Animação: DIVA LATÍVIA |
Achei uma sacada e tanto da Rede Globo em programar o último capítulo da novela "Lado a Lado" para o dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, com uma bela mensagem de que, além de todas as batalhas com o que a "sociedade" - melhor, com os rumos sociais de cada época - o processo individual conta e muito. Ou seja, no microambiente a gente colhe o que planta.
O que vale a pena ser feito? Eu penso que ninguém consegue ser feliz causando a infelicidade alheia. Se alguém dedica a própria vida para derramar doses insanas de infelicidade na vida do outro, perceba o que já faz na própria vida.
O que mais gostei foi a maneira leve da homenagem a nós, mulheres, num ambiente e época de transição geral: "abolição" da escravidão, liberdade de imprensa - ou, indo além, de expressão - e emancipação feminina - fora as mensagens paralelas e crítica ferrenha ao machismo como conduta exagerada de culto ao erro, ao poder mal utilizado e ao desrespeito em geral, independente de Constância... inclusive, no momento em que ela conversa com o marido sobre seu adultério, ela emite um: "é porque o adultério só é permitido aos homens, não é verdade?".
Os questionamentos na novela foram leves, por conta do contexto romântico que todo folhetim precisa ter para viver e alcançar índices consideráveis de audiência, porém relevantes e bem contextualizados. Não acompanhei todo o desenrolar da trama, algumas vezes por falta de tempo disponível - administrar nosso tempo requer isso, escolhas e escala de prioridade - e outras por conta dos momentos de enfoque nos pares românticos. Porém, pude acompanhar lendo os resumos disponíveis no site da própria emissora. Polêmicas como filhos de mulheres solteiras - em consequência da inocência imposta pelo machismo e as mulheres serem criadas como bichinhos domésticos que só serviam para abanar o rabinho para o dono quando e somente quando este assim o ordenasse, onde muitas acabavam sendo vítimas dessa pureza e caiam na lábia/cama de algum cafajeste, cedendo aquilo de mais precioso que acreditavam ter: a virgindade - bem como solterice como denotação de incompetência - isso repercute ainda hoje, onde muitas mulheres continuam casando com qualquer um, porque "tem que ter um homem do lado", não por amor, porque não se é permitido amar, mas por "amor" à fama, à condição social de "mulher", que só é mulher se conseguir se casar... Vejamos quais as bases firmes e verdadeiras nossos arquétipos foram desenvolvidos. Quanto motivo de orgulho e, por acomodação e medo de contrariar essa realidade, continuamos sendo e agindo bem próximos do original. Alguém se deu conta de que a novela passava, se não me engano, do final do século XIX - final fa escravidão e início da República - e início do século XX? E os mesmos "problemas" continuam sendo problemas...
Sexismo louco... mulheres que pensavam além dos livros de receitas herdado da família como receita de sucesso em "Como ser uma mulher bem sucedida - segure seu homem pelo estômago", eram punidas com loucura... Imagina que muitas mulheres pagaram com a própria vida para, hoje, eu estar aqui, em pleno século XXI, digitando em meu notebook, um pensamento livre sobre a repressão sexual como forma de estabelecimento do poder? Eram apenas os homens os algozes? Não. O machismo vai além de quem impõe o gênero como condição de liberdade ser um homem... era um ato desumano de maldade e intrigas com a conivência de mulheres que, desejosas de um poder ambicioso demais, usavam seu sexo como maneira de segurar um homem, provando que mais esperta não era quem cozinhava bem... era quem usava sua sedução como arma fatal - lógico que tão fatal que, diante de uma concorrência burra e em crescente evidência, muitas outras mulheres se prestavam a esse caminho mais curto e rápido de se conseguir algo e, com a mesma rapidez, perder... - . Um fato impressionante foi o do sanatório... Mulheres que pensam são loucas! Olha o que vi num link da própria Rede Globo, onde a autora expõe alguns argumentos para a cena onde Laura é internada num sanatório: http://tvg.globo.com/novelas/lado-a-lado/Fique-por-dentro/noticia/2013/03/laura-no-sanatorio-autora-diz-que-constancia-sera-mae-cruel-e-devoradora.html.
A loucura humana só aumenta! Ninguém - ou melhor, quase ninguém - se dá conta por motivos tão simples: o medo de ser tido como louco e internado, também. A diferença é que não se interna mais em sanatórios, mas em lares opressivos.
A loucura é tão grande e estúpida que a verdade e o amor que libertam assustam... e deturpamos tudo: amor com escravidão emocional - onde "doamos" o que não temos e exigimos em troca o aprisionamento do "ser amado" como prova de retribuição a esse amor que "demonstramos"... quanto amor verdadeiro....; e verdade é aquilo que se pode ser dito sem alterar nada, porque verdade é o que já está aí e ninguém mexe! Daí, em nome dessa verdade e desse amor, haja guerra, haja destruição e isso, sim, é lucidez. Mórbido demais para mim!
