (apesar de sempre dizer que não acreditava 100% na Bíblia, porque teve o dedo do homem por trás, mas, ela me trazia um conforto real e Divino. Elas atingiam as dores no lugar certo e estas passavam), e tentava diminuir a angústia de viver o sofrimento de imaginar como seria o dia seguinte. Como falei, não tenho religião, creio em Deus. Mas, descobri, nessas horas, dentro de casa, muitas vezes deitada na cama e olhando para o teto, que temos um espírito e ele também sofre, também sente dores. Percebi então, que as dores que sentia por trás do coração eram dores na alma.


Implorava perdão a Deus, por estar sendo tão fraca, tendo Ele nos feito para a felicidade, mas, não tinha forças de encarar o “dia seguinte”. Sofria muito com esses temores.


Comecei a perceber, que esses medos, tinham a ver com o medo do futuro; um medo de viver daquele jeito para sempre... daí, o desejo de encurtar o que não tinha mais jeito... Tinha medo, porque não tinha mais sonhos; nem planos; nem ideais... nem passado, nem futuro. Pior, que nem presente...


Essa foi difícil de superar. Pensava como poderia me ajudar nesse assunto, mas nada me vinha, até que me veio: “basta um mal para cada dia”. Corri e fui perguntar a minha avó, qual a passagem bíblica que continha esse trecho. “Mateus, 6:34”, me respondeu minha linda e amada vovó Maria e já veio com sua Bíblia aberta e leu para mim. Me tocou fundo! Tocou naquele fundo, que estava doendo por trás do coração... era tudo o que precisava ouvir.


Quando vinha aquela sensação de medo, ao findar do dia, zerava meus pensamentos: PENSAVA EM NADA, para liberar a mente dos pensamentos ruins sem forçar. Comecei a deixar passar, porque já havia “pré-programado” minha mente no que pensar quando estivesse livre... O exercício de PENSAR EM NADA (criado por mim) me ajudava bastante. Não é simples, mas é neutralizar um pensamento ruim com uma respiração bem funda (vai doer, porque é um esforço respirar em meio àquela fadiga físico-mental... até respirar cansa...); sacudir a cabeça como quem diz “não” (literalmente.), mexer o corpo todo (sacudindo, andando em círculos, soltando os braços... mexendo o corpo) – ah, só fazia isso sozinha, para não me constranger (não é hora de constrangimento e nem se tem forças para assumir sua atitude...) – sentava na cama, deixava o olhar solto, vagando pelas paredes, pelo teto, pela janela... olhava sem ver, e isso fazia com que os pensamentos ruins fossem perdendo a força.

Quando eles perdiam a força, relaxava a mente (sabe quando estamos malhando e no final vem o relaxamento?... era mais ou menos assim). Deixava livre, sem pensar. Dava voz ativa a NADA. Me permitia ser uma “louca”, livre, leve e louca – risos. E funcionava. Era cansativo, mas tinha resultado.

Fui perceber que, o que fazia, era simplesmente, uma atividade física, um movimento do corpo, e isso, me OCUPAVA e eu não tinha tempo para me “PRÉ – OCUPAR” com o desnecessário. Se eu dissesse: preciso me mexer, não me mexeria, mas quando permitia meu corpo fazer algo para se proteger, ele mesmo se defendia. Nós somos um conjunto de corpo, mente e espírito, e isso quer dizer que um ajuda o outro e todos se ajudam. Todo médico fala que a atividade física ajuda nossa saúde, e é verdade! Ainda estou sedentária, mas, vou dar um jeito de me organizar. Isso vai fazer bem a mim mesma!

Após esse processo (que com o tempo vai fluindo naturalmente em seu dia-a-dia), lembrava do texto bíblico e permitia que ele me enchesse como uma luz me invadindo: “Não vos inquieteis, pois, pelo dia amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal.” (Mt 6:34) e eu sorria. O ato de sorrir que me gerava tanto incômodo, voltava a sair espontaneamente.


Esse é um exercício que você deve fazer quando seu corpo pedir e sua mente colaborar. Não vai obter resultado de uma hora para outra, mas, vai sentir um alívio emergindo do âmago do seu Ser. Eu chamo isso de Deus falando claramente comigo, desde que eu me permita escutar!


É um exercício mesmo. Exige disciplina. Uma das grandes consequencias de qualquer Depressão. é que você volta a agir como uma criança aprendendo a andar: cair e levantar. Tudo passa a ser um passo após o outro. Enxergando tudo com pureza nos olhos. A mente esvazia tanto, de tão cheia de pensamentos pesados, que depois só se quer viver coisas boas. Chega uma hora que o grito de liberdade chega e diz: CHEGA, QUERO SAIR DAQUI!!! E sai. Nessa hora, você vê que venceu!


E assim, foi dia após dia. “Recuperando o futuro perdido”. VIVENDO O DIA SEGUINTE.

Patricia Lins

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