sábado, 10 de março de 2012

DESAFIO: COMO LIDAR COM AS PESSOAS QUE AMAMOS?


De todos os desafios que tenho tido a oportunidade de encarar - bom... os mais pesadinhos estão ao final da minha lista, mas, a Vida vive trazendo-os à tona... uma dia, me fortaleço, os encaro e os supero - um dos mais difíceis consiste em saber lidar com as pessoas que amamos. Daí, a necessidade d´eu, sobretudo, saber lidar comigo. Pelo visto, a máxima de Jesus é verdadeira: "amai a teu próximo como a ti mesmo". Enquanto não soubermos lidar com nossas sombras, elas imperarão. Enquanto elas imperarem, não saberemos lidar nem com quem amamos, nem com que não amamos. 

Portanto, como compreendi - ainda não internalizei, nem assimilei de verdade -, com uma grande amiga, a escritora Morgana Gazel, o melhor caminho é pelo amor. Quando aprendemos o que é o amor, o que é amar e como faz bem alimentar esse nobre sentimento e viver nele, distribuindo-o, fica mais fácil lidar com qualquer pessoa, principalmente, conosco.

Não tenhamos medo de nos dar amor. Incutiram em nossas mentes que nos amar é pecado. "Pecado" é o egoísmo, a ambição desmedida, o orgulho, a falta de escrúpulos, a avareza, a inveja, a hipocrisia... e, acima de tudo, o medo do medo de ser feliz. A privação da felicidade, para mim, é o maior pecado do mundo! E, para se viver a felicidade, a verdadeira, a real, não tem outro caminho: conhecer e viver as verdadeiras virtudes. Sabe qual sentimento alimenta a todas? O AMOR. Amor não é só entre casal, não. Pelo amor de Deus, amor é saber amar. É entender que se doar é um movimento pessoal e esperar nada em troca, porque só o fato de se doar com o coração aberto já inclui o movimento de dar e receber, porque, pelo que entendi, quanto mais amor - o de verdade - se der, mais ele volta e enche quem o emama com ele mesmo. É como se ele não saísse e deixasse quem o doa vazio, pelo contrário, quanto mais ele é dado, mais ele enche quem dá. Veja o quanto é diferente do material que estamos acostumados a "doar"... quanto mais doamos, menos temos, porque o que é matéria não se divide e se multiplica ao mesmo tempo. Já o amor, esse sim, é pleno e a plenitude faz com que ele saiba se doar, sem esperar que devolvam algo, ou "paguem" por estarem recebendo. Ele se completa de tanto ser dado.

É muito difícil aprendermos a viver esse sentimento em sua forma plena, porque ainda somos muito apegados aos erros dos outros, à culpa dos outros, ao egoísmo  - ao qual chamamos de amor próprio... e, na verdade, é puro orgulho. Engraçado é que nos é passado que egoísmo é "feio" e o que mais nos ensinam é "como ser um egoísta e dar um nome bonitinho a ele, para que ninguém saiba que és um". Olha, essa base hipócrita que crescemos é muito complicada. Por isso é tão difícil lutarmos. Não somos como um herói de filme que, no geral, só combate o "mal" que existe fora. Nós, humanos e mortais, precisamos combater o mal que existe dentro de cada um de nós + o mal que existe fora de nós. Os heróis das histórias vivem só, porque, em sua maioria, a convivência com eles é um perigo. É como se o "amor" pelas pessoas mais próximas fosse uma "falha", uma "fraqueza", uma porta aberta para o ataque. O que não deixa de ser uma mínima parte de verdade. Mas, será que isso não nos quer mostrar, também - ou, inclusive - que o nosso maior desafio é sabermos lidar com as pessoas que amamos? Sabemos respeitar o direito de escolha dessas pessoas? Sabemos e aceitamos que amar é deixar livre, para que possam exercer o direito de fazerem essas escolhas? Será que um filho morar longe dos pais é falta de amor? Será que só podemos ser felizes se vivermos debaixo das asas físicas da nossa família? 


