segunda-feira, 29 de outubro de 2012

SOFRER OU (RE)VER - SE? EIS A QUESTÃO!


Sofrer é muito fácil! Por isso que todo mundo sofre! Melhor, por isso que todos nós sofremos!

Para escrever esse texto, comecei com a idéia de desabafar sobre as atitudes de duas pessoas que conheço e não mais convivo por opção, por DS - distância saudável - extremamente necessária. Depois, me veio um pensamento e sentimento diferente... de entender que, ainda que parta delas o ataque sem consciência das próprias afastadoras ações, o manter a DS não quer dizer "intuito de ofender". Lógico que elas sentem esse afastamento... eu, da minha parte, evito mesmo os encontros. Eu, da minha parte, reconheço minhas limitações e, assim, entendo que sou humanamente imperfeita, mas, convivo e mantenho um vínculo de amizades - inclusive com minha família - duradoras, honestas, abertas, francas e pautadas em realidade. Com histórico de desavenças, de brigas homéricas e tudo mais. Mas, existe uma coisa: honestidade de cada parte envolvida. O vínculo que nos une é mais forte do que as situações esporádicas e contextuais que acontecem. É importante ver que o outro está em seu limite também e respeitar o espaço dele. Foi o que aprendi com minha mãe e até hoje temos uma relação muito mais do que mãe e filha, temos uma relação de amigas íntimas. Isso não impede minha mãe de se chatear comigo, diante de algumas atitudes minhas e vice-versa. O que nos é impedido é romper o lacre - lacre é feio... o elo fica melhor... - que nos une por conta de algo pontual. Ou se conversa até o final ou se compreende antes e deixa passar. Deixa de existir mágoa, raiva ou algo similar? Não. O como lidar e o deixar passar, sem rancor e sem ressentimento é que conta.

Pois, continuando sobre minha idéia inicial, fica a questão: numa relação, ambos se magoam, porque são mundos e mentes distintas e interpretações diversas - ah, isso mata! Interpretar é emitir julgamento de valor... é altamente subjetivo... Não se interpreta o que o outro diz, se escuta e se sente, afinal, muitas vezes, pessoas não sabem o que e como dizer e acabam falando qualquer coisa e usando uma postura corporal, uma expressão facial... que diz o que quer dizer, como um olho arregalado. Isso me inquieta. Isso me intriga. Mas, não posso mudar o mundo dos outros. Não é meu papel. Muito menos o do meu filho que saiu de mim. Com relação a filho, a gente faz o que julga o melhor, sem deixar de ver que podemos estar errando. Eu mudo constantemente o jeito que lido com meu filho e nem eu, nem ele, somos perfeitos ou mudamos rapidamente. Isso é dinâmico demais para tentar explicar e requer tempo de maturação... é um complexo de coisas micro e macro ambientais que nos circundam, que nos compõem e etc. 

O que me deixa ainda mais inquieta é a falta de neutralidade e o estágio rápido que as loucuras insalubres - aquelas onde as pessoas atacam sem consciência dos atos, mas, também, não deixam de fazer... e não reconhecem as consequências do que fizeram porque nem fazem idéia do que fizeram e de que fizeram - fazem com que as mágoas aumentem e ceguem de vez algumas pessoas. Por mais que doa ter dois filhos, por exemplo, que não se dão bem, dói muito mais tomar partido de um e jogar no outro o peso. Assim: um dos filhos é extrema e comprovadamente - por todos aos ser redor e por histórico pessoal, profissional, familiar... - de difícil convivência: egoísta; invejoso; grosseiro e agressivo, diante de uma negativa às suas investidas e desejos não satisfeitos pelos outros; infantil; egocêntrico;... só aparece quando tem interesse em pedir algo; fora que é incapaz de agradecer ou sentir-se grato à vida por tudo que tem, teve ou recebeu... pelo contrário, reclama e se faz de vítima o tempo inteiro: estou sem dinheiro, estou sem trabalho... nem adianta sugerir bolsa família porque a pessoa em questão, pobre coitado, tem dois imóveis próprios e quitados, em locais de classe média alta, dois carros e um monte de reclamações pelo que não tem e não se esforça para conquistar... para piorar, ainda inferniza quem está em busca. O outro, trata-se de uma pessoa honesta; boa; imaturo, mas do bem; sempre esteve ao lado da mãe, do pai, da família... e do "irmão" problemático, apagando incêndio, sem nunca ser reconhecido por este... pelo contrário, o irmão problema só queria sugar. Parece novela, mas, não é. É vida real nua a crua. São duas pessoas de minha convivência - hoje, apenas um deles, porque o outro, como falei no início, tomei a decisão de manter a DS mesmo... - é preciso ter muita força, ter um preparo psicológico forte e bem desenvolvido para lidar com essa pessoa sem entrar no jogo frenético de loucura insalubre... essa pessoa conseguiu sugar as forças dos pais e, o que é pior, os pais ficam contra o "do bem". Compreendo que o problemático demanda mais atenção, mas, o que é feito para ajudá-lo? Deve doer para uma mãe não saber o que fazer, mas, sempre fazer a mesma coisa que é ceder aos caprichos e não dar um limite. Para quem está de fora, vê-se que é muito pior, porque alimenta essa loucura e permite que ela cresça e cada dia menos, menos gente aguenta essa pessoa.

