segunda-feira, 23 de julho de 2012

A SEGURANÇA PÚBLICA x EXIGÊNCIAS DA ATUALIDADE

Gente, faz tempo - não é novidade para ninguém... - que escuto: "não sei mais do que tenho medo, de quem deveria fazer a nossa segurança ou dos bandidos...". Isso me preocupa muito, como mãe, como filha, como irmã, como tia, como pessoa, como cidadã, como pessoa que conhece policial - penso eu que todo mundo conheça, pelo menos, um - e como ser humano, acima de tudo.

O que eu percebo é que nos tempos atuais, em plena era do marketing como "arte de guerra", a exigência superficial de excelência, de qualidade ISO sabe lá nove mil e quanto, em plena fase de "parecer que está sendo feito", vejo pouco se fazer de concreto e profundo. Os tempos mudaram. Aliás, os tempos mudam! Os valores estão deturpadíssimos e a violência vem aumentando em escala monstra e explosiva. Mas, alguns setores deveríam ser mais respeitados e isso, com certeza reverberaria na sociedade de maneira mais positiva.

O que me chamou a atenção, foi um policial falar: "Eu sei que tudo é uma questão de escolha e vocação. Eu gosto de ser policial. Tentei outra profissão, me graduei... Mas, servir na segurança pública me encantava.  Só que tem um ônus muito forte. Por exemplo, existem profissões, como médicos, policiais e professores que são a base de uma vida social: saúde, segurança e educação. Todos são motivados pela vocação, mesmo e dedicação à profissão por amor, mesmo, porque bem remunerados, em verdade, não são. Um médico é médico onde for e a qualquer hora, mas, se ele estiver de folga, ele é um médico de folga. Entenda, eu sei que se acontecer algo, se chamarem ele, ele deixa tudo e vai servir. Me refiro ao fato dele poder ser a pessoa separado do médico. Ele não vai ficar tenso, olhando se alguém está passando mal. Se estão limpando as mãos corretamente... etc. Um policial, ele é policial antes de tudo. A pessoa deixa de existir á frente. Até na vida pessoal existe o clima de tensão constante. O público que a gente lida não descansa... A um médico, todos são gratos, mesmo quando há a morte, mas, pelo esforço que teve. O público do policial vai ficar grato de quê? Eles são errados e, quando são pegos, eles acham que errados somos nós...".

Aquela conversa me fez refletir, juntamente com outras informações. Muitos crimes hediondos vêm sendo cometidos por policiais. É como se a farda pesasse... O poder não é algo que qualquer um sabe lidar com facilidade. Isso é meio óbvio. Aí, eu me pergunto: qual o apoio psicológico dispensado a essa categoria? A tensão é uma força controlável com facilidade e num ambiente cansativo e desgastante? Existe o descanso necessário? Todos sabemos que em determinadas funções, o emocional fica abalado e a repetição, a rotina de determinados acontecimentos mudam a relação com e das pessoas com os valores. Com o passar do tempo, a tendência é enraizar. O Governos deveria investir mais em contratação, qualificação e numa reformulação da estrutura organizacional, geral, desde a seleção até a manutenção desses profissionais. Escalas diferenciadas - se houver mais gente, mais fácil trabalhar com essas escalas mais humanas, afinal, esses profissionais precisam se refazer -; avaliações psicotécnicas mais sérias e sem direito a recorrer na Justiça. Interessante é que, em geral, esses crimes bárbaros - falo em geral, porque não tenho estudos, nem muitos dados sobre isso, - foram identificados como "fora de padrão" para servir à corporação. Aí, me vem a pergunta: se eles foram "barrados", por não terem sido aprovados no psicotécnico, quem os liberou? Existe uma brecha na Lei que permita isso? Então, qual a valia de um psicotécnico? Deveria haver mais relevância com relação a essa ferramenta psicológica. Ela faz com que aquilo que foi identificado como "potencial descontrole" não entre numa função que requer um certo bom senso e capacidade de agir sob pressão. Daí, escutei, há um tempo atrás, o Secretário de Segurança Pública da Bahia, desabafando em uma coletiva de imprensa, após um crime barbaríssimo na capital baiana e afirmou exatamente isso: a importância do psicotécnico. Não me recordo a frase exata, mas foi o que me chamou a atenção, quando ele falou: "esses casos são profissionais que o psicotécnico identificou...". Ou seja, quando eles recorrem na Justiça, mesmo vendo que não se enquadra naquele perfil, mas, quer entrar por outras razões - que não a vocação... é simples identificar e diferenciar um profissional vocacionado e outro "interessado". Gente, bandido não tem RG ou CPF diferenciado... não vem escrito: "sou bandido". E um desses, com distúrbios de personalidade, emocionais... inclusive, de caráter, mesmo... se inscreve no processo seletivo e é capaz de passar, desde que estude. O que vai "evitar" que essas pessoas entrem num ambiente que exige firmeza de caráter? os testes psicológicos. Enfim, eu vejo como "cúmplice" quem libera... Mas, isso é minha opinião e é questionável...

