"Quando está com raiva tem o direito de estar com raiva, mas isso não lhe dá o direito de ser cruel"William Shakespeare
Ah, a raiva! Oh sentimento pouco compreendido e, por assim ser, tão imperativo, intempestivo e ácido!
Quantos de nós finge não tê-la e tanto se faz uso dela... "A raiva é um sentimento ruim... a gente tem que falar um monte de coisas boas para ela nem se aproximar...". Quem dera fosse simples e fácil assim!
O que mais me espanta em nossa tensa relação com esse sentimento é o medo que temos dele e o quanto esse medo o alimenta. Uma pessoa, certa vez, me disse: "Você está com medo ou com raiva? É melhor sentir raiva do que medo...". Alguém consegue ter noção do alcance dessa frase? Não que a gente escolha o que sentir... sentimento a gente sente. Administrar esse sentimento é que se trata de usar a razão e fomentar a base moral das virtudes para que se faça a harmonia, através da razão e da consciência. Assim eu penso. O medo nos afasta da capacidade de ver as saídas. A raiva é explosiva e não fica instigando para olhar para ela. Ela explode mesmo e não está nem aí... O medo não, ele é envolvente, silencioso e com voz mansa, para não nos afugentar. Em verdade, nenhum dos dois é coisa boa. Quem de nós não os trouxe em seu pacote de configuração humana?
"Não é bom sentir raiva!". E quem não sente? O auto-controle não necessariamente é lidar com a raiva, é contê-la, embarreirá-la. O auto-conhecimento, a auto-busca, sim, esses são capazes de diluí-la em meio à luz da consciência. Mesmo assim, nada a impede de emergir. Se conhecer, se buscar e se ajudar colabora no aspecto preventivo, onde, ainda que a situação externa detone o botão de acesso a raiva, se o ambiente pessoal estiver em boas condições de arejamento mental, de abertura pessoal para as soluções, de compreensão, respeito e paciência - ou seja, base de formação moral firmada em bons valores -, todos os assuntos interpessoais sem pendência e em dia... ela explodirá mas não causará efeito devastador ou corrosivo. O impacto será amortizado pelo ambiente do bem estar consigo. E o questionar "o que está por trás dessa raiva?", "como faço para deixá-la ir?" fortalecerá a base e diluirá, no tempo certo, essa emoção negativa e pesada.
Todo mundo já percebeu que emoção densa invade e machuca pelo peso que trás. Emoções leves, boas, positivas - reais - reconhecem a existência do negativo - afinal, todos nós temos os dois lados e isso não nos torna monstros em admitir esse axioma, senão, essa verdade e o lidar conscientemente com esse lado sombrio é crescer -, a acolhem e fortalecem nossa imunidade contra esse ataques de maneira efetiva: transmutando-a. É praticamente um processo químico em meio ao processo abstrato emocional.
Todos têm predisposição à raiva! Não existe esse que não tenha... Nem que seja raiva por uma injustiça. Ainda assim, não se trara de um bom sentimento. Uma pessoa mais forte emocionalmente, moralmente formada e virtuosa na prática diária - uma pessoa evoluída - se refaz do ataque com rapidez e honestidade , lidando com a existência real dessa emoção e deixando-a seguir seu caminho, liberando a tensão e diluindo através do processo racional. Existem pessoas com capacidade de explodir mais rápido e externalizar essa emoção dentro de si. Outras, represam tanto que os olhos explodem e os lábios correm o risco de deixar de existir depois de tanta mordiscada... A capacidade de "conter" a raiva não nos torna capaz de lidar com ela.
Desde que assumi para mim que alimento muito a raiva com meus medos, entendi que entrei no caminho para ter acesso ao caminho que me conduzirá, um dia, ao caminho de conseguir lidar efetivamente com essas emoções mais baixas. Ah, detalhe, isso faz com que ela exploda cada vez mais. É uma catarse... uma prova de fogo atrás da outra. Então, hoje, quando me vejo com raiva - sim, existem momentos em que não nos damos conta, através de nossa capacidade de justificar tal sentimento - procuro entender o que me levou a sentí-la. Me pergunto "o que essa raiva quer me dizer?", "o que está por trás dessa emoção?", "como faço para permití-la ir". Papo de doido? Pode ser. Requer tempo e ambiente favorável. Isso é uma parte do lidar com essa emoção. O mais importante é se alimentar de pensamentos bons, sem deixar de reconhecer em si os ruins, mas, questioná-los à luz da sabedoria que existe em nossa essência, lá dentro de nós, bem em nosso âmago... lá, onde a gente insiste em sufocar a vozinha que nos guia para e pelo caminho do bem. É. Essa voz que ignoramos constantemente e que muitos afirmam escutá-la e se dizem preparados para lidar com a raiva porque sabe que ela não faz bem... na hora H, ou represam ou explodem através de outras ações, como se desviar o foco resolvesse a questão.
