quinta-feira, 30 de abril de 2009

COLCHA DE RETALHOS

Nossa vida é feita como uma colcha de retalhos, alguém já parou para se dar conta, de verdade?



Já viu uma colcha de retalhos sendo feita? histórias são contadas, passados trazidos à tona, esperança em meio ao presente. Lembranças, cobranças, transformações!



Muito de nós está preso a um passado que nem nosso é... já me referi a essa expressão como: "somos filhos de filhos, que são filhos de filhos...", onde deixo claro que sempre somos mais filhos e as consequências de nossas "criações" do que pais, de fato. Nós, então, somos o passado do passado... é isso?! Muito provável. Penso que tudo o que nos prende está no passado, ao passo que o que nos liberta está no presente, o presente da vida e de estar vivo! O futuro envolve todos os tempos anteriores. Tudo pedaços, fragmentos, começos e fins e recomeços e continuações. RETALHOS. Somos pedaços de nós mesmos. De todo, por inteiro; de cada pedaço, um pouquinho; de tudo nosso, um tiquinho; de cada parte o enfim; de cada fim, um começo; de cada começo, recomeçar! Somos todos de pedaços, por inteiro ou em partes. Somos partes de um tudo, sempre a terminar, num breve continuar.



Nada passa, tudo fica, mesmo que não nos lembremos. Tudo implica, nesse caminhar.



Não precisamos romper com o passado, só não precisamos nos ATER ao passado. Passou. De tudo que foi ruim, algo de bom existiu, você viu?! Oportunidades surgiram, senão, estaria ainda lá, num passado qualquer e igual... É, a gente nem percebe... Não nos damos conta da quantidade de coisa que existiu. Não nos damos conta da infinidade de coisas que existem. Não nos damos conta de que cada escolha, um rumo. Se não tomarmos, como sabermos? Se mudarmos...? O que mudarmos? Por que mudarmos? Continuarmos? Onde está a certeza? Todo caminho é torto, como toda decisão. Erros acontecem, natural! ACERTOS são oportunidades aceitas para renovar, inovar ou continuar.




Na nossa colcha de retalhos, somos reflexo de histórias anteriores. Sempre seremos reflexos e refletores. A todo instante, cobrados e cobradores! Como lidar com tanto peso, tanto pesar? PERMITINDO! Permissão é querer enxergar o que houve de fato. Suas dores e dissabores têm uma origem, que pode não estar em você, mas, como você internalizou? Como você se abriu para mudar o que tanto doía? Causou outras dores? Destruiu amores? Destruiu seu lar? Ou, se abriu para romper com o que doía, deixando a dor passar e sarar? Tanta gente nesse mundo vive perdida, mantendo a aparência de ter se encontrado, através de um sonho alcançado... e quantos sonhos precisou destruir, para só esse alcançar? Quantos amores rondaram? Quantos braços e abraços te entornaram? E, quantos soube aceitar?




Somos assim, ingratos com a vida. Retalhos mal cortados, e posto em qualquer lugar? Retalhos embaralhados, sem harmonia no lar? Retalhos harmonizados, fazendo a colcha completar? Não é nosso passado que nos corta, é nosso presente e como a gente se comporta. Alguém já reclamou tanto da vida, e, ao alcançar um objetivo viu o rastro de destruição que causou? E o buraco em seu peito, já tapou? Nosso passado sempre ficará aberto e atrapalhando nosso futuro, se não nos abrirmos para o melhor! Veja como está o mundo hoje? Quem não tem culpa? Somos todos inocentes? Indiferentes! Quem está satisfeito com os dias de hoje? Quem fez algo para melhorar? Um sorriso, um "bom dia", tudo isso faz diferença. Não pense você que só faz diferença algo grande. Grande é a tristeza dos dias atuais. Façamos pequenas partes, com carinho e verdade. Mergulhemos no passado (no nosso, e no dos nossos passados... e no dos nossos antecessores). Não sei se acharemos respostas, ou perguntas sem respostas. O fato é que tudo tem um outro lado. Não precisa ser Santo, nem perfeito para consertar, perdoar e se libertar. Precisa ser você! Precisa querer!



Perdoar não é fácil! Mas, se perdoar, também não. Por conta de perdões não dados, perdões temos que esperar. Por não termos nos aberto no passado, empurramos a vida em busca de um futuro, que vive preso lá. Lá atrás, onde raramente gostamos de ir, mas, que estamos lá todos os dias, afinal, nem saímos de lá. Criamos uma ilusão de que tudo está bom e pronto! Errado, certo? Só o tempo dirá. Mas, se tem uma angústia no peito. Um vazio que nunca é preenchido e você tenta ocupar com mais expectativas... nem vá... para a frente. Não dá. tem algo lá atrás que você vai arrastar. Infelizmente, não dá para voltar "duas casas" como num jogo de tabuleiro. O lance, é recomeçar. Pedir perdão é se perdoar. Perdoando, é se perdoar. Se permitindo, é se perdoar! Perdão? É se libertar. É estar aberto para aprender a amar.



Esse mês, parei muito para refletir. Por que tomo certas decisões? Por que vou e volto, tanto? Por que sempre fui tão segura e ando tão insegura? Pior, acabei vendo que sempre fui insegura, apenas por não querer acreditar. Mergulhei em mim. Vi muitas coisas. Inclusive em minha educação. Nada que bastando querer resolva, mas, dei muito peso... permiti viver o medo de errar... e, acabei errando... comigo mesma. Fugi de muitas coisas. E agora, o que faço? Fico presa a lamuria, a tristeza por ter "perdido" tanto tempo? Ou, aproveito o tempo que tenho para colocar vida em minha vida? A vantagem dos retalhos, é que tudo está aqui, só preciso remanejar. Os retalhos se juntam, como os colocamos. Novos retalhos são permitidos. Não existem regras, exceto UMA: a de se libertar!



