segunda-feira, 3 de maio de 2010

CHEGOU A HORA DESSA GENTE BRONZEADA MOSTRAR SEU VALOR!


O texto "Em torno do espaço público do Brasil", do antropólogo brasileiro, Roberto da Matta, descreve, de maneira brilhante, um pouco do nosso "jeito de ser brasileiro" ao qual nos acomodamos e propagamos com tanto "louvor" e "patriotismo", onde romper com isso soa como impossível, mas, para mim, com boa vontade e bom senso se mudam pequenas coisas e faz grande diferença...

Aquilo que justificamos como "bobagens", já que existem problemas tão maiores para serem resolvidos, sim, é a base desses grandes problemas... A gente esquece que tudo tem um ponto de partida... Está na hora de darmos um ponto de partida para a melhoria, concorda?!

Amei o texto e coloco aqui, para uma leitura agradável, do ponto de vista de estar bem escrito e bem argumentado, entretanto, chocante, por ser uma descrição muito próxima da nossa realidade, ainda...

EM TORNO DO ESPAÇO PÚBLICO NO BRASIL
                                                                   - Roberto da Matta 

"Estou no aeroporto de Salvador, na velha Bahia. São 8h25 de uma ensolarada manhã de sábado e eu aguardo o avião que vai me levar ao Rio de Janeiro e, de lá, para minha casa em Niterói. Viajo relativamente leve: uma pasta com um livro e um computador no qual escrevo estas notas, mais um arquivo com o texto da conferência que proferi para um grupo de empresários americanos que excursionam aprendendo - como eles sempre fazem e nós, na nossa solene arrogância, abominamos - sobre o Brasil. Passei rapidamente pela segurança feita por funcionários locais que riam e trocavam piadas entre si, e logo cheguei a um amplo saguão com aquelas poltronas de metal que acomodam o cidadão transformado em passageiro.

Busco um lugar, porque o relativamente leve começa a pesar nos meus ombros e logo observo algo notável: todos os assentos estão ocupados por pessoas e por suas malas ou pacotes. Eu me explico: o sujeito senta num lugar e usa as outras cadeiras para colocar suas malas, pacotes, sacolas e embrulhos. Assim, cada indivíduo ocupa três cadeiras, em vez de uma, simultaneamente. Eu olho em volta e vejo que não há onde sentar! Meus companheiros de jornada e de saguão simplesmente não me veem e, acomodados como velhos nobres ou bispos baianos da boa era escravocrata, exprimem no rosto uma atitude indiferente bem apropriada com a posse abusiva daquilo que é definido como uma poltrona individual. Não vejo em ninguém o menor mal-estar ou conflito entre estar só, mas ocupar três lugares; ou perceber que o espaço onde estamos, sendo de todos, teria de ser usado com maior consciência em relação aos outros como iguais e não como inferiores que ficam sem onde sentar porque "eu cheguei primeiro e tenho direito a mais cadeiras!".

Trata-se, penso imediatamente, de uma ocupação "pessoal" e hierárquica do espaço; e não um estilo individual e cidadão de usá-lo. De tal sorte que alguns se apropriam do saguão - desenhado para todos - como se fosse a sala de visitas de suas próprias casas, tudo acontecendo sem a menor consciência de que, numa democracia, até o espaço e o tempo devem ser usados democraticamente.

Bem à minha frente, num conjunto de assentos para três pessoas, duas moças dormem serenamente, ocupando o assento central com suas pernas e malas. Ao seu lado, e sem dúvida imitando-as, uma jovem senhora com ares de dona Carlota Joaquina está sentada na cadeira central e ocupa a cadeira do seu lado direito com uma sacola de grife na qual guarda suas compras. Num outro conjunto de assentos mais distantes, nos outros portões de embarque, observo o mesmo padrão. Ninguém se lembra de ocupar apenas um lugar. Todos estão sentados em dois ou três assentos de uma só vez! Pouco se lixam para uma senhora que chega com um bebê no colo, acompanhado de sua velha mãe.

Digo para mim mesmo: eis um fato do cotidiano brasileiro que pipoca de formas diferentes em vários domínios de nossa vida social. Pois não é assim que entramos nos restaurantes quando estamos em grupo e logo passamos a ser "donos" de tudo? E não é do mesmo modo que ocupamos praças, praias e passagens? Não estamos vendo isso na cena federal quando o presidente faz uma campanha aberta para sua candidata, abandonando a impessoalidade como um valor e princípio, e do conflito e interesse que ele deveria ser o primeiro a zelar? Não é assim que agem todos os agentes públicos do chamado "alto escalão" quando se arrogam a propriedade dos recursos que gerenciam? Não é o que acontece nas filas e nos estádios, cinemas e teatros? Isso para não mencionar o trânsito, onde os condutores de automóveis se sentem no direito de atropelar os pedestres.

