terça-feira, 9 de agosto de 2011

DORES QUE PRECISAM DE CARINHO

Normalmente, quando falo de "dor", aqui, sempre me lembro de que toda dor é sinal de que algo precisa de cuidado, de atenção. Trata-se de um alerta! 

E as dores pelas dores dos outros? 

Também precisam de carinho!

Precisamos acolher nossas dores; assumí-las; termos consciência de que dói mesmo! Não é preciso ter vergonha da dor que sente, mas, não precisamos alimentá-la. Essa é a questão: nós nos acostumamos a limentar a dor e tê-la como mérito: se sofro, se sinto dor, é porque sou especial e estou sendo testada. Fora outros argumentos que são ditos... Bom, eu aprendi, na prática, na pele, em meio a dor que A DOR SÓ DÓI ENQUANTO ESTÁ DOENDO, DEPOIS, ELA PASSA, precisa passar! Inclusive, a dor pela dor dos outros. Nossa compaixão não precisa ser penosa, pesada e sofrida. Sentir a dor do outro é uma dor solidária e, ao meu ver, é uma maneira de dar força para a pessoa que passa pela fase difícil e dolorosa, na pele. Então, nossa dor não pode ser maior do que a dor de quem vem sentindo. 

Quando eu tive a DPP - Depressão Pós Parto - vivi as piores dores que sequer imaginava. Hoje, não passam de lembranças. Lembranças que já não me incomodam e que, a partir do momento onde aceitei que precisava aceitar aquela dor, ela começou a passar. Eu descobri uma coisa que está por trás de toda dor, seja ela proveniente do que for: tem algo em mim que precisa ser revisto... Algo que precisa ser cuidado, amparado, libertado! Toda dor pede passagem para algo represado. Foi isso que constatei: LIBERTAÇÃO. E, não adianta, você pode fazer o que for... inúmeras sessões de terapia, orações, bons pensamentos, apoio de outros... tudo isso é de suma importância e são apoios fundamentais no processo de libertação dessa dor, desse algo que ela traz... entretanto, ao meu ver, alguns sentimentos precisam ser permitidos e vividos, na prática, além da concepção mental, esse sentimentos precisam ser reais, que são o amor, a confiança, a esperança e a CERTEZA de que ela vai passar!

Quando perdi um bebê, agora, no início do ano, faz um pouco mais de dois meses, senti uma dor diferente. Não tinha sofrimento, nem angústia... Era apenas uma dor pela perda. Não só pela perda do bebê, pelo não saber lidar com a morte, mas, pela perda da expectativa: a frustração. Quando percebi que minha dor enveredava por aí, disse para ela: pode doer, mas, pela razão original e natural, não pela frustração e pela culpa que queria começar a ser gerada pelos questionamentos dos outros de: "você fez algo de errado?"; "perdeu, por quê, Pat?"... e por aí vai. Opa! Disse: NÃO! Para por aí! Sinceramente, eu não sofri. Eu entendi que não era para ser e pronto. Isso não evita sentir a dor... Mas, isso não é motivo para se aumentar nada. A gente aprende com cada dor que as dores fazem parte... quando aprendermos a viver sem ela? Não sei... somos humanos e imperfeitos e a dor é parte ou resultado dessa imperfeição. Na perda do bebê, senti dores físicas muito fortes... Dores inimagináveis e me contorcia em mim, mas, eu sabia que ia passar e isso me mantinha firme - mesmo em meio aos gritos e berros de dor. Passou. Prova de fogo foi escutar a enfermeira do Hospital Jorge Valente - que, depois de publicar o que passei lá, no post E AGORA O QUE PASSOU É PASSADO , soube que eles são conhecidos por essa prática... Duas pessoas me relataram ter vivido a mesma coisa... Uma delas, inclusive, na segunda vez que teve o aborto retido, preferiu colocar o remédio em casa e foi para outro hospital, só pelo pavor que ficou de passar pela porta do Hospital Jorge Valente, frio e desumano... - mas, voltando, a enfermeira de lá me ligou e em meio à indiferença que as cobranças e pressões do padrão de comportamente gerado pelo ambiente de trabalho competitivo - o que acho um absurdo... estabelecer tempo de atendimento e meta como controle de qualidade... - me dizia: "mas, nós fizemos nossa parte, né?" Eu perguntei de volta: "se colocar o remédio e me deixar sentindo dor até ser transferida é fazer a parte de vocês, então fizeram..." Ela me perguntava: "pela maneira que a senhora fala, parece que está com raiva da gente..." Eu, pronta e educadamente, respondi: "Sim, estou com muita raiva. Mesmo compreendendo a falha de comunicação interna entre os departamentos; mesmo compreendendo que vocês têm limitações... eu senti e sinto muita raiva de vocês..." Ela me disse, sem alterar a voz, nem sei se é correto a descrever como fleumática... provavelmente, tratava-se de uma pessoa colérica em momento de ironia e cinismo, finalizou: "bom, o importante é que a dor passou, né?..." aí, finalizei com minha crença que, naquela hora se mostrou com firmeza e consciência: "TODA DOR PASSA". E é verdade! Por pior que seja a dor, sua causa ou sua consequência, ela passa... Leve o tempo que levar. Até quando tentamos segurá-la por mais tempo do que o necessário, ela vai se esvaindo e escoando, como água entre os dedos. Muitas pessoas criam dor em cima de dor... elas passam a brotar. Até o ponto de não saber onde começou ou porquê dói... 