Liberte-se do apego a dor. Liberte-se do apego ao apego. Liberte-se do apego à falta de respeito. Liberte-se!



Pais, abracem seus filhos. Amanhã, algum dos envolvidos poderá não mais aqui estar. Filhos, abracem seus pais. Amigos, irmãos, família! Se abracem, se perdoem. Se libertem. Permitam o futuro chegar. O passado ronda todos os tempos e o futuro é a colcha a bordar. Hoje é o dia da costura, então, vamos costurar! O preço de tirar o peso é menor do que o de viver a vida toda sustentando esse peso. Vamos fazer o que é importante. Para que juntar tanto tesouro, se não poderá usufruir? Também, não precisa viver sem nada deixar... ao menos, a força dentro de alguém, para continuar. Ninguém pode viver os nossos sonhos, só nós mesmos. Não posso querer que meu filho seja o que eu quero! RESPEITO! Com Pedro, estou aprendendo a respeitar. Respeitar o indivíduo que ele é. Meus sonhos frustrados e nunca antes alcançados, têm que ser vividos por mim, não por ele. Mas, quem quer enxergar isso? Quem quer deixar de ferir? A gente se acostuma achar que é melhor ferir do que ser ferido? E nos ferimos a todo instante. Quantos pais passam a vida toda só juntando, para "deixar para os filhos" e vivem, a cada dia, a angústia de penar, pensando: "o que eles vão fazer com o que vou deixar?". Meu pai é um homem, ao seu jeito amoroso. Sempre nos deu o que pôde e construiu o que pôde, sem nos deixar faltar comida a mesa, tempo para lazer e tempo para nós (seus filhos). Não fez fortuna, mas, tinha o objetivo da casa própria e alcançou. Não fazia dívidas (ao contrário de mim... risos). Fazia tudo muito bem planejado. Até os "acidentes" de percurso entraram em seus planos. Planos é para ser refeito, quando precisar ser! É um homem decente, idôneo, amado e muito querido. Sempre muito procurado pelos amigos, porque é amigo! Tenho meu pai como um exemplo de pai! Ele nunca foi e nem será perfeito, mas, se esforça para fazer o melhor para quem ama, com amor. Pode resmungar, mas, é um "hábito" de "velho ranzinza" que faz parte da personalidade dele de auto-defesa... resmunga, que só, mas, a gente sabe (porque viu em atitudes sinceras) que é da boca para fora. Tudo ele ensinou que era nosso: nossa casa; nosso carro. Nem por isso, emprestava a chave do carro... risos. E "nossa casa" não é lugar de irresponsabilidades! Deu para compreender? Alegria é importante, mas, liberdade é uma coisa, ser otário, é outra... Ele nunca foi bobo. Conciliou as dificuldades da vida com a alegria de nos ter. Ninguém disse que seria fácil, mas, ele fez a vida dele acontecer. Ralou para conseguir estudar, mas, nossos estudos, sempre pagou. Ralou, para poder, hoje, desfrutar de uma vida de prazer, viajar, curtir amigos, e sempre nossos sonhos (dentro das reais possibilidades, lógico) bancou. Nos deu muito do que não teve, porém, nunca lamentou. Pelo contrário, se realizava com cada conquista nossa e sofria com cada queda que tomávamos com a vida. Por ele, a gente estava debaixo de suas asas, protegidos, mas, ele bem sabe que não é assim. Hoje, vejo o lado de ter que correr atrás, para fazer o mesmo para meu filho. Não com as mesmas dificuldades dele, porque ele as superou, para que nós não as vivêssemos. E, tive que escutar de uma filha sobre seu pai: "é, também, meu pai deu pra gente tudo de mão beijada..." e como mais seria? Exploração infantil? Certos pais (nós todos em determinados assuntos...) acabam passando para seus filhos suas frustrações e tristezas ainda amarradas, como se os culpasse pelo que ele passou? Certo, errado? Só o tempo dirá. Escute aquela vozinha, que sempre te chama, e você nunca dá ouvidos... escute o discurso demagogo e hipócrita: "tudo para meus filhos"... se veja. Se conheça e reconheça. Se dê o prazer de sua companhia.



Às vezes, faço um exercício comigo (não sei se é certo, mas, funciona, quando descubro algo que preciso mudar em mim): "eu sou uma boa companhia para mim mesma? Será que eu me chamaria para sair? Viveria comigo a vida inteira e feliz?..." Se coloque de fora e se veja. Você se casaria com você? Teria filhos com você? Faria planos para o futuro com alguém como você? Você sentiria prazer em sua companhia? Ora, não culpemos os outros por nossas infelicidades! A nós cabe viver nossas vidas. A nós cabe escolher o caminho a seguir. Não podemos obrigar ninguém, nem mesmo um filho, a nos seguir. Ser pai e mãe é saber doar e dividir o filho com sua própria vida, porque ele terá a sua própria vida! Como aceitar? Com dor? Eu não quero dor nem na hora de minha morte! Quero que todos vejam o lado positivo: eu, mesmo em meio ao meu divisor de águas, chamado DPP, quis crescer e ser melhor. Eu fiz uma criança linda, saudável e perfeita! Que diz que me "ama apertado" todos os dias, e com um sorriso enorme no rosto, mesmo após ter me visto chorar pelas dificuldades e gritar com ele, por falta de paciência... ele me dá carinho sincero, porque seu amor por mim está acima de minha cobranças. Ele me dá amor, porque, apesar de minhas angústias, ele sabe que eu o amo. Ele me dá amor, porque sabe que, um dia, ainda me amando profundamente, seguirá o rumo dele e eu o apoiarei, no conflito de dor e força. Ele me ama, porque toda criança é verdadeira e vê aquilo que nós, ex-crianças e ainda seres infantis, deixamos de enxergar, através dos olhos do coração. A razão é para nos guiar, mas, o coração, a emoção é que nos impulsiona.







