Juntando nossas partes, montamos um todo de pequenas partes fragilizadas. Um apoiando o outro e estabelecendo um equilíbrio improvisado, até a dor do desmame ir, pois ainda está em seu tempo de ser.
Em paralelo, ela - essa dor - vai-se indo e a dor que fica - pelo irreversível - é chamada pela razão do fato e do lógico para ocupar um lugar próprio, que caminha junto, calada e compreensiva e dá-se, aos poucos, lugar para o aqui e agora, para o novo tempo que se instala, que se ergue, que É!
E assim caminhamos. Ainda não encaramos porque a rotina ainda não fora retomada. Todos precisavam de um refresco... todos vivenciamos e a acompanhamos a saga de dor de minha tia... todos nós sofremos com ela. O alívio dela foi nosso alívio em não vê-la ter que passar por aquilo. Uma morte, um descanso para sofrimentos que poderia ter se arrastado por anos e anos... mas Deus teve compaixão e não permitiu que essa filha passasse por isso. Triste doença - câncer - que aplaca não apenas o doente, mas todos no perímetro ao redor. O conforto de saber que ela não está presa a uma cama, vegetando nos foi dado. Isso nos fez entender o quão importante é a medicina e seus avanços, mas o quão acima disso estão os desígnios de um destino que não nos cabe conhecer previamente. Coisas da vida e da vida-morte-vida que eu prefiro acreditar e que, apesar de questionar muito, começo a aceitar o que em mim já pedia para ser aceito, sem tanto lutar.
Hoje, tive o primeiro sonho com ela, e estávamos todos querendo comprar um celular para o filho dela. Ela estava entre nós e não estava... O telefone deveria ser um desejo meu de estabelecer contato... Talvez desnecessário... Só peço a Deus que esteja em paz e tenha sido bem recebida pelos Seus anjos!
A família e os amigos ainda sentem/sentimos o baque, a ruptura rápida, prevista - sem hora marcada, mas sabia-se que era a evolução de uma doença sem cura e destrutiva - do que vimos com os nossos olhos, ali, lado a lado e como é dualisticamente dolorido e reconfortante ver o deixar de ser. Ali, diante de nós, nos despediamos e sentiamos que chegava o momento... e quando chegou, não estávamos nem um tiquinho preparados, mesmo sabendo... onde prova que por mais racional que sejamos, somos muito mais emocionais e o equilíbrio desses pólos é que nos permite encontrar forças sem negar a dor, sendo fortes mesmo fragilizados.
Como será segunda? Quem sabe é Deus! Uma partida no meio da semana, um enterro na quinta... uma sexta de descanso, um sábado de primeiro momento sem ela... e amanhã, e a segunda, quando teremos que retomar a rotina? E o filho dela - meu primo - quando dormir e acordar em casa sem ela... e minha tia caçula, que vivia com ela, que era a irmã, amiga, parceira, companheira de todas as horas? Juntamos nossos caquinhos e nos erguemos num novo EU de cada um, e num novo NÓS como família, para dar conta de tudo que ainda está por vir... Meu primo é especial, vai precisar de tratamento... Deus nos dê a capacidade de dar conta daquilo que só uma mãe consegue fazer, que é fazer tudo por ele - com erros e acertos como qualquer mãe que se preze...
Deus, te pedimos que amenizasse o sofrimento dela, que não a arrastasse naquele quadro... - não tem prisão pior para um inocente do que ficar preso em um corpo morto e vivo, agonizando e sofrendo por dias, semanas, meses, anos e anos... - e o Senhor nos escutou, a olhou e a levou. Agora, Pai, pedimos que nos capacite a dar continuidade ao nosso caminho. Que nosso presente seja de força, sem as boas lembranças de um passado que se impõe e segue o seu fluxo de ser e existir e que em mais um contato com dor extrema, consigamos superar o desafio de julgar, de culpar, de encontrar onde foi a falha para aceitar o que aconteceu. Que consigamos romper com emoções densas e estabeleçamos, a cada dia mais, um contato com o que há de melhor em cada um de nós para escutarmos melhor o que tens a nos dizer com Sua infinita sabedoria, através daquela Natureza criada para nos prover e nos ensinar... nos alimentar, inclusive de entendimento pela aceitação do que é e pronto!
Obrigada a todos que seguem este blog, que, nos últimos meses ficou um pouco triste, mas com reflexões que nos deixam mais próximos do que vem a ser felicidade, que é ir se desapegando de pesos que não devemos carregar e arrastar vida a fora e vida a dentro, que é o sofrimento. Que aprendamos a deixar passar com consciência e entendimento de que a dor fica, para sempre, amenizada porque será através de boas lembranças boas!
Luto no luto para lutar pela continuidade sem luto, lutando diariamente contra o breu de mim mesma, humana que sou!
Pat Lins - mesmo aqui e agora de dor e luto, aqui e agora plantando e construindo felicidade, através do amor que liberta e refrigera a alma! A gente tem mania de pensar que perdeu algo que ainda nem achou... A gente não perde quando se ganha, a gente só precisa entender que ganhou a alegria de ver um sofrimento acabar para uma pessoa que amamos... um dia isso estará mais firme em nós - e um dia eu internalizo, isso, também...
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