Fui conversar com uma professora de psicologia da corporação, se havia um cuidado humano com os profissionais e ela me respondeu: "tudo defasado...". Ou seja, investir em melhorar a a aparência da corporação não a melhora... 

Uma coisa é investir na aparência para venda de uma imagem positiva no comércio, já que existe a concorrência e etc. Mas, em saúde, educação e segurança além de não melhorar, piora! Imagine o público interno -os profissionais - desses setores, como se sentem? Todo mundo sabe que um profissional motivado rende mais...  O que motiva um profissional, dentro do seu ambiente de trabalho - ainda que seja um vocacionado, que vem com aquela característica em si, como uma parte de si? Um ambiente saudável, com clareza e transparência na condução das metas e das funções e uma boa administração. Agora, imagine incluir nesses setores, estratégias de guerra para venda de aparência. Você já não tem investimento em "cuidados" diversos com a pessoa que existe no profissional; já recebe relativamente pouco, porque você tem que investir... até a farda do policial ele tem que comprar e é cara...; vive num ambiente tenso e uma rotina de pressão. Fora a questão da rigidez e frieza que vem como forma de "preparação de caráter" dentro da corporação. Imagina, pressão nas ruas por conta da profissão e do "público" - não gosto de ficar repetindo: bandidos, marginais... - que lidam, tem a resistência  e cobrança de uma população que, na maioria das vezes, tem razão em exigir, mesmo, mas, o COMO exigir é que faz com que essa exigência seja feita e reconhecida como legal, senão, perde-se a razão. Nossa população tem uma característica peculiar... estou tendo cuidado para escolher as palavras, mas, aqui na Bahia, por mais que me doa reconhecer e admitir, as pessoas não têm acesso a uma boa educação acadêmica - por falta de investimento dos governos -, entretanto, educação acadêmica é apenas uma parte da educação de um povo - com muita importância, eu sei e luto por isso, pois, abre portas para novas descobertas - a educação doméstica é algo mais pessoal e cultural. Assim eu penso. Sendo assim, então, sejamos francos, nosso povo é muito mal educado. E muito, é mmmuuuiiitttoo, mesmo. Basta sair daqui, vai em Sergipe, que é do Nordeste, também, uma região muito pouco reconhecida e com muito pouco investimento financeiro... todo mundo sabe... e a gente vê a diferença. Aqui a gente só fala em "direito" e ninguém lembra-se que tudo é DEVER e DIREITO. Olha para as ruas em Sergipe e olha as da Bahia? Melhor, olha Salvador, que é mais gritante... as cidades do interior são mais limpas. Gente, "cidade limpa não é a que mais varre, é a que menos se suja". Então, voltando, imagina essa população tão "cheia de direito" como contribui para o bom funcionamento das ações dos policiais?

Não estou aqui defendendo a categoria, não. Estou tentando nos fazer ver que tudo faz parte de um contexto maior. Essas barbáries são obras de pessoas doentes. E essas pessoas doentes estão dentro de uma instituição onde essas doenças acabam sendo catalizadas pela pressão diária e o "poder" da farda. Muita gente não dá a devida relevância, mas, o que nos move não é apenas o nosso corpitcho, nossas pernocas... nossa mente, gente, comanda TUDO e muito mais! Isso deve ser levado em conta. Quando um desses seres são detectados num psicotécnico e, assim, impedidos de entrar na corporação, a família sai em defesa... a população compra a causa... depois, a culpa é de quem? Depois, quando acontece um crime hediondo cometido por um "fardado", alguém lembra de investigar se para essa pessoa havia uma advertência do tipo: "não apto para a função"? Para piorar, depois que cumprem a pena - quando cumprem - e são exonerados, quem os coloca de volta? 

Está tudo errado porque a gente está vendo tudo errado e aceitando tudo o que é errado. Na hora que o errado fica pior, nossa! 

