Hoje em dia, vejo que ser diferente pode ser um problema, ou, uma solução... depende de como agimos.
Pedro
tem me ensinado muito a ser uma pessoa melhor. O desafio diário de
lidar com ele pode cansar, muitas e muitas vezes, mas, vê-lo crescer e
mudar me lembra que é para isso que estamos aqui, para nos tornarmos
pessoas melhores, não igual a todo mundo, nem um diferente do tipo
"perigoso", mas, diferente do tipo "autêntico", "feliz". Lógico que
tenho que lidar com um comportamento desafiador full time. Não tem
refresco. Mas, entendi uma coisa: não adianta falar qualquer coisa, tem
que fazer sentido.
Pedro
me ensinou a vê-lo como é e entender que diferença não é doença.
Engraçado que, como já falei outras vezes, me voltava muito para buscar
um enquadramento patológico para ele, para, "achando" eu, saber lidar
com ele. Para mim, essa agitação dele era doença e precisava de remédio.
Existem problemas patológicos, sim, não estou aqui dizendo que essas
doenças não existem e sei que identificá-las o quanto antes, melhor a
eficácia do tratamento. O meu "não saber lidar com Peu" é que procurava
um remédio para "normatizá-lo".
O
coloquei numa escola com metodologia diferenciada, o que entendi é que
nada adianta uma boa proposta se na estrutura real pode se perder quando
algumas partes da equipe não tiverem o perfil vocacional. Pode-se ter a
melhor qualificação, se faltar alma, nem adianta, cai na mesmice das
escolas "tradicionais". É como sempre cito a frase da Morgana Gazel: "fazer diferente exige muito mais que contradizer".
O diferente requer vontade, dedicação e disposição - e isso só parte
quando o profissional lembra que é pessoa, antes de tudo e mais nada, e
essa pessoa sabe que tem essas características dentro dela. Todos nós
temos, só que muitos nem sabemos... - além de uma visão holística -
visão do todo. Ah, o mais importante: não dá para ficar no discurso e no
"obrigada, pela parceria". Onde está a parceria? Não tem o que me
agradecer por ser presente, aberta e participativa, eu sou assim e minha
relação com meu filho é assim. Eu sei que escola alguma faz milagre e
nenhuma tem a obrigação de saber lidar com o "diferente", mas, desde que
não use em suas visões e missões, em sua cultura organizacional - sim,
uma escola é uma organização e sim, é necessário capital para investir,
sustentar e manter o diferente, porque é mais caro, não se produz em
série... mas, a vocação não depende dessa verba, ela é nata - a
afirmação do tipo: "aqui, temos uma proposta voltada para as
características individuais" e agir pelas características grupais. Não
estou aqui me isentando da minha responsabilidade de mãe, muito menos,
delegando para a escola a educação do meu filho, mas, esperava na
educação acadêmica mais parceira como tivemos no ano anterior, com
Aninha a frente e sua competência magistral. Este ano, a equipe me
parece estar desfalcada no quesito vocação e se a direção não estiver no
comando, o barco fica a deriva... No último semestre, Pedro se mostrou
estagnado no aprendizado, por conta do seu comportamento em sala, de não
participar no mesmo ritmo que o grupo - e quando falo em problemas
comportamentais dele, falo de atitudes agressivas e de só querer fazer
que quer. Cheguei a acreditar que ele fosse TDAH ou algo similar. Mas, a
psi dele já entendeu o modus operandi dele, assim como eu já o
havia visto, a diferença é que ela usa termos técnicos e tem um
entendimento científico da situação. Ainda assim, ele se aproxima de
hipóteses bem prováveis de distúrbio de ansiedade. Não se trata de um
diagnóstico fechado, mas, de uma característica muito visível nele.
Assim, adaptamos - eu, o pai e parte da família, bem como com o apoio da
psi dele e da pró - um modus vivendi onde entramos no mundo dele
e buscamos compreender como acessá-lo, desenvolvendo estratégias que
não entrem em choque, mas, apazigúem, sem deixar de ser firme, para ele
entender quem está no "comando", afinal, por mais que ele seja um
indivíduo, ele é uma criança. Para nossa grata descoberta, o caminho é
árduo, por ser cansativo, simples, é... porém, nada fácil: amor,
firmeza, coerência e franqueza. Trata-se de uma educação a longo prazo.
Só que, quem disse que para quem busca resultado imediato e um indicador
de "ele já melhorou muito" serve? Há quem queira mágica e resultado
imediato. Foi aí que vi que a proposta inicial da escola de "não
produzir indivíduos em série" cai no sistema "normótico"... Ainda
acredito na escola, mas, em parte da equipe, não. Dá para ver a
diferença e onde está o "problema".
Para
Pedro, deve fazer sentido. Para ele parar, deve-se haver um
entendimento. Para ele entender é fácil, firmeza, franqueza e coerência.
Fora que ele tem o "time" - tempo - dele. Isso deve ou não ser
respeitado numa escola que afirma lidar com as características
diferentes e individuais? "Ah, mas, ele não produz junto com o
grupo...". E, aí, queimar etapas? Eu penso que deveriam trabalhar,
antes, essa questão individual e trazê-lo para a compreensão do social.
