sexta-feira, 21 de setembro de 2012

"EDUCAR É, ANTES DE TUDO, CONSCIENTIZAR" - Por Morgana Gazel



Isto significa que conscientizar se insere em todo o processo educativo. Vejamos. Proponho que educar é envidar ações que levem o educando a tomar conhecimento e fazer uso das condutas necessárias a seu desenvolvimento físico; a reconhecer seus padrões construtivos e destrutivos e a lidar com eles de modo adequado; a distinguir seu papel nas relações interpessoais; a se tornar ciente de seus direitos e deveres no âmbito social; a perceber que o aprendizado intelectual é um instrumento imprescindível à aquisição da liberdade de pensar e da capacidade de fazer escolhas adequadas; por último, a se dedicar a este aprendizado.
Esta concepção de educar é apenas um detalhamento baseado numa definição do Aurélio, que diz: Educação é o processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral da criança e do ser humano em geral, visando à sua melhor integração individual e social.
Se atentarmos cuidadosamente no que proponho como objetivos das ações educativas, veremos que a família tem um papel preponderante na consecução deles. Somente os dois últimos exigem a participação da escola, embora ela deva contribuir para que os demais sejam igualmente alcançados.
Ora, os pais, em sua maioria, não têm condições de cumprir todos os requisitos referentes a seu papel de educadores, pois não foram suficientemente educados. Se o filho bate em outra criança, eles se mostram compreensivos, caso contrário ficam furiosos. À noite, horário em que geralmente os membros da família têm oportunidade de interagir, uns se ocupam assistindo à TV, outros no computador. E assim segue a vida.
Se a criança chega à escola com pouca ou nenhuma educação doméstica, terá grande dificuldade de se adaptar ao novo ambiente, principalmente porque grande parte dos professores não está preparada para lidar com aluno difícil. É bom lembrar que os docentes podem também ter tido uma família incapaz de exercer satisfatoriamente o dever de educar. A coisa toda se complica ainda mais, quando um deles toma uma medida, às vezes correta, com a finalidade de corrigir uma conduta deseducada, e os pais do aluno em questão revoltam-se e o agridem. O prejuízo do professor será apenas o mal-estar, o do aluno será provavelmente jamais se tornar um verdadeiro cidadão.
Os efeitos das falhas no processo educativo alastram-se em toda a sociedade, vai até nossos governantes; muitos deles certamente vieram de lares e escolas que falharam neste aspecto. Como consequência, chafurdam no exercício da não cidadania e, portanto, não têm nenhum interesse em mudar tal situação.
Que fazer então diante desta realidade? Você deve estar perguntando-se, caso tenha tido a sorte de ser educado adequadamente. Difícil responder. Mas tenho sido assaltada por um sonho louco, no qual todos os verdadeiros cidadãos contribuem de alguma forma para educar pelo menos uma pessoa fora de sua família. No futuro deste sonho, nossos bisnetos são os pais, e o mundo é um lugar bem melhor de se viver.


NOTA: Artigo publicado no jornal A Tarde. Salvador – Quinta-feira, 19/7/2012. Imobiliário, página 6.


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