Olho para minha sombra, nada me diz. Nada além do que já não soubesse. Me diz para me buscar, porque nela, não me vejo, apenas me perco. Perdida, ponho-me a minha procura. Olho no espelho e me vejo. Eu! Finalmente, me vejo: meus olhos, por onde vejo o concreto do mundo tangível, suas cores e paisagens... toco-o com meu olhar; meu nariz, através do qual sinto os cheiros: o cheiro da vida; o odor insípido da superficialidade; o cheiro envolvente da esperança. Vejo minha boca, abertura capaz de proferir o que penso e o que penso pensar. Vejo e não vejo, vendo além, além de onde se pode olhar, onde o olho não vê, só quem vê é o olhar. Vejo minha cabeça, cheia de cabelos a voar, soltos ao vento, livres e felizes; minha mente, que não vejo, mas, me guia e diz: "eu existo. Sou muito mais você do que você é capaz de imaginar". Minhas mãos, que tudo pode tocar, menos aquilo que vejo, só através do meu olhar. Me materializo diante de mim, sem poder me tocar... Espelho me reflete mas não sou eu. Sendo e não sendo a alternar. A luz entra pela janela: sombra e luz, reflexos de mim. Eu, a me mirar. Onde estou? Ainda parada, sem me mexer e a me transformar. Continuo, deixo de ser, volto a ser, me volto e muda a luz, mudo eu, ainda sendo e não sendo. Eu a me alternar. Concluo: sou mais do que me vejo, do que me toco, do que me cheiro... Sou mais, um mais tão maior que sou incapaz de conceber e me certificar de quem sou eu extamente, porque sou infinito, como o ar; sou infinito como o tempo; sou uma poeira levada pelo vento, uma poeira cósmica com poder especial de ser única. Sou eu e sou muito mais: EU MESMA a me movimentar. Me encontro com minh´alma: SOU EU.
Pat Lins.
Que texto poético! Percepção fragmentada como de fato é. Como poderíamos alcançar uma visão completa de nós mesmos, se somos apenas uma partícula cósmica que, ao mesmo tempo, tem o universo dentro de si? Impossível o conhecimento total. Temos, pois, de nos contentar com conjeturas diante do espelho.
ResponderExcluirUm grande abraço,
Morgana Gazel