Já começaram... as campanhas, lógico, já começam a mostrar o que não existe, criar um clima "copa feliz! Brasil, país do futebol recebendo o mundo do futebol do mundo!". Praticamente, um país de primeiro mundo. Até eu já estou me vendo saindo nas ruas com tranquilidade, num país paraíso, com ruas asfaltadas e com asfalto de qualidade sempre, segura, sem medo de ser feliz, afinal, estou no Brasil - país sede da Copa do Mundo de 2014! Isso é inteligência pura! Não sei porque só usam para criar ilusão... essas inteligências seriam fortes aliadas se fossem sábias. Oh, que pena!
Essa Copa aqui no Brasil vai nos fazer colocar em prática a máxima deste blog: viver o aqui e agora. No caso específico do grande evento, é mais como disse Vinícius: "... que seja infinito enquanto dure...".
Do mesmo jeito que a Coca Cola trabalha as mensagem de relacionar a bebida com um estado de felicidade... ou seja, ela faz a diferença e a gente acredita nisso. "Abra a felicidade!". Somos felizes por bebermos Coca Cola, uau! Nossa, quão profundo somos. Me emociona...
Pois é... as coisas começam aos poucos e vão entrando em nossa mente que a gente nem sente. Sem violência. Sem brutalidade. Se é possível fazer isso, a gente pode fazer o contrário, começar a desconstruir. E dizer: tá, já que a copa vem, tudo bem. Mas, eu não estou satisfeita com os gastos desnecessários e tudo mais. Ou: tenho consciência de que isso tudo não é real, bem que poderia ser, mas é não.
E fica uma reflexão: o Brasil "nasceu" de maneira desestruturada, praticamente, vítima de um estupro. Mataram os índios que aqui viviam e tomaram o lugar a força - pouca força, diga-se de passagem, porque os índios "selvagens" não representavam a violência como nos fazem achar... eles não são os bandidos - e passaram a mensagem de que "civilizaram" esse país selvagem, para o qual Deus nunca olharia, porque não eram catequizados pela igreja Católica de Portugal. Só não entendo como Deus é brasileiro... O brasil cresceu de qualquer jeito, tal qual menino de rua, sem educação, saúde, ambiente saudável e estruturado e etc. Mas, hoje, é o Brasil e não temos como mudar o passado, nem como foi feito. Como diz Elisa Lucinda: "Não dá para mudar o começo, mas pode dar para mudar o final", ou o atual, né?!
E o que é o Brasil, hoje? Com uma Copa que nos fora empurrada goela abaixo, que nos fará curtir o presente, assim que ela se fizer presente, e gritaremos juntos o nosso patriotismo forte e racional através do futebol. Acho massa torcer pelo time. É muito saudável praticar e incentivar o esporte. O que abro aqui é o questionar do que está além e se fará presente já, já...: nós não temos estrutura alguma para sediar um evento desse porte. Nem me refiro ao que vai acontecer com os estádios elefantes brancos no período pós Copa. Me refiro ao todo: saúde, segurança, profissionalismo, etc e a nossa integridade.
Não me preocupo com a imagem que será vendida lá fora... essa é inventada - e já foi discutida há muito tempo, para se elaborar um belo e eficiente plano de ação estratégico e tático - e manipulada com belas propagandas onde pessoas de todas as cores, classes - que, nas campanhas nem se faz necessários o plural, é apenas uma classe: a da felicidade e união, sem discriminação... coisa mais linda de se ver - e credos estão lindas e sorridentes, juntas, parecendo que o racismo não existe aqui, num país tão tropical e negro, além da África; a pobreza é só uma coisa falada, mas não se sabe o que é por conta do apoio solidário de diversas empresas que aparecem "ajudando" e criando alternativas para "mudar essa pequena realidade", nos fazem acreditar que o que vemos nas ruas, diariamente, isso, sim, é ilusão. A vida é ilusão, gente! O que vemos não é real. O real é aquilo que assistimos produzidos em estúdios - uma pequena parte - e em computadores de alta performance que criam uma realidade virtual tão fantástica que dá vontade de viver aquilo, de viver lá! Me lembrei do "Show de Truman", o filme e nem sei porquê... Ah, se cada designer conseguisse criar um mundo real tal qual o virtual e digital.
Me preocupo com a imagem que no deparamos diariamente... a real, mesmo que a neguemos. Me preocupo com o tratamento que receberemos. Estão agindo tal qual a etiqueta manda: receba bem as visitas. Sabe, quando tiramos o aparelho de porcelana do armário e fazemos aquele jantar especial, com talheres especiais? - em meu caso, já uso no dia a dia... aprendi a celebrar a cada dia e com as pessoas que amo no presente, porque nós somos especiais, em qualquer dia. Pois é... aparência não celebra a vida! Aparência celebra uma superficialidade fingida por interesses escusos...
Isso é que me preocupa... quem cuidará de nós? O apartheid se fará aqui, conosco. A segregação vai ser nítida: todo brasileiro é suspeito e perigoso.
Ninguém se iluda... os países de primeiro mundo já enviaram gente para observar o Brasil nos últimos anos. Ou todo mundo acha que eles são estrategicamente limitados como nós, que deixamos tudo para resolver na hora - e isso não é uma questão de otimismo, de deixar as coisas acontecerem... somos relapsos, sim, e não sabemos nos programar. Com certeza, sabem que terão que trazer suas próprias forças armadas, para reforçar a nossa que ganha pouco e que é subvalorizada... portanto, descredibilizada. Isso é o que temo, e não é angústia ou sofrimento por antecipação, é sofrimento consciente de quem vive o dia a dia vendo e sabendo que não é ilusão: é real. Uma realidade preocupante desde já e que uma bela maquiagem não mudará a verdade. Esse é o meu temor: temo por nós no hoje. E quando esse hoje for em junho de 2014, não haverá tempo de fazer mais nada. Desde que o Brasil foi "sorteado", quanto tempo houve para se fazer algo real? Mudar de verdade o Brasil e, consequentemente, ter base para sediar um evento desse porte? Nós seremos apresentados ao mundo em fragmentos e recortes mínimos, apenas a Copa aparecerá. Alguém viu algo de ruim na África? Pessoas com fome, miséria ou algo assim durante a copa lá? E isso fez com que o estado de miséria deixasse de existir? Foi um pause, dando play logo após o encerramento lindo, com shows belíssimos para quem é de fora?
É esse tipo de controle remoto que temo... uma realidade surgirá em meio à nossa realidade e a gente nem vai saber em qual das suas está a realidade real... essa confusão vai nos deixar tontos e ainda mais vulneráveis para o que virá em seguida.
Alerta, meu povo! As eleições etão chegando... Onde está a ordem, para se existir o tal progresso?
Brasil, mostra a tua cara! Mas a cara de ordem e progresso, não a dos black blocs, por favor! Ah, esqueci: como vamos mostrar a nossa cara se nem sabemos quem somos nós? QUEM SOU EU?
Pat Lins.
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