Existem pessoas que levam a vida inteira dedicadas a grandes construções. Assim fazem com plenitude, porque sabem e escutam a voz d´alma. Diante de um vento forte que derrube tudo, não lamentam o que foi destruído; não sofrem. Se sacodem, tiram a poeira dos escombros e começam tudo de novo, com o mesmo afinco - ou, até maior - e com dedicação. Depois de passada ventania eles agem, recalculando o que precisa ser feito e contabilizando o que farão. Sabem que para tudo há uma possibilidade de começar. Ao redor, cada um dando o melhor de si e recebendo o melhor do outro. Nem precisam pedir apoio, já sabem que têm e que dão.
Existem pessoas que começam a construir por mirarem-se no exemplo daqueles construtores plenos e conscientes do que fazem; pedem informação, orientação e buscam encontrar o sentido da sua construção para saber o que construir, como construir e com a ajuda de quem. Essas pessoas, quando começam, sentem dificuldades; sentem o peso; olham o céu, porque, se chover, terão que parar, e sofrem por antecipação por medo da chuva que nem caiu, porque, se pararem, ainda perdem o que já tiveram um trabalho imenso para levantar e isso não é justo... - assim pensam, assim reagem. Quando começam e a ventania chega, caem junto com o que construíram. Sofrem, choram, se punem e culpam os céus por tamanha injustiça. Em algum momento, voltam a olhar os construtores plenos. Não entendem a razão de estarem naturalmente a postos e dispostos, começando, enquanto eles nem conseguiram se recuperar. Alguns sentem-se ofendidos e vão embora, deixando o canteiro da própria obra e unindo-se aos que nada constroem. Outros, levam um tempo letárgicos, sem saber o que pensar, o que fazer... Outros, aceitam a realidade, pedem um gole de água da fonte dos contrutores plenos e aproveita para pedir mais orientação. Esses, mesmo com tanto a construir, sempre têm tempo para ajudar a quem precisa e quer ser ajudado. Para eles, o tempo é uma ilusão que, para nós, lamentadores de plantão parece um afronte, uma piada... a gente acha que eles são superiores. Eles, sabem que estão num patamar mais alto, mas, sabem que sempre têm algo a aprender e ensinar. Assim, os lamentadores pela perda começam a mudar seu foco e com a ajuda certa, reajustam e focam no (re)começo e arregaçam as mangas. Construindo e buscando forças para não desistir. Guiados e conduzidos pelo ideal de que constroem a própria vida. Isso não os impede de sentir a força cruel do tempo desconhecido. Ao caírem, perderem parte das forças, pedem ajuda, bebem a água da fonte, se deitam um pouco e voltam a construir. Não sabem quando terminarão, mas, continuam a construir, com a meta de concluir ao menos um cômodo de cada vez, uma pedra de cada vez. Eles aprenderam a seguir algo por algo e sabem que não estão sozinhos, porque aqueles que já se dispuseram a começar e passaram por isso dão provas vivas de que é possível e de que fraquejar não é falta de força, mas, a força querendo se manifestar. Quem não entende isso, não suporta a própria força e a responsabilidade que ela traz e cai. O peso de sua dor foi maior e aí, a fraqueza se instala e se mantém. Para essas pessoas, a responsabilidade é um peso muito grande que não querem viver. Para os que entedem que essa força é vital e que o esforço é necessário, se apoiam, porque sabem que levantar de vez pode derrubar, afinal, a força está emergindo, a mudança está começando. Essa fase inicial requer cautela, tempo para maturar. Quando olham para o lado, sabem que não estão sós. Basta pedir que uma mão se ergue. Sabem que não podem e nem precisam fazer nada sozinhos. Estes são os aprendizes de construção, que têm como mestres os construtores plenos.
