sábado, 12 de julho de 2008

O que é "força de vontade"? / A técnica das: "Afirmações"...







De repente, se abriu um buraco em meu peito! Um vazio sem tamanho. Chorava muito e não conseguia mais dormir. Não queria mais ouvir o choro de Peuzinho, nem tocá-lo... e aquilo me doía, porque eu queria carregá-lo, queria sentí-lo, mas algo dentro de mim gritava que era para sair de perto...uma sensação estranha e confusa. Uma contradição de sentimentos que me dominava!!!

Queria gritar socorro, mas um grito mudo saía e eu só chorava. Como quando estamos sonhando e queremos gritar e o grito não sai. Me sentia tão pequena. A sensação era de que estava sendo sugada, sumindo...sei lá, era muito triste. Sentia uma dor tão profunda!!!

Meu avô foi me visitar (e sempre tive uma ligação muito forte com ele e vice-versa. Eu sou a neta mais velha; filha dos filhos mais velhos... imagine a responsabilidade!!!rs) e disse que não queria mais me ver chorando daquele jeito; que quando voltasse, queria me ver sorrindo, como sempre me viu... nunca mais ele voltou!!! Nem para me ver sorrindo, nem chorando. Nem crescendo como pessoa...ele partiu!

Se eu já estava com um buraco sem fim, ele aumentou. A dor era insuportável! Mas o amor por Peu também era imenso! Comecei a me culpar pela morte de meu avô. Achava que ele se foi porque eu trouxe Pedrinho (tem um dito aí que diz que se chega um novo ser na família é para renovar...algo que dá a entender que alguém mais velho tem que ceder o lugar. Resumindo: Peu veio, meu avô foi...). Dor e alegria dividindo o mesmo espaço; o mesmo tempo; o mesmo corpo!

Mas antes de me culpar, já chorava. Piorava a cada dia. Ligava para meu obstetra até na madrugada. Até que ele pediu que meu marido me levasse a um psiquiatra, porque eu apresentava características de DPP (depressão pós parto).

Lógico que eu neguei! Onde que eu, feliz por ter tido um filho tão lindo, com um marido que me amava, uma família que me apoiava, amigos de verdade - tudo perfeito - teria essa doença? Não, eu estava era cansada (repetia). Só queria morrer (dizia)...

Pois é, eu estava com DPP. Lutei para admitir. Mas a terapia me ajudou a aceitar. Muita água rolou nesse meio tempo. Muita incompreensão, muita gente se metendo... e minha dor, só aumentando.

Ouvi, por várias vezes: "você precisa ser forte! Tenha força de vontade..." sem saber que a força que me restava era a de permanecer viva. Eu poderia ter força de vontade e concluir as tentativas de suicídio... teria tido êxito e muita força de vontade! Essa frase, para quem está em Depressão (olha que nome...traduz tudo. A sensação é de descida mesmo. De queda. Despencar...) é um estímulo muito perigoso!

FORÇA DE VONTADE: expressão que quer dizer que a força está dentro de você; depende de você o êxito em seu objetivo!

Qual o objetivo de quem quer sumir do mundo? De quem está se sentindo (sem entender o porquê) o O...? E o que vem a ser FORÇA DE VONTADE para quem quer se matar e tem isso como objetivo?????

Muito ajuda quem não atrapalha! Ninguém é obrigado a conviver com alguém depressivo. Você não é obrigado a ter que conviver com esse problema. Muitos acabavam se julgando tão pior do que eu, que falavam que eu era uma pessoa feliz, que não tinha porque estar daquele jeito e me apontavam o dedo, como seu eu estivesse roubando a tristeza que lhes pertencia...agora, veja, se eu lá queria viver aquilo? Deus me livre! Mas, infelizmente, eu vivia. Parecia que alguém apertava a minha cabeça e me fazia viver uma realidade que não era minha. Era meio que um transe, sei lá. Era forte, muito forte! Chegou a ser mais forte que eu! Eu lutei muito, mas muito mesmo, para me manter viva e pensava: A DOR SÓ DÓI ENQUANTO ESTÁ DOENDO, DEPOIS PASSA! Mas não passava. Cada segundo para mim, pareciam dez anos de tristeza e amargura. Quem eu era? O que tinha de concreto para ser feliz? Me perguntava isso várias vezes. Pois é, ouvi muita coisa.