Vamos continuar a tecer nossa colcha de retalhos, porque ainda há muita história para contar. Há muito presente para viver... só não há muito futuro para esperar. A gente nunca sabe o dia de amanhã!



Voltar lá, mergulhar em si e perguntar: "daqui para frente, é melhor mudar ou continuar?"



Responda a si próprio! Isento de culpa, cobrança, certeza, razão, orgulho, empafia. vaidade... apenas com a sinceridade existente em nossa alma, em nosso íntimo. Não podemos mentir para nós mesmo. Podemos até sustentar um fingimento, mas, sempre sabemos e sentimos que algo está fora do lugar. Hora de arrumar! É mais simples do que parece. Difícil é se manter escondido, isso requer mais energia do que a leveza de ser quem se é!



Construir um mundo melhor, depende de quem mora nele! Cada um de nós! COLCHAS DE RETALHOS - UMA VIDA EM FORMA DE HISTÓRIA A CADA BORDADO! UNIÃO É VIDA! ENTREGA E DEDICAÇÃO! A VIDA É FEITA SOZINHA? NEM NÓS FOMOS FEITOS SOZINHOS... QUEM DIRÁ CONSTRUIR UMA VIDA.

PS - se alguém puder assistir ao filme COLCHA DE RETALHOS, eu recomendo. Faça um paralelo com sua vida e a das pessoas que ama. Verá que muito de hoje, é consequencia de um passado mal resolvido e de presentes mal vividos... Nosso futuro é mergulhar em nós mesmos e termos coragem em assumir nosso amor, por nós mesmos, para nós mesmos em primeiro lugar. Ninguém define nosso caminho. Mas, podem caminhar conosco, ou encontrar lá adiante... Quando o vento da mudança chega, ele, aparentemente destrói... destrói o que não cabe mais, mas, constroe a oportunidade de (re) começar. Voltar de onde parou e (re) começar a andar. o Tempo é nosso melhor mestre!!!



Beijos em cada um,



Pat Lins

segunda-feira, 27 de abril de 2009

DEPOIS QUE A GENTE VAI, O QUE FICA?



A vida! Ah, a vida! Ávida,a vida!


No último sabádo (25/04/2009), mais uma pessoa querida partiu. Enquanto nos dávamos conta de que a "ficha não havia caído", me peguei refletindo. Existem pessoas que partem e que a gente até aceita melhor... mas, existem pessoas que farão falta. Parece que existem pessoas que parecem que nunca vão "morrer", de tão vivas e alegres que são. E, como chorar a partida de alguém que sempre fez todo mundo rir? Alguns que passavam, ñão entendiam, o que seus amigos faziam num bar, se o corpo estava sendo velado? Ora, eles comemoravam o que as lembranças e o gosto de Tonho pela bebida! Eles riam e choravam sua existência e sua partida. Ali, familiares e amigos de todas as idades sofriam e lembravam. Por que criticar aquele momento de comemoração e despedida? Amigos de mais de 30 anos, queriam lembrá-lo. Cada um ao seu modo. Nem todos queriam beber. Todos queriam ele ali, com certeza!


No velório do meu querido e saudoso amigo, Jonatas, poesias foram recitadas, suas músicas favoritas, canatadas em capela... não era alegria, era dor, era lamento, mas, alegria de saber que ele deixou vivos os seus caminhos, seus passoas, até ali.


No de Tonho, pessoas riam de suas piadas e seus "causos". Hahaha, como não rir daquele homem, de tão branco, ficava vermelho, ao contar os "causos" da Petrobrás. E ele, amava repetí-los. E nós, riamos como se fosse a primeira vez que escutávamso! Ele era um grande amigo do meu pai, mas, conquistou a todos nós. Era irreverente e alegre. Sabia organizar um encontro de amigos, onde todos ficávamos à vontade. Todas as idades juntas. Era muito bom.


Eu, em meu enterro, quero alegria. Que nada de me velarem como se eu não tivesse trazido algo de bom... a dor da perda é muito grande, para ainda a aumentarmos em morbidez, peso e lamentos pela partida.


Vi, nesses últimos acontecimentos tristes, o lado positivo que a vida sempre nos dá e que meu querido amigo, o Mestre Jayme Sodré me falou, no tributo a Jonatas, que fizemos, no programa de rádio: "morrer, nunguém morre. Não alguém que tenha um curriculum vivo. Quando você olha o que a pessoa fez em vida, ele não morre! Ele parte e deixa o que construiu...". Concordo!


Isso me fez ver outra coisa: nunca devemos deixar para amanhã... pode ser tarde. Dizer EU TE AMO. Disfazer mal-entendidos. Reconstruir uma destruição... enfim, estarmis juntos de quem amamos e NÃO MAIS PERDERMOS TEMPO COM MELINDRES! Depois, bate aquele arrependimento, do tipo: "poxa! quanto tempo perdi!" E PERDEU mesmo! Pais, mães, abracem seus filhos, lembre-se que são parte de você. Sucesso é tê-los ao seu lado. Fracasso, é lamentar, tarde demais! Filhos, amem e respeitem seus pais e mães. Amigos, família, todos se levantem e digam a alguém que ama. Para quê vergonha? Pior é lamentar tarde demais!


