terça-feira, 20 de março de 2012

AGORA, NÃO DÁ...

Sinceramente, eu não entendo uma coisa - dentre várias... - o porquê das pessoas - principalmente, as mais próximas, até, algumas mais amigas - reagirem tão mal, quando não temos o "tempo" que elas precisam/querem. Compreendo que num momento de dor, a gente quer ser acolhido, ouvido... mas, isso não pode nos tirar o bom senso e a capacidade de compreender que nem todos estão com disponibilidade - seja pela razão que for - e isso não é falta de carinho.

Eu costumo ouvir muito os outros e com certa frequência, meus amigos me procuram, porque sabem que sou sincera até demais... Estou me esforçando para saber lidar mais com isso, afinal, todo excesso é sobra. Têm momentos que a pessoa só precisa desabafar e quer alguém apenas para escutá-la. Outras vezes, pedem "conselho", opinião, etc. Eu parto do princípio que amizade é troca e toda troca requer abertura de ambas as partes. Abertura de coração, com entrega d´alma, com vontade de estar e resolver. Eu tenho muita sorte com os amigos mais próximos, principalmente por pensarmos muito parecidos nesse aspecto e não haver uma cobrança deliberada de "me dê atenção". Nos momentos de carência - coisa muito natural - nos abrimos e procuramos nos acolher. Entretanto, quando algum deles não tem o "tempo" que preciso, não tem estresse. Do mesmo jeito, quando eu não tenho esse tempo, eles compreendem, numa boa. Mas, têm coisas que acontecem e que esse "tempo" muda na escala de prioridade de cada um. Isso varia da abertura dessa relação.

O que eu fico chateada é quando acontece com algumas pessoas, d´eu estar envolta com "como" resolver meus problemas do momento e, de fato, estar desgastada com o processo e não tenho reserva suficiente de forças para dar o apoio que essa pessoa precisa. Me utilizo da clareza e falo, com jeito e carinho, que, naquele momento, infelizmente, não posso dar a atenção necessária e eu não sei apenas fingir estar, eu gosto de estar. Eu penso o seguinte, se fui procurada - como todo amigo procura um amigo que confia - eu gosto de estar, de fazer parte. Se eu fingir, esse círculo de entrega não acontece. Esse laço na amizade fica frouxo. Não haverá o calor humano para acolher esse amigo, muito menos a força que ele precisa. Porque, o que eu entendo é que essa troca é uma troca de forças, de energia, mesmo. Não falo que seja um mais forte do que o outro e sim de que, quando estamos nos sentindo esgotados, um apoio amigo é, além de reconfortante, revigorante. Sim, o que me incomoda quando acontece d´eu não ter esse tempo não é não ter o tempo, é não ser compreendida. Algumas pessoas que conheço são assim: quando estão bem, estão longe, vivendo e seguindo sem dar sinal de vida; quando estão com problema, surgem e querem que você se desdobre, porque ela precisa. Isso, para mim, é egocentrismo. Seja uma pessoa amiga ou, apenas uma pessoa próxima - sem necessariamente estar na categoria AMIGO - sabe que eu me doou com prazer e carinho sinceros. Mesmo assim, alguns, nesses momentos, se doem e jogam suas dores para cima de mim. Não creio que isso seja justo com nenhuma das partes. 

Uma amiga sempre me disse que "uma amizade deve suportar as verdades" e eu concordo plenamente. E isso não quer dizer que haja uma "verdade" que sobreponha a outra. Apenas que cada um tem sua concepção e suas próprias "verdades". E não tem como dizer que a há 100% de neutralidade em escutar um amigo, porque, eu duvido muito. Por mais que tentemos, sempre estamos em posição de julgar. O legal é quando detectamos que somos assim, como todo ser humano, e aprendemos a lidar, administrar essa emoção em nós. Mesmo assim, nunca ouvimos sem ter uma opinião formada ou em formação. Não tem jeito, é meio que resultado da interação. Eu penso assim: "se não quiser ouvir, melhor não falar". Ou, deixar claro: "só preciso botar para fora". E ter isso claro em si.

