sexta-feira, 17 de outubro de 2008

MULHERES POSSÍVEIS

Bom, como todos sabem, tanto gosto de escrever e tentar descrever o que vivo e penso, como também AMO encontrar textos que dizem aquilo que eu queria dizer.

Nossa, ver que tem gente famosa que pensa como eu, me faz sentir um pouco melhor. Ou será que eu penso como eles? Bom, o fato é que sempre que escrevo algo, leio outro algo que me toca. Um dia, deixo de ser tocada e sigo meu sonho de escrever de verdade e exercer a escrita como profissão. Ainda tenho muito o que aprender e praticar.

Quando recebi essa mensagem de e-mail de uma grande amiga (ela é uma daquelas pessoas que me conheceram e que me ajudam a lembrar de como eu era ou ainda sou, sei lá...) eu pensei: essa realidade é mais comum do que se pensa. Mas, ver que tem pessoas que rompem a "permissividade" em se escrever e pensar aquela velha hiporisia que nos ronda e só nos permite falar o que pode ser "falável" para não soar mal, para não parecer ser fraca/frágil... admitir que não tem forças para suportar tanta mudança, e também renegar a cultura imperatia do "homem" é que manda, é meio "punk". Nós mulheres "modernas", somos tão antigas quanto as que renegamos. Mas, lógico, que não quero viver como um ser submisso e oprimido, mas, acho que querer ser melhor ou pior do que os homens não é a questão. O foco deve ser a IGUALDADE. Em tudo, desde gênero a raças e crenças.

Bom, não vou escrever muito, porque o texto da Martha Medeiros (escritora e jornalista) também é extenso, mas, não cansativo. É isso que gosto: não importa o quanto se escreva, mas, a qualidade do texto. Aqui é um blog, não um anúncio publicitário. Não estou escrevendo dissertação para vestibular, nem um texto científico. Aqui é meu espaço aberto para pensamentos,desabafos e reflexões. Se estiver com pressa, não leia. Quando estiver com tempinho e vontade de ler, aí sim, o faça! Ok?!

Eis o texto (para homens, mulheres, homos, pans, trans... e para mim, para que consiga me organizar e ver que tudo é possível):






"Eu não sirvo de exemplo para nada, mas, se você quer saber se isso é possível, me ofereço como piloto de testes.

Sou a Miss Imperfeita, muito prazer.

Uma imperfeita que faz tudo o que precisa fazer, como boa profissional, mãe e mulher que também sou: trabalho todos os dias, ganho minha grana, vou ao supermercado três vezes por semana, decido o cardápio das refeições, levo os filhos no colégio e busco, almoço com eles, estudo com eles, telefono para minha mãe todas as noites, procuro minhas amigas, namoro, viajo, vou ao cinema, pago minhas contas, respondo a toneladas de e-mails, faço revisões no dentista, mamografia, caminho meia hora diariamente, compro flores para casa, providencio os consertos domésticos, participo de eventos e reuniões ligados à minha profissão e ainda faço escova toda semana - e as unhas!E, entre uma coisa e outra, leio livros.

Portanto, sou ocupada, mas não uma workaholic.

Por mais disciplinada e responsável que eu seja, aprendi duas coisinhas que operam milagres.

Primeiro: a dizer NÃO.

Segundo: a não sentir um pingo de culpa por dizer NÃO.Culpa por nada, aliás.

Existe a Coca Zero, o Fome Zero, o Recruta Zero.Pois inclua na sua lista a Culpa Zero.

Quando você nasceu, nenhum profeta adentrou a sala da maternidade e lhe apontou o dedo dizendo que a partir daquele momento você seria modelo para os outros.Seu pai e sua mãe, acredite, não tiveram essa expectativa: tudo o que desejaram é que você não chorasse muito durante as madrugadas e mamasse direitinho.

Você não é Nossa Senhora.Você é, humildemente, uma mulher.

E, se não aprender a delegar, a priorizar e a se divertir, bye-bye vida interessante.

Porque vida interessante não é ter a agenda lotada, não é ser sempre politicamente correta, não é topar qualquer projeto por dinheiro, não é atender a todos e criar para si a falsa impressão de ser indispensável.

É ter tempo.

Tempo para fazer nada.

Tempo para fazer tudo.

Tempo para dançar sozinha na sala.

Tempo para bisbilhotar uma loja de discos.

Tempo para sumir dois dias com seu amor.Três dias. Cinco dias!

Tempo para uma massagem.

Tempo para ver a novela.

Tempo para receber aquela sua amiga que é consultora de produtos de beleza.

Tempo para fazer um trabalho voluntário.

Tempo para procurar um abajur novo para seu quarto.

Tempo para conhecer outras pessoas.

Voltar a estudar.

Para engravidar.

Tempo para escrever um livro que você nem sabe se um dia será editado.

Tempo, principalmente, para descobrir que você pode ser perfeitamente organizada e profissional sem deixar de existir.

Porque nossa existência não é contabilizada por um relógio de ponto ou pela quantidade de memorandos virtuais que atolam nossa caixa postal.

Existir, a que será que se destina?

Destina-se a ter o tempo a favor, e não contra.

A mulher moderna anda muito antiga.

Acredita que, se não for super, se não for mega,se não for uma executiva ISO 9000, não será bem avaliada.

Está tentando provar não-sei-o-quê para não-sei-quem.

Precisa respeitar o mosaico de si mesma, privilegiar cada pedacinho de si.
Se o trabalho é um pedação de sua vida, ótimo!

Nada é mais elegante, charmoso e inteligente do que ser independente.

Mulher que se sustenta fica muito mais sexy e muito mais livre para ir e vir.Desde que lembre de separar alguns bons momentos da semana para usufruir essa independência, senão é escravidão, a mesma que nos mantinha trancafiadas em casa, espiando a vida pela janela.

Desacelerar tem um custo.Talvez seja preciso esquecer a bolsa Prada, o hotel decorado pelo Philippe Starck e o batom da M.A.C.

Mas, se você precisa vender a alma ao diabo para ter tudo isso, francamente, está precisando rever seus valores.

E descobrir que uma bolsa de palha, uma pousadinha rústica à beira-mar e o rosto lavado (ok, esqueça o rosto lavado) podem ser prazeres cinco estrelas e nos dar uma nova perspectiva sobre o que é, afinal, uma vida interessante."
(Martha Medeiros é uma jornalista e escritora brasileira. É colunista do jornal Zero Hora de Porto Alegre, e de O Globo, do Rio de Janeiro.)




Pat Lins

2 comentários:

  1. Realmente a mulher de hoje quer ser a grande executiva, a grande mulher de negócios. Mas, se tudo o que ela faz for para se sentir aceita pela sociedade, ou para se sentir uma mulher moderna, com certeza seu trabalho vai virar escravidão, assim como as mulheres de antigamente que eram donas de casa e se sentiam presas, escravas. Tudo deve ser feito com equilíbrio e prazer, por isso, temos que administrar muito bem o nosso tempo para que possamos ser aquilo que gostamos de ser.

    Beijão!

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  2. Obrigada pelo comentário!

    É verdade. Parece que buscamos tanto fazer o diferente que acabamos fazendo igual... só mudamos o tipo de escravidão. Em vez de melhorarmos, estamos nos igualando a loucura criada e imposta pelos homens (sem machismo, apenas constatação de um fato). Mas, cada geração que vem, aprende com as "falhas" da anterior, e a medida que for passando, essas "falhas" vão se transformando. Concordo plenamente com a questão de administrarmos nosso tempo, sim. Todo mundo o deveria fazer. Se permitir viver nesse estresse é que o causa.

    Beijos!

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