Vamos pedir desculpas. Vamos agradecer! Vamos perdoar! Vamos conviver em paz! O tempo sempre passa, leve o tempo que passar, sempre temos algo a consertar. Para quando chegar o tempo de partir, poucas coisas nos arrependamos... e muita coisa boa lembremos.


Em "Enseada do Segredo" esses dramas de conflitos são descritos e vi o quanto nossa mente aprisiona por "tão pouco". Pouco, se comparado com o infinito de oportunidades que a vida nos dá. Lógico que certas consquencias são danosas e frustrantes, mas, o que é maior? Essa dor, que devemos deixar passar, ou a leveza de superar e se abrir para algo melhor e mais rico? Tudo em nossas vidas são lições. Basta a gente ler. Basta a gente mergulhar com prazer ma vida e se entregar a essa sensação de sempre poder ir além, e agradecer por não estar sozinho.


Meus amigos, um com 57 e outro com 58 anos, partiram! Dois em 1 mês! Mas, lição para uma vida pela frente! O que eles deixaram? Muita vida! Muita construção. Não me refiro a herança material... isso, fica o que cada um tiver... matéria é para isso. Mas, falo da construção de VIDA PESSOAL. Falo de edificações de idéias, conceitos e estilos de vida. Falo de viver acreditando em algo proveitoso!


Falo de viver além do orgulho que aprisiona e da insensatez que derruba e destrói. Falo do prazer da libertação pelo amor. Quem não ama? Você pode negar da boca para fora. E da boca para dentro? Em seu íntimo? AMOR. AMAR!


Que Deus os receba de braços abertos!


E, para quem ler, não é para sofrer, é para correr!!! Corra e diga que ama. Ninguém deve virar santo, também. É perdoar de coração, é permitir que o melhor supere o pior. Que a luz espante a escuridão e que a tristeza da ausência se encha de presença, ainda que distante, mas, presente. Amanhã, pode ser tarde. Hoje é a oportunidade de um amanhã mais vibrante e melhor.


Depois que a gente vai, o que fica?


Pat Lins

em homenagem a Firmino (também conhecido como "Tonho Banha" - foto: ele, a filha e o (a) netinho (a) - o que partiu, e o que chega... "todos os dias é um vai-e-vem, a vida se repete na estação, tem gente que chega pra ficar, tem gente que vai...") e Jonatas Conceição

dois amigos, duas partidas, um mês, duas lições que ficam!

Que Deus os tenha!

AMOR VERSUS INDIVIDUALIDADE, por Flávio Gikovate.

AMOR VERSUS INDIVIDUALIDADE

"Ao longo do segundo ano de vida a criança vivencia enorme avanço em suas competências: aprende a andar, a formular as primeiras frases, aprimora suas aptidões motoras etc. Se até então seu maior prazer era ficar no colo da mãe, usufruindo da paz e aconchego similar ao que foi perdido com o nascimento e sentindo por ela aquilo que chamamos de amor, agora ela gosta também de circular, especular o ambiente, tentar entender para que servem e como é que funcionam os objetos. Coloca quase tudo que encontra na boca, tenta sentir seu tato, observa o que acontece quando deixa que caiam no chão. Dá sinais de grande satisfação a cada nova descoberta. Está praticando os primeiros atos próprios de sua individualidade – e se deleitando com eles.

Tudo isso acontece na presença da mãe. Sim, porque se ela for para um outro local, a criança imediatamente abandona o que está fazendo e sai em disparada atrás dela. O mesmo acontece se levar um tombo: corre chorando de volta para o colo. Diante da dor física ou da iminência de distanciamento exagerado da mãe, a sensação de desamparo cresce muito rapidamente e aí torna-se absolutamente necessária a reaproximação. Há, pois, uma clara alternância de preferências: estando tudo em ordem, o que a criança quer é exercer os prazeres da sua individualidade em formação; ao menor desconforto, busca no aconchego materno (amor) o remédio para todas as dores.

Não há como não compararmos nossos comportamentos ditos adultos com o que acabei de descrever: queremos exercer nossa individualidade com a máxima liberdade, mas queremos voltar para casa e encontrar o parceiro à nossa espera. Ficamos bem longe da pessoa amada por algum tempo, mas depois o desejo maior é o de nos aconchegarmos; se isso não é possível, sentimos a dor forte correspondente à saudade (mistura de abandono com lembrança do calor que advém da companhia). Temos a nosso favor o benefício de um imaginário mais rico e a capacidade de nos comunicar à distância graças aos recursos tecnológicos: nos sentimos aconchegados, mesmo estando longe, graças às palavras e juras de amor.

No convívio íntimo, parece que queremos mesmo é encontrar uma fórmula capaz de conciliar amor e individualidade: quero, por exemplo, assistir ao programa de TV do meu interesse e quero que minha amada esteja ao meu lado, se possível bem agarradinha. Ela, também interessada no aconchego, poderá tentar achar graça, por exemplo, no jogo de futebol que tanto me encanta. Mas talvez não consiga e aí começam os problemas. Ela se afastará, indo em busca daqueles que são os seus reais interesses individuais. Eu me sentirei rejeitado, abandonado e mal amado; tentarei pressioná-la com o intuito de fazer com que volte. Ela, prejudicada em seus legítimos direitos, se revoltará e a briga (chamada de “briga normal dos casais”) será inevitável.

O homem é, ao mesmo tempo, a criança e a mãe. O mesmo vale para a mulher. Querem exercer sua individualidade, mas sem se afastar muito um do outro. Lutarão pelo poder, para definir quem irá impor o ritmo e a programação. Por maiores que sejam as afinidades, sempre irão existir atividades que são do interesse exclusivo de um dos membros do casal. A fórmula tradicional – homens mandam e mulheres obedecem – não funciona mais (felizmente).

O que fazer? Só há um jeito: o crescimento emocional de ambos para que a dependência típica do amor infantil se atenue. Que cada um consiga se sentir em condições de exercer suas atividades, de modo a liberar o parceiro para fazer o mesmo."
Dr. Flávio Gikovate (psicoterapeuta)

www.flaviogikovate.com.br

terça-feira, 14 de abril de 2009

"ENSEADA DO SEGREDO", de Morgana Gazel.






Ignorar não é não saber; há um saber além do conhecimento obtido através da razão
(Morgana Gazel)



"Enseada do Segredo tem como foco uma mentira familiar e se situa num subúrbio imaginário do nordeste brasileiro, no período da ditadura militar. Frederico, o protagonista da história, ignorava tanto a mentira familiar como a realidade por trás da ordem estabelecida em seu país. Mas, o que lhe era negado conhecer, Frederico pressentia... como se algo errado houvesse em torno de si. Ambas mentiras interferindo em sua vida. A narradora, Morgana Gazel, leva o leitor através de uma trama instigante em que os dramas humanos são revelados em dupla perspectiva: a de quem agiu e a de quem foi envolvido na ação. Desse modo, os personagens não são separados em categorias distintas de bons e de maus. Todos atuam sob o comando de sua humanidade. Porém, não basta revelar. Aquele que se importa com seus iguais arrisca-se a sugerir caminhos. É o que a narradora faz, através da tendência subliminar, em seu relato, para favorecer a vida, os bons costumes e a conscientização de direitos e deveres. O livro apresenta, portanto, um aspecto educativo. O que se justifica; pois a educação é uma condição necessária a uma condução mais harmoniosa do homem no mundo. Enseada do Segredo é um romance com cunho psicológico. " (Morgana Gazel)


Eu li e, através da narrativa, o leitor é levado à reflexão de maneira leve e tranqüila. A linguagem é direta e simples, suavizando o conteúdo profundo. O livro toca as mentes e os corações jovens e adultos, buscando a “humanização do homem” em cada conduta, diálogo e ação dos personagens. Trata-se de um mergulho em nós mesmos. Um caráter exploratório aparece refletido nesse processo de escolha e tomada de decisões. Fazendo com que cada leitor se reconheça e sinta o desejo real de se buscar e conhecer. Nos deparamos com conflitos emocionais sobre julgamentos, medos, certezas, decisões, mudanças... VIDA.
Vi que na vida, tudo sempre tem outra perspectiva, o que sempre dá uma saída, uma solução para o problema, e não criar outro... como romper com o passado, com as "cobranças" alheias, se, nós mesmos também cobramos, julgamos e condenamos o tempo todo? Mergulhar em nós mesmos pode assustar, no início, dá sensação de que vamos perder o fôlego, mas, como Fred, precisamos assumir riscos e nos permitir crescer. Romper com a imaturidade, ainda que através de um impulso... o que começou errado, não quer dizer ERRO, tudo pode se acertar. A hipocrisia que nos ronda, onde, ao vivermos situação semelhante a que julgamos em outrem, se vê em nosso caminho, e repetimos o que acusamos de erro no outro. E aí?! Será acerto, só porque fui eu quem tomou a decisão? Os outros sempre errados e culpados e nós, sempre certos e isentos de culpa? Só nós somos vítmas, ou vitmamos outros? Ir, ficar, voltar... antes que causemos alguma explosão no "cadinho" de nossas vidas, coloquemos a cautela, o cuidado, a humildade, a tolerância, como substâncias vitais, e, na temperatura certa, evitaremos grandes explosões e destruições. Tudo na medida certa, respirando e deixando passar, fica melhor.

Uma leitura recompensadora. Muitas vezes ficamos com "receio" de adquirir um livro de autor "desconhecido" e deixamos passar boas oportunidades. "Enseada do Segredo" é uma dessas oportunidades. Vale muito a pena ler, se "refrescar", se deliciar com ele e consigo. Acabamos nos identificando e reconhecendo certas atitudes nossas nele e, se deixarmos nossos corações e mentes serem tocados, aprendemos muito sobre nós e nossa condição humana. 

Eu amei esse livro! Li o romance e as entrelinhas.
Quem quiser mais informações: http://morganagazel.blogspot.com.br/
Pat Lins

segunda-feira, 6 de abril de 2009

MASSACRANTE FELICIDADE DOS OUTROS - Martha Medeiros


Massacrante felicidade dos outros

(Martha Medeiros, gaúcha, 44 anos, Jornalista e Poeta)



"Ao amadurecer, descobrimos que a grama do vizinho não é mais verde coisíssima nenhuma. Estamos todos no mesmo barco. Há no ar um certo queixume sem razões muito claras.

Converso com pessoas que estão entre os 40 e 50 anos, todas com profissão, marido/esposa, filhos, saúde, e ainda assim elas trazem dentro delas um não-sei-o-quê perturbador, algo que as incomoda, mesmo estando tudo bem. De onde vem isso?


Anos atrás, a cantora Marina Lima compôs com o seu irmão, o poeta Antonio Cícero, uma música que dizia: 'Eu espero/ acontecimentos/ só que quando anoitece/ é festa no outro apartamento' .

Passei minha adolescência com esta sensação: a de que algo muito animado estava acontecendo em algum lugar para o qual eu não tinha convite. É uma das características da juventude: considerar-se deslocado e impedido de ser feliz como os outros são, ou aparentam ser. Só que chega uma hora em que é preciso deixar de ficar tão ligada na grama do vizinho.