O antídoto natural para lidar com a raiva - porque impossível eliminá-la, a não ser que seja um Jesus Cristo, que veio nos mostrar que só através de uma vida virtuosa e pautada no Bem Maior podemos ser melhores e ninguém segue seus passos como Ele ensinou... me diga, quando Jesus se deparava com alguém "torto moralmente" o que Ele fazia? Virava a cara e dizia: "Este aqui, não, irmãos... Nem se aproximem para não se contaminar... ele é do mundo..." ou, veio Ele ao mundo para salvar todos nós dentro ou fora de religião? E pregou Jesus em nome de uma religião em específico?... - pois bem, para "curar-nos" após a explosão, em qualquer proporção, de raiva, só sendo uma pessoal do Bem, virtuosa. Uma pessoa que rega sua semente e sua horta de bons pensamentos todo dia, principalmente, depois de ter agido de maneira impulsiva e, em vez de se culpar e se martirizar, assume um papel redentor de si e recomeça. Somente o poder do Amor, da compreensão, do respeito a si e ao outro - principalmente, no entendimento de que cada um tem seu tempo, seu ritmo - e na paciência que essa sequência naturalmente conduz, são capazes de neutralizar o efeito radioativo da raiva. Isso a impede de explodir em algum momento? Segurá-la entre os dentes, num ato desesperado de não tornar aparente aos outros essa emoção a faz deixar de existir em si e de detonar a pessoa por dentro? A questão é LIDAR com a raiva. E a gente só é capaz de lidar com aquilo que identificamos. Para identificar: ver.
Acho que nos ensinaram tanto a "não pode ter raiva... isso é ruim... isso é pecado" que esqueceram de dar a receita do bolo de bondade que a gente come e automaticamente mata tudo de ruim dentro de nós... Até - ou, principalmente - quem mais espalha essa informação tão "nova" de que raiva é ruim e faz mal precisa se desconstruir dessa armadura superficial e entender que raiva é real, densa e profunda. Ir lá no fundo, se buscar e se entender ajuda a ir cortando suas raízes e cada vez mais temos menos espaço para ela dentro de nosso jardim pessoal. Isso é arejar nosso lar interior: nós mesmos. Não adianta se colocar como superior e arrogante, o oposto da raiva são os sentimentos nobres e leves, e estes não comportam orgulho, vaidade e essa gama de coisas pequenas e ínfimas em nobreza e enormes, densas e profundas em poder de destruição. O amor, por si só, é humilde. Não se gaba por glórias, nem as deixa de realizar. Apenas cumpre seu dever humano de encontro consigo. À medida que nos aproximamos mais de nós mesmos, da nossa essência, mais distante ficamos de acessos de raiva. À medida que nos ajudamos, mais leves ficamos.
A raiva é sinal de que algo em nós requer cuidado. Não nos culpemos: somos demandas demais para toda uma vida! É capaz de morrermos tentando ser alguém melhor. Isso já é uma boa maneira de morrer, consciente de que se esforçou e se colocou a caminho de si. Só assim encontraremos a Verdade sobre Deus. Eu penso que Ele fala com nossa essência. Com nosso Eu mais elevado: equilíbrio entre razão e emoção. Na paz do encontro da gente com nosso Eu de verdade: quem somos! Só com esse caminho aberto, nosso coração será nosso guia real, porque seremos luz divina em essência, em pureza, em verdade!
Só construindo esse caminho rumo a nós mesmos podemos nos ajudar e nos encontrar! Só assim, sentimentos inferiores - porém necessários em nossa escalada rumo a nós mesmos... eles são alertas de que algo está fora do lugar - serão transformados em seus opostos. Eu penso que essa nossa bipolaridade, dicotomia, lado sombra e lado luz... seja um alerta ao equilíbrio. Após equilíbrio instalado, após (re)encontro com nossa pureza d´alma eles deixam de existir. Tudo tem um motivo para existir. E nossas emoções querem seguir o sol, mesmo que, por vezes, precisem ser sombras das nuvens ou molhadas pela chuva. Nada existe em nós por acaso. Eu ainda não sei muito bem lidar com essas emoções mais densas, mas, já sei que estou em desarmonia comigo... e não precisa explodir uma delas para saber... eu já sei. Estou em fase - há muito tempo e pode levar ainda outro muito tempo - de desconstrução. Fase de refazer-me. Fase de plantar novas sementes, de colher furtos do que já fora plantado, fase de ir em busca de ajuda para semear novas sementes... é um processo dinâmico, como a vida, porém, sem agitação. O dinamismo deve ser separado da afobação, da ansiedade e da agitação como sinônimos, por favor!
Preparemos nosso solo amado e pessoal. Plantemos. Reguemos. Colhamos. De cada raíz fincada, erguem-se troncos e polpas. Dure o tempo que durar, as raízes são nossa origem, nosso caminho rumo ao interior, caminho de retorno a si. Mas, nossos frutos alimentam. Nosso pólen nos levam a posteridade e a novos lugares. Somos humanos e temos a capacidade de ir e voltar, porque o reencontro é um retorno. Por mais longe que sigamos, o retorno, quando nos permitimos honestamente, cira um caminho próprio, que não tem explicação lógica, muito menos científica, é Vida! Tempo como seu aliado abre esse portal. Não pegamos atalhos, pegamos O caminho rumo a nós mesmos! Isso é cura: reencontrar-se! Sejamos mais felizes a partir de agora! A raiva precisa de compreensão! Acolhamos cada sentimento nosso. Vamos dar o devido carinho a nós mesmos!
PS - pensar assim ainda não me torna uma pessoa evoluída... eu, como qualquer ser humano, estou em processo e isso requer tempo e tempo e tempo.
"Guardar ressentimento é como tomar veneno e esperar que a outra pessoa morra."
William Shakespeare
Pat Lins.
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