Eu não sou do tipo grude e não gosto de grude comigo. Mas grude é uma coisa, é um sentimento doentio. E as pessoas "grude" são craques em grudar na hora inapropriada e, como é uma característica do "grude", só andar com o "se tocômetro" desligado, nunca vê, ouve, sabe ou tem a menor noção de que invadiu o sinal vermelho. Putz! Eu tenho uma teoria prática que observei em minha vida e exercito a aplicação que é a "teoria da interseção", onde existe um perímetro ao meu redor que é o meu espaço individual; o perímetro do outro que é o espaço individual dele; e um perímetro que se trata do encontro desses, vamos chamar, mundos. Eu chamo de "zona de encontro social", que faz parte da nossa característica de sobrevivência, que são as relações sociais. Somos individuais, convivendo com outros seres individuais. Isso gera a convivência. Se viver é uma arte, conviver, nem se fala. Nesse espaço de interseção, lógico, há uma estremecida, afinal, dois ou mais mundo se encontram. Naquele espaço há troca, mas, há limite. O problema - bem como a solução - da convivência está aí: respeitar os limites. Muitas dores e sofrimentos são desencadeados por essa falta de respeito que, em minhas observações empíricas e muito pessoais, são oriundas da falta de respeito e conhecimento do próprio espaço individual. Ou seja, "como respeitar aquilo que não reconheço em mim?". E, aliado ao melindre da porcaria do orgulho e do egocentrismo "buuuummm" em vez de encontros, as interseções tornam-se colisões graves.

Para mim, a coisa é simples, porém, não é fácil: autoconhecimento; voltar-se a si; conhecer-se; amar-se; respeitar-se; respeitar. Isso diminuiria a zona de ação do gérmen da separatividade que o orgulho,  o egocentrismo e os sentimentos da estupidez alimentam. Não cobraríamos mais  de ninguém, nem criaríamos expectativas. Enxergaríamos o real e descolaríamos o nariz do umbigo. Viu, simples assim?! Somos capazes dessa proeza?

A arte da convivência requer muita cautela, muito carinho, muito zelo, muito cuidado, não melindre e mentes ignorantes que semeiam a estupidez de não saber compreender. Mais uma vez, eis a COMPREENSÃO. Volto a reafirmar um pensamento meu: compreender não envolve ver apenas o meu lado e alegar "me compreendam". Compreensão requer uma visão holística, requer que se vejam o todo e as partes - concentração e atenção. Isso é exercitado se admitirmos que existem outros EU´s andando por aí, além do nosso EU. Existem vários indivíduos.

Isso tudo só para eu desabafar que, do mesmo jeito que eu entendo sem dor, que meu amigo não teve tempo para mim, porque, naquele momento ele precisa do tempo dele para ele; eu preciso que algumas pessoas entendam que eu, também, tenho essa necessidade do meu tempo para mim. Têm dias que não tenho "tempo mental", mediante esgotamento natural de minhas forças vitais e preciso "recarregar". Isso me impede de agir, inclusive, resolver assuntos sérios. Eu, hoje, acredito que tem hora para tudo. Posso até "perder" ou "deixar passar" uma aparente oportunidade... Melhor do que virar um estorvo em minha vida. Eu? Eu mesma! Estou em busca é de abrir frentes. De me tornar cada dia menos densa. Até conseguir ser leve. E, sinceramente, não sei o porquê de algumas pessoas não entenderem meu lado... Não penso de pensarem como eu penso, mas, respeitarem a MINHA maneira de pensar. Por que eu posso compreender e o ser que exige compreensão, não se esforça para fazer o mesmo?

Olha, isso me faz exercitar a tal da paciência, também. Mas, até ela tem limite. Eu não sou a "dona da razão", mas, se tem uma coisa que voltei a fazer e cada dia com menos culpa é deixar bem claro até onde a pessoa pode chegar. E, minha ficha já caiu para uma coisa certa: se a pessoa se doer, é ela com ela mesma. Pode parecer frieza e indiferença, mas, se gente não entender que não pode mudar o outro, apenas a nós mesmos, sempre seremos vítimas de nós mesmos. E, se a gente não entender que estabelecer nosso espaço é algo saudável e não egoísmo, das duas, uma: ou nos tornaremos egoístas e nos fecharemos em ostras; ou, não teremos nossa individualidade preservada com equilíbrio e serenidade. E, reforço, se o outro não entende isso, ele precisa se encontrar, porque querer invadir o espaço alheio e não querer ser freado pelo limite da zona de encontrp social já é abusar da boa vontade. Como tem gente que é incapaz de entender isso, por diversas razões e todas provenientes do próprio egoísmo - afinal, adoram invadir, mas, detestam a sensação, fruto da própria fantasia doentia, de estarem sendo invadidos... - não nos resta outra alternativa a não ser estabelecer com firmeza e sem culpa o espaço limite.