Só um parêntese: estamos tão focados no dinheiro que todo mundo me pergunta: "Por que você não processou o hospital?" Eu respondo com franqueza: "Nem tudo o dinheiro paga!". Não preciso explicar a maneira que penso ou no que acredito... apenas, me mantenho firme e pronto. Muita gente se acha mais esperta e diz que se fosse com ela, já teria feito e acontecido... E eu penso: "que você nunca precise passar por isso...". Pude por em prática muita coisa: minha convicção na decisão de não processar o hospital, inclusive, falei para a tal enfermeira ao telefone: "se a preocupação da instituição é se eu vou processar ou não, fique despreocupada... isso não vai mudar o que vocês fizeram... será mais um processo e para quem tem a estrutura que o Jorge Valente tem, nem doerá no bolso para chamar a atenção..." E é verdade! Eu pedi, apenas, que aquilo não se repetisse com ninguém... Ingenuidade, minha? Não, coerência com o que acredito. Mesmo sabendo, hoje, que há duas semanas uma mulher passou por algo ainda pior do que eu, porque ela não conseguiu ser transferida, não tinham feito contato com outro hospital e a deixaram lá, sentindo as dores da indução do aborto... Só para lembrar, eu tive aborto retido por duas semanas, até optar pela curetagem. E, pode parecer frieza minha, talvez seja, mas, eu não logo para o quê e como as pessoas próximas me julgam por não ter processado. 

Bom, hoje, é o enterro de um tio-avô - tio Joaquim - que, pelas minha contas, já passou dos 100 anos - ele foi registrado com mais de 20 anos de idade, e começou a contar dali... imagine, ele veio do interior para a capital, sem documento, o que era comum naquela época, e passou a ser recém-nascido com 20 anos... - e vivia alegre, mesmo em meio aos problemas da velhice e da falta de dinheiro para facilitar o conforto da vida e os tratamentos que não podia pagar para fazer em hospital particular, mesmo em meio a toda dureza que vivia, seu sorriso era sua marca registrada - e isso não é porque ele partiu dessa para melhor e isso fez sua dor e sofrimento passar, não, ele era assim, mesmo... Tem gente que só falta canonizar uma pessoa após sua morte... No caso de tio, não, ele tinha essa alegria, mesmo. Era dele. Tio, que você siga em paz! A gente não sabe o que acontece depois da morte, mas, com certeza existe um Deus e um lugar divino para onde peço ao Pai que ele seja levado! Hoje, senti a dor da perda de um ente querido, mas, senti mais a dor de minha avó, por "perder" seu último irmão... dos 13, agora, só ela! Dói saber que alguém partiu e a gente diz: "poderia ter curtido mais a companhia dele...". Dói, mas, a certeza de que é algo natural, mesmo após tanta dor e sofrimento, conforta. É reconfortante saber que, enfim, a paz para ele. Pois é, de maneira mórbida, a dor passa! Ele passou por muita dor e, agora, passou tudo: vida e dor! A lição que ele deixa é saber passar pela dor: ele viveu uma vida dura e difícil, mas, ele era alegre. Essa é a lição que tiro dele: viver! Que Deus o tenha!

Dor, dor, dor! Dói ver mulheres e mulheres perdendo bebê; dói ver mulheres que querem ter bebê; dói ver mulheres que matam seus bebês... dói ver tantos pais, padrastos... abusando sexualmente das crianças; dói  impunidade de tantos e o silência que atrapalha as investigações; dói a maldade e crueldade humana... Dói, muita coisa dói. Passa, com o tempo, toda dor passa! Por que precisamos passar por tanta dor? Não sei e sei. Todos sabemos: nós não sabemos quem somos, o que queremos da vida... não sabemos viver. Muitos de nós apenas passa pela vida. Não é fingir, é enxergar a dor! É assumir que dói e o que dói.

Vamos refletir e agir. Sejamos atores de nossas vidas. Nos libertemos de nossas prisões internas. Se a vida e a maneira como lidarmos com ela é complexa, o ideal seria descomplicar. Descompliquemos as mínimas coisas, para que tenhamos a capacidade de descomplicar as maiores, com discernimento e sabedoria!

Cuidemos de nossas dores, com carinho e deixando-a ir, ir, ir, ir, ir, ir... LIBERTAÇÃO da dor é o caminho da solução!

Pat Lins.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe aqui seu comentário/participação. Obrigada, pela visita! Volte sempre!

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails