terça-feira, 18 de setembro de 2012

TEMPO, COMUNICAÇÃO E RELAÇÕES PESSOAIS



Tenho a sensação de que as pessoas, em geral, andam muito tensas... Sentem-se solitárias e abandonadas... Querem atenção e mais atenção. Cobram essa atenção e é um desafio mensurar onde está a necessidade de socialização e a necessidade de individualização.

Certos casos, as pessoas deveriam se voltar mais para si e se entenderem como seres únicos. Olha, vi uma cena no filme "Happy Feet 2" - o filme todo é lindo e com uma mensagem delicada e bem feita do poder da união e sobre as interligações, na vida, que a gente até desconhece, mas, elas existem - que vale a pena ser vista, onde um krill, chamado Will questiona o cardume e o amigo, Bill, afirma que eles são todos iguais e são um cardume. Will diz: "eu sou único!". Daí, ele decide nadar até o "fim do mundo", que, segundo ele, deve ser no final do cardume. E vai, rumo ao desconhecido. 


Isso falta na gente. Em Will, falta algo além do querer ir... ele vai motivado pela raiva de ter que seguir o grupo. Uma revolta. Porém, vai. Decide que vai se permitir e experimentar tudo. Ele, em um momento afirma: "se eu terei que morrer, mesmo...". No final, ele sente falta do grupo. Após tanto buscar, conhecer novos mundos, lutar pela sobrevivência, ele se depara com a solidão. Ele se vê querendo partilhar aquilo com os outros. De repente, se encontra com o grupo e com Bill, seu amigo que seguiu até um momento, até ser expulso por terem desenvolvido uma amizade mais íntima e ele, Will, sugeriu que aquilo fosse um desejo amoroso... Não soube entender que o amigo estava se sentindo só e com medo e ele era seu ponto de força para continuarem. Assim, ele pede a Bill que se separem. Para Will, Bill o atrapalhava. Nesse reencontro ele descobre o benefício de uma amizade verdadeira e pergunta a Bill: "como você encontrou o cardume?" e Bill responde: "Eles é que me encontraram". Sempre seremos encontrados por nosso grupo se o buscarmos e se entendermos seu sentido em nossa vida. Will aprende isso em sua jornada solitária, onde, sozinho, nada faz sentido... Não existe um depois para planejar. Foi importante ele ir, se auto-afirmar, depois, soube "voltar" no reencontro. Mais humilde e sábio, ele afirma que não tem nada a passar aos outros, que cada um deve seguir sua vida e não ele dizer o que cada um deve fazer. Bill o lembra: "Agora, você é nosso ídolo! Você nos ensinou que é preciso evoluir e mudar a espécie, para sairmos da base da cadeia alimentar...". Nossa evolução não se trata de um ato isolado. Tudo que fazemos repercute em mais alguém. Isso nos leva a entender que podemos e devemos fazer mais e ir além, sem menosprezar ninguém.

As relações estão cada vez mais pautadas em cobrança ao outro e menos em dedicação. Algumas pessoas - sejam casadas, namorando, solteiras... - carregam uma solidão de alma e nunca se contentam com nada, porque não carregam a si próprios. Daí, vivem em busca de algo que preencha seus buracos. Só que cada ser preenchedor também tem lá os seus afazeres e, na vida, de tempo em tempo, os tempos mudam, as pessoas mudam e necessitam de tempo novo para o novo tempo. 

Vejo, cada vez mais, revoltas e falta de paciência. "Eu mando mensagem, ela não me responde". Conversava com uma amiga sobre isso, hoje. Ela me contou do episódio de duas amigas que estão brigadas por conta da falta de comunicação. Isso acarretou no afastamento. Uma delas, adora mandar mensagem de texto. A outra, não é hightech, é mais "olho no olho", "me ligue", no máximo. A primeira não aceita a segunda e não tem paciência e "tempo" para falar ao telefone, prefere mensagem. A segunda, quase não dá atenção ao celular. Como estabelecer uma boa comunicação? Existem pessoas que têm essa característica de não apego tecnológico, limitação, dificuldade em manusear... isso existe. Mas, a que ponto estamos dispostos a nos colocar no lugar do outro, como o outro? Se colocar no lugar do outro pensando com a própria maneira de ser é julgamento de valor. Essa amizade vai acabar por isolamento das partes, por falta de comunicação efetiva e má vontade das partes. Reconhecer as próprias limitações e que, como nós, os outros também têm as suas, pode ser um bom começo. Elas poderiam descobrir uma maneira onde ambas se encontrem. Se necessário fazerem a viagem cada uma para o seu lado, como Will, Bill e o cardume. Só seria interessante um diálogo mais aberto, franco e desarmado. Sem peso. Sem drama!

Muitas separações, rupturas são abruptas, sem exercício de consciência, sem tentativa em se estabelecer um contato claro. Em geral, acontece na hora errada, pelas exigências erradas e pelas posturas inflexíveis. Se o clima está tenso, melhor dar um passo par trás...

Tempo é receita certa para tudo. Respeitá-lo é questão de cordialidade consigo e com o outro.

Engraçado é que não são apenas os outros que nos cobram. Nós também cobramos. Nós também requeremos atenção. Fico intrigada com as posturas unilaterais de colocações sobre o outro, que exercemos, e pouco nos permitimos enxergar - sem justificativas - que também nós estamos cobrando. "Ah, estou com saudade. Você não me liga...". Sim, e aí? O que pode ser feito: ligo eu. "Pode falar?" Beleza. "Agora não...". "Então, ligo depois.". Um dia encontra. Há uma certa crueldade nossa em exigir que o tempo do outro seja como o nosso e no nosso, exigimos que respeitem. Já me vi fazer isso. Já me vi ser cobrada. Já cobrei. Hoje, compreendo mais. Isso me afasta temporariamente de alguns amigos. Não uma DS - distância saudável -, mas, uma questão temporal, mesmo. Em alguns momentos estou com a mente tão cansada que preciso de tempo sozinha para me recuperar. Sou eu, em mim. Já aconteceu de não estar disponível e ser tachada de "se afastou de mim"... Gente, nos melindremos menos. Respeitemos mais o nosso tempo e o tempo do outro, leve o tempo que levar. Aí, fica aquele clima: "Só eu que te ligo... não vou ligar mais. Você que me ligue...". Tá! Tudo bem. O tempo do outro segue e o seu, também. Vai deixar morrer uma amizade por isso? Onde está a comunicação - sem a cobrança? Existem fases de ajuste ou reajuste de vida que levam uma eternidade. Vai condenar o ritmo da pessoa? Francamente! Isso, para mim, é falta de amor próprio, de se sentir acolhido de verdade... Certas escolhas alteram as proximidades, como casamentos, filhos, doenças, trabalho, estudo, viagem... Reencontrei uma amiga de infância após 15 anos. Nos falávamos virtualmente. No reencontro, parecia que havíamos nos despedido ontem. Têm coisas que são reais e acontecem. A gente vai se ajustando. Não se trata do tempo de amizade, do tempo de convivência, mas, da junção dos nossos tempos em todo o tempo. Existe o global, mas, existem as partes. A construção do caminho. Encontros, desencontros.

Me preocupa esse rumo da humanidade... Pessoas solitárias em busca de atenção excessiva. Falha de comunicação para se manter esses elos unidos. Quando um vínculo existe, não quer dizer "vamos viver grudados". Todo mundo tem sua necessidade e tempo individual e necessidade e tempo social. Orbitamos aí o tempo inteiro. 

Sei lá... não sei lidar muito bem com essa questão, ainda. Não sei como entender o porquê das pessoas terem essa dificuldade. Hoje, aprendi a substituir dificuldade por DESAFIO. E desafio é a vida diária. Nada deverá ser difícil, mas, desafiador. Lidar com o tempo é um desafio. Lidar com o respeito ao tempo do outro, ainda que desejemos muitos estar com essa pessoa é desafio. 

Comunicar não é só falar... é agir. É estar claro. É haver entendimento daquilo que está dentro de um para que o outro possa compreender o que não está visível. Sou eu dizer: "Poxa, estou sem saber como lidar com tanta coisa que vem acontecendo em minha vida... Não estou te ignorando, mas, estou vivendo meus limites.  Nisso incluem ligações... só de pensar em pegar o telefone me dá um coisa...". Quem nunca passou por uma fase onde falar ao telefone se tratava de um esforço enorme? Uma coisa tão simples... é só atender e dizer "alô". Nem sempre. Em determinados momentos outras demandas requerem nossa atenção e maior dedicação.

Eu fiz minhas escolhas e lido com elas. Interajo com meus amigos. Pecamos, também, pela ausência vez ou outra. Às vezes bate aquela solidão que só um ombro amigo consola. Mesmo assim, sei que o meu tempo não é o dele. Isso não me chateia, de forma alguma. O sentimento passa, também. 

Me preocupo como as pessoas vêm conduzindo suas vidas... como algumas pessoas temem quando outras entram numa relação amorosa, por medo de perder um amigo... Perde-se o tempo disponível. Um dia chega o tempo dessa pessoa se envolver... E aí? É natural que nossas escolhas nos levem a novos caminhos. Novos caminhos exigem tempo de adaptação. Esse tempo é "acronológico", que fique claro. 

Temo por essa tensão atual das relações. Em plena era da informação e do tal "conhecimento" e tão pouco se sabe em profundidade... Tanta tecnologia e tanta barreira... A dificuldade está em cada um. O desafio é mais responsável em si. O desafio nos lembra que estamos inseridos no processo... portanto, nós é que dizemos se é difícil ou possível.

Um dia, mesmo após nosso momento de ida rumo ao desconhecido, conhecer, explorar... ampliar o horizonte é adquirir experiência;  crescer, depois, regressar. O reencontro com seu grupo é que dá sentido. Ver-se parte de um todo é magnífico! Saber que se é único e ímpar é saber-se, conhecer-se. Idas e vindas fazem parte. Expandir horizontes é isso: a cada dois passos que damos em sua direção, ele afasta dois passos. O que precisamos entender é que a vida é movimento e ir além, sem saber onde chegar definitivamente. Chegamos em vários lugares e nem nos damos conta; nem olhamos de um panorama geral. 

Respeitar o meu tempo e o do outro é a melhor maneira de comunicar: ESTAMOS JUNTOS, LEVE O TEMPO QUE LEVAR, AINDA QUE ESTEJAMOS SEM TANTO CONTATO. Quem não aguenta esse afastamento e não respeita são a carência, o orgulho, o melindre e a ignorância. 

Pat Lins.

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