Temos uma verdadeira alergia à impessoalidade que obriga a enxergar o outro. Pois levar a sério o impessoal significa suspender nossos interesses pessoais, dando atenção aos outros como iguais, como deveria ocorrer neste amplo salão no qual metade dos assentos não estão ocupados por pessoas, mas por pertences de passageiros sentados ao seu lado.

Finalmente observo que quem não tem onde sentar sente-se constrangido em solicitar a vaga ocupada pela mala ou embrulho de quem chegou primeiro. Trata-se de um modo hierarquizado de construir o espaço público e, pelo visto, não vamos nos livrar dele tão cedo. Afinal, os incomodados que se mudem! " (Roberto da Matta)

Isso aqui, dentro de cada um de nós, que bate e pulsa, chamado coração, é um pouquinho muito de Brasil, de Terra, de Ser Humano e ele grita e bate, nos dizendo que urge a necessidade de nos olharmos, nos enxergarmos e nos entregarmos a consciência da transformação em algo melhor. Chega de aceitar e se acomodar à falta de educação como "cultural". Ridiculíssimo! Se podemos "exigir" que a cultura "evolua" para o que nos é conveniente, alegando que o tempo não para, então, hora de enxergarmos conveniência em fazer esse discurso ser real. Evolução Cultural é algo tão grande e significativo que assusta, principalmente, por nem sabermos o que quer dizer e ainda assim, exigir... Chega da "cultura" da ignorância legitimada; da estupidez conscentida; da arrogância assistida - principalmente com a assistência da "cúpula" que lidera e governa nosso Estado maior e se dizem os líderes de opinião... hora de termos a nossa para debater... -; da comodidade desmedida; da aceitação passiva - ops! não estou incitando guerra, nem movimento armado ou intelectual acéfalo aceitado... questiono a nossa aceitação como receptores incapazes de pensar e articular boas, grandes e enriquecedoras idéias. Enfim, chega de ocuparmos o espaço comum como sendo nosso e deixar o nosso como comum ao alheio...

Um saguão de aeroporto é a representação de movimento incessante de pessoas de todo, vários e muitos lugares de qualquer lugar do planeta. Não existe lugar melhor para se observar "como" e "quem" somos... fora que é fácil identificar brasileiro em qualquer lugar do mundo, com a falta de educação e respeito peculiar... eu levanto a bandeira da minha nação, com amor a pátria, mas, envergonho-me, comigo mesma, pelo meu povo... a galhorfada, amenamente apresentada e descrita pelo mundo afora como "alegria de um povo", nada mais é do que falta de limite e de "educação pessoal"!

Detesto quando escuto alguém chamar brasileiro de mal educado, baiano de preguiçoso - e mal educado, também... além de nada higiênico... - e outros tantos... para mim é incitado pelo "preconceito cultural" tão bem tolerado, mantido e perpetuado por muitos de nós, através de ações reais no sentido que conduz a manutenção dessa característica. Porém, não discordo que seja verdade. Pelo menos é assim que "nos" apresentamos a nós mesmos e ao mundo. Quem é que não joga uma garrafa de água na rua e diz: "é para gerar emprego para os garis..."?! Ou, é porque não tem o hábito saudável e higiênico de se deslocar até uma lixeira e/ou, carregar um saquinho consigo para eventuais lixos?! É tão vergonhoso ser diferente, no sentido de ser melhor????? Pois é! Muito mais cômodo alimentar essa cadeia cíclica de mal educado do que sustentar a postura de ser melhor, para não ser "diferente" dos iguais irmãos e irmãs sem "educação pessoal" e doméstica... justificar com "falta de investimento em educação escolar do Governo" não é desculpa... concordo e muito que existe esse desrespeito e falta de comprometimento de TODOS os governantes com as questões de importância primaz, mas, trata-se de educação escolar e acadêmica, eu me refiro a "educação pessoal" como aquela que nós somos responsáveis por nós mesmos em sermos melhores; de educação doméstica como resultado de uma boa "educação pessoal" e propagação desta nos hábitos do dia a dia, em nossa rotina, dentro de casa - leia-se: ambientes sociais, onde dividimos espaços físicos com outros e todos precisam co-existir em harmonia.


"Chegou a hora dessa gente bronzeada mostar seu valor..." porque "isso aqui, oh,oh,é um pouquinho de Brasil, iá,iá. Desse Brasil que canta e é feliz! Feliz, feliz!" para que continuemos a ser "a terra da alegria"!!!Cada um de nós é um pouquinho desse Brasil, será que nos damos conta?!
  
VAMOS DEIXAR UM MUNDO MELHOR PARA OS NOSSOS FILHOS E FILHOS MELHORES NESTE MUNDO!!!

PS - Leia-se "FILHOS MELHORES NESTE MUNDO" como "PESSOAS MELHORES AQUI E EM QUALQUER LUGAR".

Pat Lins - gritando um desabafo!- risos.


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