As festas em outros apartamentos são fruto da nossa imaginação, que é infectada por falsos holofotes, falsos sorrisos e falsas notícias. Os notáveis alardeiam muito suas vitórias, mas falam pouco das suas angústias, revelam pouco suas aflições, não dão bandeira das suas fraquezas, então fica parecendo que todos estão comemorando grandes paixões e fortunas, quando na verdade a festa lá fora não está tão animada assim.


Ao amadurecer, descobrimos que estamos todos no mesmo barco, com motivos pra dançar pela sala e também motivos pra se refugiar no escuro, alternadamente. Só que os motivos pra se refugiar no escuro raramente são divulgados pra consumo externo. 'Todos são belos, sexys, lúcidos, íntegros, ricos, sedutores, social e filosoficamente corretos. Parece que ninguém, nenhum deles, nunca levou porrada. Parece que todos têm sido campeões em tudo'.


Fernando Pessoa também já se sentiu abafado pela perfeição alheia, e olha que na época em que ele escreveu estes versos não havia esta overdose de revistas que há hoje, vendendo um mundo de faz-de-conta.


Nesta era de exaltação de celebridades - reais e inventadas - fica difícil mesmo achar que a vida da gente tem graça.


Mas tem: paz interior, amigos leais, nossas músicas, livros, fantasias, desilusões e recomeços, tudo isso vale ser incluído na nossa biografia. Ou será que é tão divertido passar dois dias na Ilha de Caras fotografando junto a todos os produtos dos patrocinadores? Compensa passar a vida comendo alface para ter o corpo que a profissão de modelo exige? Será tão gratificante ter um paparazzo na sua cola cada vez que você sai de casa? Será bom só sair de casa com alguém todo tempo na sua cola a título de segurança?


Estarão mesmo todas essas pessoas realizando um milhão de coisas interessantes enquanto só você está em casa, lendo, desenhando, ouvindo música, vendo seu time jogar, escrevendo, tomando seu uisquinho?



Tenha certeza que as melhores festas acontecem sempre dentro do nosso próprio apartamento. "


Tia Marleide, amei o texto! Primeiro pelo seu carinho, segundo, por ser um texto da Martha Medeiros, que descreve o cotidiano interno das pessoas com tanta simplicidade e facilidade!


E vale como reflexão para todos nós!
Pat Lins.

sábado, 4 de abril de 2009

PARTIDAS, DORES E CONTINUAÇÕES

Há quem diga que estamos na vida para viver, como se não houvesse amanhã!

Há quem diga que devemos viver, como se nunca fôssemos morrer, ou como se fôssemos morrer amanhã.

Há quem diga que apenas se deva viver.

E há quem vive.

Há quem vive sua vida, que apesar de ter tido um início triste e difícil (já que as palavras, por mais que descrevam, sempre resumem e diminuem o peso e intensidade das situações. Nas palavras, a lágrima é descrita, mas, não se pode secar. O choro é mudo, ainda que descreva como se é chorar. A dor, é explicada, não se tem como mensurar...) dedicando cada segundo à mudança, a um objetivo maior. "Seu Jonatas" era/É assim. Menino de origem humilde, mas, que nunca cessou de buscar a mudança. Hoje encontrou a paz (Deus o receba de braços abertos, conforme meu pedido teocêntrico,mas, que Oxalá o envolva, segundo suas próprias crenças e dedicação de vida), mas, deixou o mundo sem a paz que ele sempre brigou.

Jonatas dedicou vida a viver. Estudou muito, e pedindo licença, faço meu simbolismo de suas escolhas: estudou Letras Vernáculas, ensinava o poder e a força da educação; da língua que falamos como necessidade para expressão. Fazia, através de suas poesias, a descrição de sua infância e desse mundo racista e preconceituoso, mas, que veste o véu do fingimento e da hipocrisia que fere, onde "não, somos todos irmãos". Jonatas era/É sincero até a alma. Apesar do jeito sempre direto e, muitas vezes duro "entende?!", ele falava e qualquer pessoa sempre sabia o que ele estava pensando. Ele não perdia tempo "falando pelas costas", era Homem, para assumir o desafio, Guerreiro para aguentar a batalha diária. Menino, negro e pobre, é uma combinação muito comum, e desrespeitar essa combinação é mais comum ainda. Mas, isso não é CERTO, nem natural. A discriminação, o racismo, o preconceito, a supremacia de uma classe que se impõe e, por serem incapazes de lembrar que são gente, tratam aos outros como bichos, como animais. Sendo que nem aos animais devemos tratar dessa maneira punitiva e excludente. O animais que dão voz e vez a atitudes medíocres e terríveis do racismo, esses sim, mereciam punição, justiça e castigo, para sentir na pele o que já fizeram a tantas pessoas, e ainda fazem, pelo simples prazer de manter uma porcaria chamada PODER, que transforma seres humanos em mutações humanas, em seres hibridos, que ninguém sabe onde começa ou termina o homem e começa ou terrina essas aberrações poderosas. Esses monstros conseguem,a cada dia, a cada segundo, destruir a vida de milhões de crianças e sonhos. Jogam os negros nas sarjetas, para que eles nunca saiam de lá e eles não vejam a escória criada e manipulada pela brancura do PODER MALDITO e DO CAPITALISMO FATAL.

Mas, sonhos, são sempre sonhos e quando eles se tornam ideais e se fortalecem, constituindo-se em base sólida na vida de um desses meninos pobres, negros e excluídos, abrem-se as portas para as oportunidades que esse povo acha que fechou. Povo sim. Porque os poderosos também são povo! Um povo podre, mas, povo!