Gente, têm horas que estamos cansados; repensando; mudando... planejando... vivenciando.. e precisamos de todas as nossas forças nesse processo. Quem não se permite viver a própria vida, se deliciando em conhecer-se, aventurando-se em desbravar-se e entendendo que ainda assim é humano e vai cansar, terá que repor as próprias forças, sentirá raiva, dor, desgaste e afins... essa pessoa nunca compreenderá que há quem se permita e viva assim: conhecendo-se. Fora que essa pessoa não entende que não dá para "comprar" o seu problema, que por mais que um amigo dê ombro, apoio, ouvidos e, até, palavras, só ela mesma pode resolver o próprio problema, tomando uma decisão e seguindo, agindo. Olha, esse é um grande problema para os que não entendem isso. Além de não assumirem a responsabilidade da própria vida e não quererem sair dos ciclos viciosos que se encontram, ainda querem que um amigo o faça. Essa falta de consciência é um entrave enorme em qualquer relação, principalmente, da pessoa com ela mesma. Tem uma dessas pessoas que, quando a pessoa eleita para ajudá-la, por qualquer razão não pode, ela fica enfurecida e brada: "não sei o que é que custa... é tão fácil...". Uma vez, num desses momentos, eu disse diretamente: "se é fácil e o problema é seu, resolva você!". Daí, vi um bicho acoado pela própria estupidez, falta de compromisso e responsabilidade com a própria vida e infantilidade, pular irracionalmente e bradar ainda mais: "Calma! Não tem porque ficar nervosa! Eu só te pedi um favor, não pode, fale...". Nesse dia, "paciência" me fez uma visita e chegou na hora do embate - porque acaba virando um embate do qual você não fazia parte e nem precisava viver... - e me segurou, onde respirei fundo - agradeci mentalmente a "paciência" pela ilustre e necessária presença - e disse: "Bom, não sei o quê sua cabecinha de menina mimada e infantil entendeu, mas, foi isso que disse, desde o início: eu não posso te ajudar...". Retrucou e, como fechei a zona de acesso a acesso da nossa interseção, só lhe restou cair fora. Bradou, falou, resmungou, pintou horrores com meu nome para os outros, mas, não invadiu o espaço, entendeu que ali era o meu espaço. Meu nome, "limpei" com o tempo - não fui tão madura, eu me irritei e muito, mas, deixei passar e me dizia: deixa o tempo resolver - e as pessoas que escutaram a criatura me disseram - algumas dessas pessoas - que não se aproximavam de mim para não ter proximidade com ela... depois que ela falou que eu não a ouvia, "que isso e que aquilo", viram que eu não era como ela... Ou seja, foi até bom para mim. Esse é apenas um exemplo. No caso dessa pessoa, a recorrência dessa maneira de agir é constante, frequente e intermitente... ela pula de pessoa em pessoa, nunca muda e só planta sementes de pessoas que se afastam dela. Mas, essa pessoa é o exemplo perfeito, porque nunca aceita um "agora não dá" de bom grado e sempre quer que resolvam tudo por ela, sem entender que as pessoas têm a própria vida e têm todo o direito de vivê-la como bem quer e fazer o que entende. E se chatear, difamar e pintar o diabo com o nome de alguém que não pôde nos ajudar é algo muito pequeno, é mesquinho demais. Precisamos aprender a respeitar o tempo de cada um e pronto. Tem mistério não.

Graças a Deus, com a maioria dos meus amigos isso não acontece. Quando acontece, me lembro: "é com essa pessoa, não comigo". Às vezes, os outros querem que a gente entre na aceleração mental deles e não querem papo. Nos lembrar que não temos que resolver o problema de todo mundo nos lembra que cada um precisa assumir a responsabilidade por seus atos e suas escolhas e, sendo assim, se "agora não dá para te ajudar" é porque, dentro do que eu escolho, agora, preciso estar inteira e seguir minha escolha. Quando coincide, ótimo, conte comigo. Mas, o povo gosta mesmo de abusar e, a isso, eu deixo um sonoro NÃO. Uma coisa é dar apoio, ajudar, estender a mão, o ombro amigo de maneira verdadeira, outra coisa é ver claramente que estão querendo abusar da boa vontade e explorar. A isso, também digo NÃO. Enquanto a pessoa continuar perdendo seu tempo tentando provar que eu fui "má" porque não pude - ou não quis, conforme meus NÃOs especificados acima - ela estará perdendo a grande oportunidade de SE ajudar.

Têm horas que não dá e isso não é falta de carinho, é vida que segue e cada uma tem a sua. Não é falta de vontade de ajudar, é impossibilidade. E tem tempo para tudo, nessa vida! Nem sempre dá tempo para resolver tudo, muito menos, ao mesmo tempo. Ter discernimento e colocar isso em prática requer uma dose de cuidado, porque não é fácil ser aceito ao agir assim. Talvez, não agrade a quem não sabe escutar um "não, agora não dá".

Infelizmente - para a pessoa -, "agora não dá"... Porque, felizmente, para mim, tenho que resolver umas coisinhas pessoais e preciso de mim, senão, nem ajudo e ainda me atrapalho. Daí, em alguns casos, nada mais adequado do que minha velha e boa DS - Distância Saudável. Quando dois mundos individuais não conseguem coorbitar na mesma faixa, melhor estabelecer a DS, para que nada seja destruído a ponto de abalar com estruturas frágeis e abaláveis...

Pat Lins.

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