Tive que ouvir de um tudo e fechar a porta para esse:tudo. Fechei mesmo. Ouvir que era "crise de menina mimada" (pense, se toda menina mimada vivesse aquela tristeza? Só haveria choro...porque o que eu conheço de menina mimada e nenhuma teve DPP - graças a Deus); que "era muita raiva acumulada. se eu liberasse essa raiva, tudo passava"... liberei a raiva, liberei a culpa...liberei minha mente. Zerei. E tudo continuava triste, sem brilho. E Peu, crescendo. Eu me esforçava e cuidava dele, mas nunca sozinha. Eu era um risco a mim mesma... Ouvir tanta gente que se julgava a própria sabedoria, tantos conselhos vazios...me fechei para o mundo. Me recusava a ser alvo de tantos dedos. Queria que cada dedo apontasse para si próprio. Comecei a enxergar as pessoas por dentro. Comecei a cansar de tanta superficialidade!

Mas as pessoas que me amavam de fato e respeitavam aquela doença, estavam comigo e não me deixaram cair. Me apoiei nelas com tudo. Quis me curar, primeiro pelo mei filho, depois por meu marido, meus pais, minha família e meus Amigos (porque os amigos foram se mostrando piores que inimigos...). Ver minha sobrinha, na época, com 5 anos, me abraçar e dizer que me amava e que eu era "linda, inteligente e criativa em artes culinárias" (e eu não estava cozinhando nada. nem fã de cozinha sou. Cozinho, mas preferia achar tudo pronto...). Sabe, ver aquele olhinho que acreditava tanto em mim, que me via como um exemplo para ela...me fez querer sair desse buraco. As crianças eram a luz em minha vida: Pedrinho e Alice estavam me salvando.

Vi que a vida continuava, dia após dia. Vivia 24h por dia. Cada dia, era um dia a menos (eu contava)...

Pois é. Foi muito difícil, mas tudo tem seu lado positivo: comecei a ver a vida melhor...com verdade. Se já era muito sincera, passei a ser ponderada, mas sempre franca e honesta comigo mesma, antes de tudo.

Ai, cansou lembrar de tudo e fazer um resumo tão sintético (êta, que redundância!!! mas serve para dar ênfase e ilustrar o quanto pincelei aquele período que me pareceu 300 anos de crise!).

Vou escrever mais sobre o que pesquisei. O que senti e como a terapia me ajudou. Isso será mais útil como Guia Prático. Por isso, não pretendo esmiuçar tanto as tristezas em si. Elas aparecerão, sim, claro. Viver a situação e crer que aquilo vai passar é melhor do que fingir que não está vivendo!!!

Por isso, cuidado com outro conselho: "afirmação". Isso pode alienar se não usado da maneira correta. Afirmar que tudo é passado, em tempo presente, pode dar um "tchiutchu" na cabeça e criar um problema temporal... a afirmação: "isso é passado" está errada!!! O certo é afirmar: "isso vai passar"!!!

2 comentários:

  1. Pat, minha querida, fiquei muiro emocionada com o que li, e não imaginava que sua agonia tinha sido tão grande. Desejo, do fundo do meu coração, que tudo volte `a paz! :) Bjao!!! Vivian

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  2. Vivi, foi triste mesmo. Hoje, reaprendo a viver. Vc sai de órbita mesmo. Mas, hj vejo que apostar em TUDO VAI MELHORAR UM DIA deu certo.Bjooo e obrigada!

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