Aprisionam a classe baixa e pobre em postos de saúde insalubres, institutos educacionais norteados pela ausência de informação e educação... a prisão sem celas de uma vida oprimida, como um campo de força gigantesco que não se vê, não se toca, mas, se limita a seu diâmetro, porque ele é quase real. Essa força só é quebrada quando se percebe que se pode ir além e exigir os DIREITOS DO CIDADÃO, que é constituído em Lei e essa lei fica "protegida" por quem? Por eles,a supremacia podre! Como mudar? Elegendo quem possa fazer, não quem continua. Tirar todo mundo que está e não recolocar quem já passou. Vamos renovar. Colocar o equilíbrio das cores étnicas sentadas lado a lado em prol de uma sociedade mais justa e real.

Jonatas, através dos estudos e de seu trabalho, dedicou-se a viver a vida. A vida militante do Movimento Negro (que muita gente troce o nariz. Provavelmente, um narizinho fino - em muitos casos por processo cirúrgico...), vida de dedicação a inclusão social a através de educação e cultura. Sua vida É uma vida de trabalho e batalhas. Até o fim, ele foi um Guerreiro em batalha para se manter vivo. E, apesar de sua partida, sua vida se mantém: em cada palavra, em cada livro, em cada projeto elaborado e implantado a "duras penas", em cada ação sincera, justa e honesta, "entende?!". Hahaha, com certeza ele acharia meu texto muito "leve", ele teria dito mais, em menos palavras e com muita profundidade.

Seu Jonatas andava sempre em passos curtos, como quem está sempre em busca de andar, ouvir, falar e refletir. Sentava-se sempre de maneira que seus ouvidos estavam virados como uma antena a captar. E seus lábios sabiam abrir na hora certa. Falava e calava. Voltava a pontuar. Sua voz era baixa e muitas vezes gaguejava. Seu jeito de falar é sempre forte, mas, entrecortado, "entende?!".

Aprendi com ele muita coisa, até a não querer ser como ele - risos. Mas, no fundo, ele tinha razão. Ele falava, se expressava e eu sempre sabia o que ele pensava de mim. Aprendi que mais vale uma palavra seca, direta e de fato, do que palavrinhas melosas e veladas, encobrindo a cinismo e a falsidade... Seu Jonatas era o super sincero. Se estivesse "errado", estaria super sinceramente errado, mas, ele sabia o que pensava e todos ao seu redor também. Difícil era demovê-lo de uma idéia... poderia aceitar, a muito custo e sob muita pressão - risos - mas, se a nova idéia fosse boa, ele sabia reconhecer sim.

Em sua magreza, muita força de vontade; em sua alimentação sempre saudável, a saúde da força; em seus cabelos "dreads", a representação gráfica de um dos penteados afro, sim, porque não?!; em sua maneira de vestir, "vestia a camisa" da causa de sua vida: a luta contra o racismo; em seus conhecimentos, a arma para se vencer a batalha - INFORMAÇÃO, EDUCAÇÃO E CULTURA, sempre com a bandeira da honestidade e da justiça. Era um homem justo e bom. Muitos não entendiam aquele jeito dele, mas, era evidente: um menino sofrido, que virou um homem guerreiro, mas, o menino estava sempre lá, fazendo sofrer as lembranças e viver as mudanças. Jonatas estava sempre atento para nos chamar atenção, mas, quando menos esperava, ele mesmo, que nos tensionava, deixava escapar uma piada ou comentário (muitas vezes ácidos, mas,sempre inteligentes) que, quando viamos, estávamos rindo. Ele sorria e passava a mão pelo cavanhaque, como quem, ainda no momento de descontração, estava pensando. Acho que Seu Jonatas era um eterno pensador e ele é um eterno pensador, porque em seus poemas e livros, parte desses pensamentos estão vivos e eternizados em palavras. Essas palavras que limitam, mas, se esforçam para descrever o que o coração e/ou a mente precisam dizer. Ele falou pela voz de povos esquecidos e que, por serem pacíficos e acomodados à realidade em que vivem, são banalizados, excluídos e ignorados. Ele fala pela voz dos sem recursos, dos pobres pretos e analfabetos. Falou pelos quilombolas, pelos negros, pelas mulheres. Ele falou pelos injustiçados. Mas, os "injsuticeiros" não se abalam. Do alto dos altares podres do poder, os poderosos não temem, porque acham que não dando, não vão perder. Mas, ai deles, que não devem ser poupados e sim punidos, por não dar, para não perder, o que, de fato, nem deles é, é nosso, é vosso, é de todos nós: DIREITOS!

A educação fomenta o conhecimento, mas, é necessário muito mais para se conhecer, que não é só saber, é, principalmente, saber o que fazer com o que se sabe e/ou se conhece. INFORMAÇÃO, CONHECIMENTO, SABER, BUSCA isso alimenta a alma e dá forças para empreender uma boa mudança, uma mudança do saber, pelo saber, uma mudança com emoção e com razão, uma mudança de equidade, tudo pela igualdade. Sem temor de perder e ganhar. Uma mudança de somar e multiplicar entre todos, sem dividir, só partilhar! A Educação que me refiro é a educação de verdade, não essa superficialidade que nos impõem e querem que aceitemos, onde quem quer mais, sofre retaliação e é tido como "louco" ou "anormal". Fácil demais taxar!