Existem pessoas que nada constroem, a não ser uma casa de palha. Esses, nem conseguem ver os construtores plenos, porque, para eles, aqueles são o inatingível; eles são as lendas, os mitos... ilusões. Essas pessoas só vêm os construtores que se esforçam e se miram nas lendas e estes são os seus alvos. Nada constroem, nada querem, por não saberem sequer o que querem, quem são ou para onde vão. Acreditam que vão onde a primeira onda levar. Pois, ali, sim, é o lugar. Onde todo mundo está. Se intitualm autênticos por terem a "força" de irem para lá, quando na verdade, são levados, sem o menor esforço. Essas pessoas que nada constroem ainda, por vezes - algumas muitas, outras poucas - se incomodam com os construtores e do nada decidem atrapalhar, roubando parte do material; ocupando o tempo deles com presença e perguntas sem sentido e se sentem ofendidos diante de um: "se você quiser fazer parte, é só pegar aquela pedra ali e começar a empilhar". Reclamam e bradam: "vai querer me fazer de escravo? Eu tenho minha vida livre, vou ficar perdendo meu tempo aqui, construindo, construindo, construindo? Eu posso ficar onde quiser.". Ainda insatisfeitos, quando a ventania derruba a construção daqueles aprendizes de construção, se regozijam e disponibilizam uma boa parte do seu tão "precioso" tempo para tentar dissuadir os aprendizes daquela construção "sem sentido" e "idiota" que volta e meia cai uma parte e eles precisam começar tudo de novo. Eles não vêm que a construção só começa de onde parou, porque, onde já tinha base sólida e paredes bem erguidas, as colunas nem se abalam. Os aprendizes, então, entendem o que os mestres falam sobre a ilusão do tempo e cedem parte do seu para ter uma conversa com os que nada constroem e dizem, com a pureza de quem entendeu uma lição valiosa: "vejam o quanto já construí. Nada fiz sozinho. O vento sempre vem, sempre passa. Ele é amigo do Mestre Tempo que, de tempo em tempo, nos lembra do que precisamos saber. Acontece que nós não temos a menor capacidade de entendê-lo e ele, então, precisa nos mostrar. Daí, manda Vento passar. O que ficar em pé, é resultado de nossa construção bem feita e bem solidificada. O que cai, foi mal feito, precisa ser fortalecido. E assim, se faz o sentido da minha obra. No dia que uma parte cai, me acomodo em outra, recupero minhas forças e retomo meu rumo. Veja lá, os grandes construtores, felizes, plenos e côncios de seus papéis.". Insatisfeito, o que nada constrói lança: "Ha! Aqueles lá vivem constriundo e nunca terminam! É nesse exemplo que se mira? Chegar a lugar algum?". Em resposta, não tão singela, mas num esforço íngreme de compreender a ignorância dessas pessoas, respirou fundo, ordenou seus pensamentos e disse: "eles constroem para nós. Veja lá, bem longe, onde nossas vistas nem alcançam, aquele vasto infinito. Ali é a morada deles. Eles, aqui só estão para ajudar aqueles que querem seguir o próprio rumo. Nada nos pede, a não, ser dedicação, esforço e vontade. Eles são livres. Nos ensinam o caminho da liberdade pelas Leis naturais da vida. Eles são tão amigos do Tempo que acabam fazendo parte dele. Vento só vem para que eles ajudem quem precisa no tempo e no lugar certo.". "Utopia!" Gritam os que nada constroem, porque, à medida que um para, tantos outros vêm sem saber o porquê e se aglomeram em grande multidões, unidos por estrondos e urros quase animalescos, de palavras pesadas e atitudes insanas de desordem e violência, sem a menor razão, sem o menor sentido. Aliás, para eles sentido é "a liberdade de não ter que se preocupar com nada". Isso é escravidão, e eles nem sabem, ainda. Agridem os aprendizes e ainda se unem para derrubar o que fora levantado, como quem quer provar e privar o outro de sua própria galgada. Conseguem derrubar algumas pequenas partes, porque eles só alcançam as partes expostas e abertas que Vento acabou de derrubar. Eles só pegam o que já está no chão, não têm poder, força ou autorização da Vida para mexer no que já está erguido. Pois, nesse instante, eis que os grandes construtores escutam um pedido de socorro e seguem em direção a horda. Quase ninguém precebe suas presenças, apenas os que de coração puro pediram ajuda e assumiram sua falta de força para sair dali. Saem de mãos dadas e andando pela multidão que nada vê, porque já nem sabem com quem se desentender. Brigam com quem está ao lado, sem saber porquê, mas brigam, afinal, todos estão brigando e, para eles, ser "autêntico" é fazer o que todo mundo faz, senão, é diferente. E a bagunça prossegue vida a dentro. Tempo passa e eles nem se dão conta. Daí, Vento vem e Vida fala: "hora de tudo isso terminar. Por que tanta algazarra? Por que tanta violência?" e ninguém ouve. Alguns, cansados, escutam uma voz bem longe, uma voz agradável de Vida, mas, estão tão cansados de onde vivem e não querem mudar para não ser diferente, já que ali é o centro normal urbano de autenticidade e futuro - detalhe é que ali não se sabe nem conjugar um verbo, quem dirá, entender em que tempo está... - e adormecem em meio a balbúrdia. Vida fala suavemente, mas, ninguém a escuta. Pede apoio ao irmão Tempo para passar de novo e quantas vezes precisar, até que Vento derrube tudo que não preste. E assim vivem os que nada constroem, a mercê da boa vontade do Tempo e do Vento, como única maneira de um dia escutarem Vida, que espera pacientemente, o dia em que cada um se tornar aprendiz de construção e, um dia, construtores plenos e, nesse dia, ela se fará mais deslumbrante porque estará unida a Sentido, que é o que falta na vida de toda essa massa, chamada "gente".
E assim, há quem construa e um novo lar firme e sólido a nos esperar, construído por grandes construtores, para nos acomodar enquanto construimos o nosso próprio lar.
Pat Lins.
Legal esse texto, Pat. Em vez de criticar, você incentiva. Está agindo como uma construtora plena. Beijos.
ResponderExcluirObrigada, Morgana! Mas, eu me vi mais em começando a ser aprendiz de construção, bebendo da fonte e me mirando no exemplo dos contrutores plenos, como você, por exemplo.
ResponderExcluirQue bom que gostou do texto. Para mim é uma honra. Cada elogio seu me fortalece, ainda mais, em meu caminho de construção.
Beijos, Pat.