Me incomoda a cobrança dessa pessoa e a posição de vítima que se coloca por essa distância estabelecida. Não entendo o motivo de querer tanto ao lado uma pessoa que ele só suga. É isso, perdeu a fonte de alimento. E se dói, como se o outro fosse cruel e insensível a ponto de abandonar. Me questiono: isso é normal? Como lidar com essa situação? Como seguir a própria vida com esse peso extra? Sim, porque todo mundo tem seus pesinhos para ir aprendendo a deixar e ir buscando a leveza à medida que consegue se libertar dos pesos... imagina com outro querendo jogar os pesos que lhe cabem nas costas alheia?!

Não sei e, mesmo que soubesse, não caberia a mim, dar algum conselho a essa mãe. A não ser: "sofrer ou (re)ver-se?". Veja como age? Veja como julga? Isso não é conselho, é levantar de questões para quebrar o que já fora criado pela dor. A cegueira a faz represar um sentimento de raiva pelo filho "do bem" - que ela mascarava e, hoje, sem forças e sem perceber que quem suga suas forças é o "filho com sérios problemas" ela descarrega em cima do outro filho, como se fosse mais fácil. O "filho do bem" acabou se afastando, naturalmente, da mãe e do irmão, por não saber como lidar com ambos e se ver constantemente atacado e sendo depositado nele o peso de que ele é quem tem que ter paciência. Ou seja: suporte as loucuras e as irresponsabilidades do seu irmão, senão a culpa é sua! Isso é justo? Se dói para essa mãe ver-se impotente diante do "filho problema", resolve ela criar essa imagem de monstro do filho que não é problema? Resolve ela ficar com essa raiva por ele ter se afastado dela? Em algum momento ela sentiu a dor do filho "do bem" e a sensação de ser rejeitado e usado que ele ele teve? O "filho do bem" também comete seus erros... nunca se abriu para a mãe. Ele desabafa comigo e eu, naturalmente, acabo tomando partido, até porque eu sei bem como age o irmão e já fui vítima de diversos "ataques" de suas sandices. Mas, para quê falar se dói? Magoa escutar a verdade. Dói menos tapar o sol com a peneira e jogar o peso e uma crescente raiva em quem não tem nada a ver, do que se voltar para ajudar o "filho problema". Essa é a minha maior inquietação: é possível ajudar essa pessoa recusando-se a ver quem essa pessoa é e descarregando no que não tem nada a ver e escolheu se afastar para não mais receber as rebordosas? É justo receber esse peso? Como fazer essa mãe ver suas ações, sem magoá-la? Afinal, ela também tem os seus limites... só não se permite reconhecê-los para se ajudar de verdade. E assim, a bola gira, o círculo se quebra, a reta se faz e cada um segue seus caminhos. Vida que segue. Vidas que seguem. E se cruzam. 

É muito mais fácil sofrer do que ver-se! É muito mais fácil cobrar do outro que, aparentemente, não tem problema, porque tem apoio de terapeuta, de esposa, de amigos novos... porque se trata de uma pessoa que planta coisas boas e colhe coisas boas, do que entender que o outro filho colhe o que plantou. Não falo com dureza, mas, é ver a consequência das ações dele... Este, briga com todo mundo, faz intriga, não assume o que fala e faz... inventa e joga o crédito nos outros - eu que diga... tanto que tirei meu time de campo e deixei ele mesmo se entregar... as máscaras caem até para quem não tem consciência de que as usa, mas usa. Esse é o grande problema de quem não "vê" o que faz: não deixa de fazer por não ver.