Daí, Jonatas ser tido como era: militante fanático. Prefiro ver que ele sempre foi fã, fã de uma vida justa de verdade. Fã do negro, como ser humano também e merecedor de justiça e RESPEITO. E, cá entre nós, há respeito para com as classes que não sejam ricas, nem brancas, nem masculinas e muito menos adulto? Basta ser pobre, preto (se for mulher ainda é pior), criança ou idoso para sentir na pele o poder da chicotada voraz dos "senhores" do poder. E quem dá esse poder? Somos nós! vamos dar poder a quem merece. Vamos abrir espaço para juízes, médicos, advogados... negros competentes e qualificados. Vamos criar oportunidades de qualificar esses cidadãos. Jonatas era editor do Caderno de Educação Pedagógica do Ilê, e desenvolvia diversas atividades sempre voltadas para essa fonte de alimentação: educação e cultura. Enquanto o Carnaval na Bahia, em Salvador, principalmente, só existe 1 semana, os blocos afros que são escondidos pela imprensa, mas, são procuradíssimos pelo "folião" (o que, para mim, gera uma interrogação gigantesca em minha mente:como um espetáculo tão belo e tão procurado pelos turistas, não recebe destaque na imprensa... não tem acesso a patrocínios, nem os que "sobram " escorrem dos blocos comerciais os procuram?! Que profissionais de marketing mais furrecas esses, dessas empresas... furreca sim! Devem receber um salário bom, prêmios e destaques... tudo superficial, porque ganham sem receber nada além de um reconhecimento por um trabalho "bonito", mas, que só ajudou a aumentar a rendas das empresas. E o cunho social? Será que é tão errado e ingênuo esperar que todos os profissionais de marketing e comunicação desenvolvam um vínculo maior ou, ao menos, ter um cuidado com o social? Patrocinar um bloco afro, não é uma maneira de associar a imagem de determinada empresa ao carnaval, é associar a imagem a instituições que dão aula em forma de show e de culutura. É associar a imagem da empresa a educação e cidadania por todo o ano, não só 1 semana de destaque e posterior esquecimento. Um bom plano de marketing deveria ter um tópico assim: COTA DE PATROCÍNIO A INSTITUIÇÃO CULTURAL BLOCO AFRO XXXX, INVESTIMENTO NO ESTUDO E EDUCAÇÃO DAS CRIANÇAS,... e muito mais. Chega de procurarem essas instituições para monografias, acreditando que se faz uma permuta: "vai gerar visibilidade para o bloco". Não gera. Gera nota para o aluno ou equipe e pára por aí. Ninguém foi levar algum projeto para ser tocado lá, foi?! Apenas os que já fazem parte da região... enfim, vou fechar o parêntese e retomar a linha.), existem o ano todo. Não é em micareta não (não sou contra as festas, devem haver sim, o que me refiro é ao desequilíbrio. Quem é que não gosta de ver o ensaio do Ilê, por exemplo? Ou do Olodum? E conhecer os outros como Malê Debalê, Okambi... e tantos outros) é em salas de aula, em espaços de inclusão social e agora, com muito esforço, inclusão digital. É levar portas para essa juventude e abri-las!

A partida de seu Jonatas me fez ver que de fato basta estar vivo para morrer. Ele partiu, mas, seus ideais serão tocados e continuados, ainda que com a dor de sua partida, a vida dos vivos continua. E com certeza, ele queria isso, que déssemos continuidade. O "Tambores da Liberdade" (programa de rádio) vai continuar, como ele sonhou, idealizou e manteve. E foi nesse tempo de convivência, que aprendi a admirar aquele homem, que de início assusta, pela postura aparentemente arisca, mas, que de perto, é o mesmo menino que deve ter curtido as praias de Saubara, apesar da ausência de luxo. Vou colocar um post aqui abaixo, alguns poemas dele, para deixá-lo vivo em minha lembrança e nesse meu cantinho, onde guardo o que aprendo com minha vida e a experiência de vida dos meus, e Seu Jonatas, "entende?!" me ensinou algumas coisas, que farei questão de lembrar.

Meu amigo, que você encontre a paz e que um dia, esse mundo de Deus, alcance a paz em vida, não só na hora do descanso.

Fica aqui meu sentimento de tristeza e minhas lágrimas, pela dor e perda de alguém tão especial!


Pat Lins


de Jonatas Conceição

AS SAUBARAS INVISÍVEIS

Chega-se a Saubara pelo caminho do mar.
Às velas, barcas velhas velejam rumo à baía.
Viagem de gentes, trapos, mercadorias,
Odores repelentes que recendem tumbeiros
Travessia de longínquas noites
(Aquela viagem era uma eternidade!)
que ao vento cabia a tarefa de um porto feliz.
Chega-se a Saubara por via de muitos rios
Do rio para o mangue, do mangue-rio para o mar.
Caminhos do leva-e-traz mercantil
Ao porto de amaros negócios
Percurso de antigos navegantes
Fundadores do eterno dar-se saubarense
Desbravadores de restos da flora e fauna do lugar.
Chega-se, finalmente, a Saubara pelo primado da fé.
Seus marujos e rezadeiras procuram, há muito,
o caminho da salvação.
Seus filhos e netos, há pouco, descobriram outros caminhos...
Procuram, pela novidade alheia, desesperadamente,
outra cidade inventar.
Os perseguidores da fé a tudo ver B oram choram
(A São Domingos que é de Gusmão que nos vele)
as chamas das velas revelam.

(Jonatas Conceição)
GINÁSIO
No mar das saias plissadas
meu olhar quse infantil apenas via pernas brancas
no ICEIA não descobri o amor
o pecado reinava em mim
fiz o que a minha pequenez permitiu:
descobri o vasto mundo das palavras
afoguei-me nas eternas emoções do brincar
e para sempre aprendi que as palavras
carregam ilusão.
(Jonatas Conceição)

sexta-feira, 3 de abril de 2009

PRECE DA SERENIDADE

Deus,

concede-me serenidade para aceitar o que não posso mudar,


coragem para mudar o que posso mudar e


sabedoria para perceber a diferença.

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