Outro ponto brilhante e quase inexpressivo em cenas de destaque foi a questão da "(in)tolerância religiosa". Foi muito bom ver que o padre daquela cidade, mesmo seguindo os rumos da igreja Católica de servir aos ricos e aos coronéis, barões, senhores de engenho..., romper com essa "tradição". O catolicismo dos portugueses que veio ao Brasil destruiu os moradores daqui - os índios, ou selvagens, como eram tidos e animalizados - e permitiu a escravidão dos negros, pois eram tidos como seres sem almas... portanto, não eram humanos e isso justificava e legalizava para os céus aquelas atitudes demoniacas, me perdoem, mas é assim que vejo, para aquelas atrocidades legais - eis um bom exemplo para a grande diferença do que é legítimo, porém anti ético: desumanidade! Para ser considerado ser humano precisava ser batizado numa igreja Católica. Na novela, o padre se deixou levar pela megera rica e manipuladora, porém, se deu o benefício da dúvida e permitiu escutar a "boazinha e sofredora" da trama a ponto de ajudá-la. Outros pontos de destaque foram mais diretos, como quando ele voltou atrás e pediu a liberação da mãe de santo da cadeia - a expressão religiosa era crime dentro dos rigores da Lei... - e quando aconteceu o casamento de Izabel - adorei a personagem principal levar esse nome simbólico, sendo ela uma negra e pobre plebéia - e Zé Maria - nome dos pais de Jesus, num negro do candomblé. Muito bacana, além do padre estar num casamento diferente e respeitando essa diferença, os nomes dos personagens principais.
O que isso tem a ver com o dia internacional da mulher? TUDO e mais um pouquinho. Se ser mulher já era para ser temido - a ponto de durante a gestação, obrigatória como forma de cumprimento do papel de boa esposa, as mulheres desejarem filhos varões, e os homens já deixavam claro que se fosse uma menina, a culpa era da mulher, aquela incompetente, incapaz de dar um herdeiro... - imagina, então, uma mulher negra? Essas, coitadas, estavam abaixo do mais baixo na escala de respeito.
Peço licença para usar essa novela das 18 horas, tão simples e com um dilema em primeiro plano de uma mulher negra e pobre que é "seduzida" por um homem branco e rico, gerando um filho... para nos lembrar de como somos nós. Como nosso Brasil foi construído - ou destruído - a cada época de transição. O resto do mundo evoluía a nós continuamos como colônia portuguesa, com uma ressalva que nossos livros de história não apresentam com clareza, de que o que veio de Portugal foi um bando de marginais que como castigo e punição, já que viviam em celas, vieram continuar o cumprimento de sua penas aqui, nos fazendo.
Interessante que a Pátria Mãe nunca nos deixou, continuou a nos brindar com suas belezas naturais e o que foi feito desse lugar? Coitada dessa mãe que tudo deu aos seus filhos e veja o que eles passaram a diante... Essa Pátria Mãe foi violentada! Essa Pátria Amada Brasil foi desonrada desde que destruíram seus filhos primogênitos e nos colaram aqui, como filhos do estupro de uma nação sobre a outra com outros filhos bastardos e arrastados de sua terra mater para serem animalizados aqui e erguerem um império riquíssimo para os outros, como pagamentos: relegados a pior das pobrezas que é a falta de acesso às oportunidades, que se faz até hoje!
Por isso que gostei dessa novela. Em poucos meses e com a limitação de ter que agradar e manter uma audiência - somos filhos do capitalismo que só mudou de nome, pois sempre existiu... O poder pelo material já vinha desde eras paradisíacas, como Adão e Eva, que queriam ter aquilo que não lhes pertencia -, a trama conseguiu, ainda que timidamente, abordar esses temas de intolerância através de personagens brancos e ricos do bem e do mal, bem como os negros e pobres do bem e do mal, como um alerta maior: a maldade é condição humana! Todos nós temos nosso lado leviano. Todos nós erramos. Mas, certo é que TODOS temos a mesma condição de buscar o acerto!
E, hoje, DIA INTERNACIONAL DA MULHER, não se trata de uma data sexista. Trata-se de uma data significativa de questionamentos sobre a igualdade de gêneros, respeitando-se a característica de cada um - e isso não deu tempo de mostrar na novela referida, mas não deixou de ser abordado, haja vista que a tragédia do dia 8 de março de 1857 foi consequência dos abusos de poder e ambição.
Na novela, as verdades vigoraram. Os frutos foram colhidos - ainda que alguns aparentemente saíssem impunes, fica-se a mensagem de continuidade e do "por vir". E na nossa vida real, o que queremos que se transforme? Isso é para mulheres e homens, para os seres humanos - independente de cor, raça, classe social, condição econômica e financeira... - que querem sentir-se parte desse mundo! Dessa Terra, mãe e gentil, que nos dá vida, comida e condição de nos melhorarmos: uma verdadeira mãe! E deixar um mundo melhor para os nossos filhos e filhos melhores neste mundo meu, teu, dele e dela, nosso, vosso, delas e deles. Esse mundo de Deus Pai e Mãe, que seria uma nomeclatura mais apropriada. E, acima de se ser pai ou mãe, a condição de se ser e fazer algo melhor e do bem, pelo bem e para o bem é o caminho ao divino!
Façamos nosso melhor a cada dia! Para ver se um dia, todo esse hoje consegue deitar à sombra e encontrar-se com seu tempo certo: passado! Que amanhã o hoje seja de PAZ, AMOR e DIGNIDADE, com RESPEITO e ÉTICA. Para que, não seja mais necessário datas oriundas de tragédias para nos fazer refletir - ou esquecer - e para que marcos sejam estabelecidos - como dia da mulher; dia da consciência negra; dia da criança... Que alcancemos dias de glória e igualdade a cada dia!
A novela fictícia com alerta do real acabou, a vida real continua... E a gente nem percebe muita diferença. Talvez porque cada um de nós precise se (re)ver para fazer essa diferença positiva!
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