Quando assisti "Comer, rezar, amar", pensei: "não acredito que vou assistir esse filme comercial...". Mas, ele veio parar duas vezes em minha mão e decidi me dar a chance - lembrei de algo que falo e não estava fazendo: "para saber se um livro é bom, não julguemos pela capa, leiamos até o fim" e eu ia deixar de assistir ao filme por preconceito - orgulho... me coloquei como acima de quem o fez e da mensagem que poderia haver ali. Lógico que, em filme, tudo parece ser tão fácil, sem esforço algum, só diversão. Dimensionei num tamanho muito maior: minha vida. Vi que teria dificuldade, primeiro, em me permitir. Vi que o medo de "ir" rumo ao sonho me deu medo. Medo, medo mesmo. Itália! Comer, se alimentar, sem culpa. Se alimentar de ótimas companhias, de momentos inesperados, deixar os gestos falarem, deixar o corpo falar... Estar numa terra distante e sem falar o idioma e sozinha - sem pessoas conhecidas. Pior: sem dinheiro. Daí, vi que, para mim, a felicidade vem num carreto e que podemos comprar, até, numa loja virtual... Fazer acontecer é um desafio e tanto e leva ao caminho para a felicidade. Mas, ainda não era tudo. Vi que falar está além de verbetes e palavras... está no querer se comunicar. Saber se expressar com clareza é ter a clareza do que quer dizer. Índia. Meditar. Ficar zen. Como estar tão alegre e, de repente, ter que parar e se ver por dentro e sentir tanta dor, fúria, raiva, culpa, medo? Para quê refletir, se refletir dói? Para quê se perdoar se se manter culpado e culpando é tão "bom", não requer esforço, é só se deixar dominar...? Bali. Nossa, encontrar Ketut! Ter a oportunidade de escrever no livro da vida dele, como se todo mundo compartilhasse da mesma história; como se o livro da vida fosse simples e não páginas apenas em branco... como se para aprender, precisássemos aprender o que já existe e descobrir como atravessarmos a nossa vida. "Atravessiamo"! Quando a personagem falou uma coisa simples, fui superubermegahipertocada: "às vezes, precisamos nos afastar das pessoas que amamos..." isso não diminui o amor, muito menos, que não queremos mais estar com essas pessoas, mas, existe tanta coisa na vida, e há tanto espaço para amarmos que nem sabemos como usar essa capacidade, justamente, porque nos ensinam a vida toda que não devemos amar a todos, afinal, tem muita gente má, lá fora! E ela aprendeu a trocar: se dando e recebendo aquilo que precisava. Aprendeu a ajudar, a olhar para quem precisa de algo, também, e, entender que, amar requer todo tipo de doação. Não vou aprofundar muito nessa parte... é meio, bastante, muito delicada. Voltando ao filme: quando ela se afastou das pessoas que "amava", ela pôde se deparar consigo. Depois de um tempo, a personagem havia percebido o quanto ela era como as pessoas que "amava". Quem era ela, afinal? Quais eram seus sonhos, antes de se "aprisionar" à normose? Ser normal requer de nós essas atitudes muito limitadas. Ir além pode ofender, magoar, irritar, perfurar o estômago, destruir alguém que amamos, porque, esse alguém que amamos nos quer tanto para si que nem percebe que não sabe nos dar amor; não sabe amar; não sabe se amar! Essas pessoas - nas quais me incluo - dependem da carência própria e alheia para se mantererem vivos. É difícil ver alguém que "amamos" seguir um caminho que não nos inclua ao seu lado, né verdade? 

Enfim, saber lidar com essa situação é gritar um "atravessiamo". E atravessar juntos, algumas vezes, quer dizer: você está em meu coração, mas, seus planos são X e os meus Y e, nessa reta de minha vida, nossos pontos físicos não se cruzam, ao menos, não no sentido de estar junto e grudado. Ir junto pode ser num simples e sincero "estar junto, ainda que afastado fisicamente". É estabelecer a conexão do coração. É saber e respeitar que cada um tem um rumo a seguir e que "ir" não quer dizer "adeus" para sempre. Nosso egoísmo nos dimue muito. Podemos ser tão mais, se nos abrirmos para o Amor. Olha, esse trio quer me ensinar tanta coisa... Vida, Tempo e Amor querem nos levar para o caminho das pedras, para o "kalos kai aghatos" ou o caminho do bom, do belo e do justo; ou, como afirma Aristóteles, o "justo meio". Ah, esse caminho aí que a gente fala tanto e se afasta tanto e cada vez mais! Mas, é tão difícil esolher e se manter nesse caminho... o descontruir faz subir muita poeira e isso é incômodo, sim. Por que negar? O esforço também causa dor.

O filme me pareceu falar sobre as delícias da vida: comer, rezar e amar! Vivendo de maneira honesta e aberta, nossa, saborearemos o que há de melhor no cardápio de nossas vidas. A felicidade deve ser um manjar dos deuses! Sem a gula, claro. Tudo com equilíbrio. Ser feliz é tão diferente de ser egoísta. Nem vou falar dos atores, porque, nossa, eles dão um show!

Então, "ATRAVESSIAMO". Nossa, até falar essa palavra é bonito! Vamos alimentar nosso corpo, nossa mente, nosso espírito e, porque não, o prazer sadio, a alegria de viver e usufruir dos momentos únicos. Vamos nos permtir nos conhecer. Vamos nos permitir conhecer muito mais do bom da vida! Todo mundo tem medo de alguma coisa. ATRAVESSIAMO!

Pat Lins.

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