Me incomodou e muito ver essa mãe não estar à vontade com o filho mais velho - o que eu chamo de do bem. Não que o outro seja do mal, eu o chamo de "problemático", porque ele tem sérios problemas psicológicos, psíquicos e mentais, comportamentais, éticos, de caráter, de valores... de ações. Aos olhos dessa mãe, como ela já afirmou, espera que ele tenha paciência com o irmão. Certa vez ele explodiu - e, aí, nessa explosão após tanto ter sido pressionado, ela suspira um "viu como você faz?" - e disse: "pede para ele ter paciência comigo e com todo mundo, também!". Pronto, perdeu a razão... para ela, aquela explosão era tudo que queria: um momento de fúria para justificar sua raiva dele e ter pena, ainda mais pena, do outro. Isso me abala. Ver que as pessoas criam situações para justificar suas ilusões e fantasias e, pior, tanto fazem que, numa reação natural elas conseguem comprovar a própria fantasia, ainda que a realidade seja outra. A explosão dele foi injustificada? Ver-se sendo condenado por algo que não lhe compete é algo agradável? Nem todo mundo tem esse preparo e a força que me refiro é essa, a força do ego para entender que esses ataques não lhe dizem respeito e entender que nada mais é do que reflexo da dor do outro... entender isso é que requer essa força e essa inteligência emocional. Mas, convenhamos, nem todos nós temos. A diferença é que, ao se afastar, tem-se tempo para elaborar e seguir com as próprias escolhas e ele escolheu se afastar para ficar forte e não condenar essas pessoas que tanto o atacam gratuitamente. Isso é nobreza. Isso é bom caráter! Ele se trata com terapia, vida social, vida profissional... ou seja, ocupando seu tempo de maneira produtiva - ao contrário do outro que não faz nada da vida e ainda se queixa da falta de tempo... é aquela história, quem mais tem tempo livre é quem menos tem tempo útil... - e se ajuda como pessoa. Um dia, leve o tempo que levar, talvez, ele tenha essa força emocional para dar conta de conviver com o irmão, ou não... Infelizmente, só quem pode resolver nossos problemas somos nós mesmos. Por mais ajuda que recebamos, se não houver vontade de se ajudar, se não houver capacidade de se ver e se assumir, não tem santo que dê jeito, aí, só Jesus salva!

E fica o apelo para essa mãe: pode ser duro, mas, tente ver o lado do seu outro filho também, o mais velho, porque ele já precisou muito de você e não a teve como ele precisava. Ajudar ao outro é fazer pelo outro o que ele precisa, não o que ele queira ou você queira, esse é o ponto de divergência entre eles: a aparente capacidade de refletir da mãe é uma inflexibilidade que a manipulação sustenta, ou ele faz como ela quer ou, nada feito... mas, o que é preciso ser feito? É complicado? É! Muito! Complicar ainda mais, resolve, ajuda? Se não começar o ajuste, o afastamento será maior e cada dia maior. E condenar quem se afasta por escolher viver em paz, sem essa agonia desenfreada não merece a condenação que vem tendo. Infelizmente, reconhecer que o filho problema pede ajuda urgente e profissional não é motivo de mágoa, de lamentar... lamentável é não ver ação, não se fazer nada e esperar um milagre de portas fechadas. 

Por isso que eu sempre me pergunto, antes de estabelecer uma DS ou estabelecer um contato direto: "sofrer ou rever?". 

O ciúme entre irmãos é um perigo e se os pais não souberem conduzir de maneira equilibrada - até com ajuda profissional - isso aumenta na fase adulta e segue, se espalhando. O ser ciumento é possessivo, agoniado e medroso... vive em estado de tensão e vive implodindo e explodindo em quem estiver ao redor. Tem ciúme de todos e quer ser o centro das atenções de qualquer maneira. É pesado... mas, deixar correr solto e, volto a lembrar, cobrar de quem não deve, nada se resolve! 

Plantar coisa boas não impede de que ervas-daninhas invadam o campo... o plantar requer o cuidado na limpeza do solo, também, para cortar esses invasores - que têm a função de lembrar "cuida, zela o teu campo". Isso é "ariar" o tal karma, é recolocar-se no caminho rumo a essência, não criar um caminho paralelo que só te faz andar, andar, andar e se mexer. É preciso se mover no e para o caminho certo. Andar a ermo, para qualquer lugar é qualquer coisa, só para não ficar parado. 

Pat Lins.

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