Estamos pagando uma estagiária para fazer intervenções psicológicas
nele, na sala. Ela é bastante comprometida, só que, quem está acima dela
parece não dar o apoio necessário. Eu não sei... eu sinto que há algo
muito falho aí. Não quero milagre e bem sei como cansa lidar com os
questionamentos e a maneira de agir de Peu, ele tem uma inteligência
acima da média e uma curiosidade elevadíssima, fora que uma agitação
desgastantes para quem o acompanha. Isso nunca me fez cruzar os braços e
dizer: "ele é assim, deixa aí". Pelo contrário, precisei ver que ele é assim para, justamente, lidar com ele. Tudo
bem, é óbvio que com ele somos eu e ele, um para um. Na escola, a
professora tem mais 24. Ainda assim, vejo que ela dá conta, só precisa
de apoio. Com a estagiária, esse apoio in loco se faz presente, para
"conter" o comportamento dele. Não é só isso... a parceria quebra quando
sobe a hierarquia... E todo empenho desce ralo abaixo.
Morgana Gazel
traz outra frase - em seu livro "Enseada do Segredo", pela Paco
Editorial - que me faz entender onde a parte da equipe da escola ainda
não consegue acessar o "Fabuloso Mundo de Peu", e a frase diz: “Ignorar não é não saber; há um saber além do conhecimento obtido através da razão”.
Pois é, o meu desafio agora é saber o que fazer com relação à escola... insistir, persistir ou desistir?
Confio na professora, confio na diretora, confio na professora do grupo
mais avançado, mas, não confio na dupla: coordenadora pedagógica e
psicóloga da escola... O método construtivista, posta em prática, para
mim, requer mais do que qualificação acadêmica e técnica, requer preparo
de vida... Há um problema aí e a solução, para mim, não era desistir, e
sim, persistir. Ano passado a gente firmou - era outra equipe - e deu
certo. Com todo trabalho - que já era esperado - e funcionou em algumas
coisas. Este ano, desde que começou, só vi piorar e Pedro melhora aqui
fora... pensei: "se ele já melhorou seu comportamento aqui fora, na
escola é questão de tempo". Não sei que tempo vem a ser esse, sei que o
cronológico passou e muita gente ali comeu mosca por não saber como agir
com o diferente que é o propósito da escola... o público dessa escola é
esse público diferente, sem ser portador de deficiência - no sentido
patológico. Eles alegam que não trabalham a inclusão por não trabalharem
a exclusão. Há um limite para criança portadoras de deficiência... até
aí, tudo bem, é a filosofia da escola e é algo que deve ser respeitado,
afinal, requer uma estrutura mais bem preparada e que vai requerer mais
investimento... E quanto ao diferente?
Não
penso que exista uma escola que vá trabalhar o milagre, vou em busca de
uma onde os profissionais saibam o seu papel e saibam que o seu papel
está além do papel de um diploma, seja lá de qual titulação for. O papel
real cansa, desgasta e a pessoa precisa refletir: para o bom
funcionamento do meu profissional, tenho que ser uma pessoa preparada!
Hoje em dia é muito fácil entrar num Mestrado e sair apenas com o
título. E a vivência? E a experiência? E o pessoal?
Pois
é, Peu, mexeu fundo em gente grande e com títulos maiores ainda...
Gosto muito da escola, da professora, até do porteiro. Todos são
comprometidos e competentes. Essa dupla nada dinâmica de coordenação
pedagógica e psicóloga me deram a resposta que procurava: onde está o
problema? É uma hipótese muito mais próxima do bem provável...
A
escolha da escola ideal é saber ver o limite de ação dela, sem deixar
de reconhecer todo o mérito que ela tem, sim. Entender que existem
coisas que se baseiam em valores que não combinam com o da instituição é
que confunde e fica a pergunta: o que faz lá? Se estão ali, estão ali. O
que vejo é uma relação desgastada e ego ferido... como não sou perita
no assunto, muito menos psicóloga, só suponho... Como pessoa, antes de
tudo e como mãe, nesse meio tempo, preciso dosar razão e emoção para
tomar minha mais sensata decisão. Nem pisquei quando pensei em
matriculá-lo lá, mas, penso em tirá-lo... isso é bom. Consciência e
abertura de visão fazem parte, afinal, não se trata de querer que me
agrade ou supere minhas expectativas. Eu sei bem quem e como age o meu
pequeno, portanto, não sou o tipo de mãe que acha que o filho é um
santo... mas, sei que o meu também não é o demônio. E nem penso que só
existam esses dois lados. Eu vejo o meu filho como um ser humano. E lido
com essa realidade. Por isso, não esperava milagre da escola, nem
obrigação em se comprometer... Deixei clara a minha postura e se eles
estavam dispostos a dar continuidade, no que me garantiram que "sim!".
Entretanto, se há uma política organizacional, onde está a prática dela?
Onde está a coerência com as belas palavras? Na prática, a teoria é
outra? Creio que essas novas profissionais - porque elas fazem parte do
quadro há pouco tempo... creio que menos de 4 anos - não se deixaram
atravessar pela missão, visão e valores da instituição...
Em
toda parceria existe a parte mais interessada - neste caso, eu - e esta
parte precisa estar aberta e ligada, administrando tudo. Decidir faz
parte. Mas, ser injusta, nunca!
Saudações maternais,
Pat Lins.
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