As exigências da atualidade permitem que a imprensa acompanhe e divulgue as ações da polícia... O que, para mim, é estranho... Assim, divulgar, acompanhar, passar informações claras é uma coisa. Divulgar o que a polícia pretende fazer num determinado caso, para mim, é dizer: "bandido, é isso que eles estão fazendo. É disso que estão suspeitando...É por aqui o caminho...". Isso é o ônus. Eu penso que o sensacionalismo esteja confundindo o que seja a "liberdade de imprensa" com um excesso de liberdade e pouco cuidado com o trato da informação. Fora quando divulgam um hipótese como algo certo e a população é guiada... depois, muda, a população muda de opinião. E quem fica descredibilizada? A imagem da corporação policial.

As "exigências" da atual atualidade - me permitam a redundância - são efêmeras demais... são rasas demais... Onde estão as raízes?

Para mim os erros estão aí: nas exigências da atualidade. Como exigir algo sem a menor condição intelectual? Fora que bom senso é algo que se desenvolve no dia a dia, diante de uma postura mais aberta e menos expectativa. Nas exigências da atualidade, uma expectativa manifesta vale mais do que um Decreto. Uma expectativa dessa quando se transforma em frustração vira uma catástrofe geral. 

Até reconhecerem que deve-se mexer não só no maior número de contratação de policiais, mas, em capacitação, qualificação e avaliação de perfil, muitos inocentes ainda serão confundidos com os não inocentes - que estão cada vez mais em meio aos inocentes, mais "criativos", mais organizados e mais ousados - fora que muito mais bem preparados... Quer ver uma coisa? Quando você se depara com uma blitz, está dentro do seu carro com filme escuríssimo - para a nossa segurança... - como você age? Em geral, TODO mundo reclama: "Ah, que saco, uma blitz!". A gente vê o trânsito lento e se chateia... Nós não somos educados para entender que têm certos incômodos necessários. Daí, muitos mantêm suas luzes internas apagadas, vidros fechados. É parado e resmunga: "em vez de pararem os bandidos, me param...". Eu aprendi como dica de um policial: coloco o farol de estacionamento, acendo as luzes internas, abaixo os vidros, passo na velocidade mais lenta e sigo tranquilamente. O problema é a pressa. A maior exigência da atualidade é a PRESSA. Temos pressa para tudo. Com a imprensa no pé, criando um clima de que a resposta deve ser mais rápida, faz com que se veja no que não é o que é... Um inocente acaba pagando pela "pressa" em dar respostas a sociedade. Também, tudo errado, em quem vamos confiar? 

É urgente a necessidade de se quebrar com essa bola de neve, gente. Precisamos estar mais preparados como pessoas. Mais abertos. Resgatar valores. Aliás, Valores! Isso que vivemos é loucura e inatingível. O povo só clama: "tem que botar mais policiais nas ruas...". Depois, eles mesmos alegam temerem os policiais... Oh! E aí? Melhor cobrar do governo: como é a qualificação e a capacitação desses profissionais? O que é investido nesse setor? É muito fácil jogar um monte de homem e mulheres nas ruas, fardados e sem preparo... 

A Segurança Pública está pecando... nós, cidadãos, estamos pecando... e como resolver isso? Como eleger um político correto? Difícil saber. E como me disse uma amiga: "não tem como a gente saber eleger um bom representante se ainda mantivermos essas postura de 'valores' corrompíveis..." e é verdade. Quantos se vendem por uma dentadura, sorri durante aquela fase de eleição, consegue votos para aquele político safado e, depois, chora na fila do SUS...? Por falta de segurança...? Gente, o trabalho é árduo... até para exigirmos, devemos saber COMO e o QUÊ exigir! A gente reclama das saidinhas bancárias, espera milagre e não quer colaborar. Quer um exemplo? Quem consegue ficar sem atender o celular dentro do banco? Parece que o bandido terá uma marca em si e que a câmera de segurança vai detectá-lo e ninguém precisa colaborar... Eu penso que, se já se sabe que há uma maneira eficaz de comunicação entre esses marginais, através do celular, não usar já é uma ajuda para dificultar, né não? Uma ajuda para a nossa segurança. Mas, não, o povo não quer ter trabalho... Tenha paciência! Isso não me impede de ficar chocada e revoltada com a onda de crimes hediondos. Mas, me faz entender que não se trata apenas do Governo. Ao Governo cabe fazer o que não faz... recrutrar melhor, qualificar, capacitar e cuidar. Ao povo, colaborar.

Eu quero melhoria na Segurança Pública, sim e já! Mas, não quero só que joguem um monte de gente fardada na rua. Quero que contratem mais profissionais e qualifique, capacite e cuidem desses profissionais, com estudo, com acompanhamentos psicológicos e que sejam tratados com respeito na própria corporação. Chega desse sistema de humilhação como forma de elevação de caráter... 

Pat Lins.

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