sexta-feira, 19 de junho de 2009

"VAMO DANÇÁ A QUADRIA"


“Os rapazes e as moças entraram no salão e se organizaram em pares, fingindo que o faziam ao acaso. Assim, Danilo ficou com Rosinha, e Fred com Jéssica. “Pelo menos, agora, ela não fugiu...”, Fred falava com seus próprios botões. Foi interrompido pelo toca-fitas que abafou, com o ritmo junino, todos os ruídos. Em seguida, arrastando notas de alturas próximas, como se sua voz flutuasse sobre a música, Dr. Libório pôs-se a fazer a marcação:


– VAMO COMEÇAR A QUADRILHA, PESSOAL – ele gritou. Os pares gritaram – VAMOS! – e ele continuou:


– CAVALHEIRO PRUM LADO E DAMA PRO OUTRO.


A música animada afugentou a inibição, e os rapazes e as moças obedeceram à ordem, no ritmo da dança.


– HOMES DE FRENTE PRAS MOÇA. VAMO LÁ, MINHA GENTE.


Fred tentava não olhar para sua dama, não queria tropeçar nos próprios pés tão grandes.


– CAVALHEIROS CUMPRIMENTANDO AS DAMA.


Fred curvou-se diante de Jéssica, como todos os demais diante de seus pares, seu coração, porém, saiu do compasso.


– AGORA AS DAMA CUMPRIMENTA OS CAVALHEIRO.


No gostoso balanço da música, as damas chegaram-se aos cavalheiros, depois voltaram a seus lugares.


– OS CASAIS SE JUNTA DE NOVO. OLHA O BALANCEIO.


Todas as mulheres dançavam, mas para Fred só existia uma...


– VAMO COMEÇAR O PASSEIO.


A música rolava e os casais, de braços dados, dançavam.


– PASSEANDO, MINHA GENTE, ATÉ FORMAR UMA RODA DO TAMANHO DESTE SALÃO.


Fred não entendia. Seu coração era um perfeito idiota. Alegrava-se com o quê? Ela estava pendurada em seu braço apenas por causa da dança.


– AGORA, TODO MUNDO DE MÃOS DADAS – QUE BELEZA!


Fred concordou; era realmente uma beleza a garota a seu lado.


– FORMANDO DUAS RODA, PESSOAL. DAMA, POR DENTRO, CAVALHEIRO, POR FORA. SOLTA SUA DAMA, DANILO. Ô MENINO DANADO!


Todos riram, inclusive Danilo.


– VAMO GIRANDO. AS DAMA PRA DIREITA, OS CAVALHEIRO PRA ESQUERDA.


As rodas ficaram a girar. A música rolava, os rapazes e as moças dançavam. Era um espetáculo para os olhos! Você precisava ver.


– AS DAMA PARANDO. OS CAVALHEIRO GIRANDO, ATÉ ACHAR SUA DAMA. ACHOU!


Os rapazes dançavam, as damas rebolavam em frente.


– QUE BELEZA!


Nenhum cavalheiro seria capaz de negar.


– AGORA, O CARACOL, MINHA GENTE.


A música rolava e a fila enrolava... Fred segurava Jéssica pela cintura. Um fogo tomava-o por inteiro. Seria o calor?


– A CAMINHO DA ROÇA, PESSOAL.


O balanço das saias e a música quente, em uma longa fila dançante.


– CUIDADO COM A COBRA!


Gritos e risos atravessaram a melodia. Fred também riu; viu Abud correr em desatino. Mas, que nada! Ele dançava, como todos, no ritmo jocoso do sertão.


– É MENTIRA.


Fred continuou em seu devaneio; seria uma cobra de mentira ou uma mentira sobre a cobra? E Jéssica, em sua frente, rebolava animadamente.


– COMEÇOU A CHUVA. NÃO DEIXE MOLHAR A ROUPA NOVA, GENTE BOA.


As mãos cobriram as cabeças, mas os corpos obedeciam à melodia.


– JÁ PASSOU.


Com ou sem chuva, a música contagiava, cúmplice com o marcador.


– VOLTANDO AO PASSEIO. TODO MUNDO DE BRAÇO DADO.


Fred obedeceu e agradeceu ao marcador que dançava.


– TÁ BONITO!


Mais uma vez, Fred concordou.


– PREPARAR PRO TRAVESSÊ. UM CASAL PRUM LADO, OUTRO CASAL PRO OUTRO.


A musica a rolar e duas filas de casais a dançar.


– TRAVESSÊ DE DAMA. VAMO BALANÇANDO.


As damas passando para o mesmo lado. A música a balançar as cadeiras das damas.


– TRAVESSÊ DE CAVALHEIRO.


Os homens para o outro lado. O ritmo nos pés dos homens.


– HORA DO GALOPE.


O passo célere, galopado. Cada par em sua vez. Sem esperar, a música movimentava as cadeiras das mulheres e os pés dos homens.


– VAMO LÁ, PESSOAL. GALOPANDO.


O par a galopar entre a dança das mulheres e o ritmo dos homens.


– VOLTANDO A SEU LUGAR, CADA QUAL COM SUA DAMA.


Os pares a se juntarem em duas filas dançantes.


– JUNTANDO AS FILA. E VAMO CONTINUAR O PASSEIO.


E outra vez se formou a grande fila. A música a contagiar as cadeiras das mulheres e os pés dos homens.


– CUIDADO COM O TÚNEL! É ESCURO LÁ DENTRO. VAMO PASSAR, SEM PERDER O RESPEITO.


A luz do salão apagou-se e logo se acendeu. Todos gritaram. E cada par atravessava um túnel feito com os braços dos casais que dançavam.


– TÁ BONITO!


Era o marcador que retornava às festas do passado.


– VAMO VOLTAR PRO ARRAIÁ, PASSEANDO.


Ao som da melodia, os casais voltaram a passear.


– CHEGOU A HORA DO ARRASTA-PÉ, MINHA GENTE!


O marcador já dançava antes do arrasta-pé começar.


– AGORA VAMO DANÇAR, ATÉ O DIA CLAREAR.”



(trecho da festa de São João do livro Enseada do Segredo, de Morgana Gazel)

terça-feira, 16 de junho de 2009

FALANDO CARA A CARA COM DEUS


Acabei de ler um livro - A Cabana - e senti pulsar dentro de mim uma pergunta - não, não é se a história é verdadeira "de fato", afinal toda história, ainda que seja inventada, traz uma verdade - mas, a pergunta que pulsa é: "se eu encontrasse Deus, cara a cara, como Mack qual seria a minha primeira pergunta?"...


Um jorrar de perguntas me veio, mas, cada uma perdia força em si... bastava ser formulada, em pensamento, que seu sentido se esvaía, elas "se respondiam". Mas, uma ficou: "como faço para deixar de ser 'juíz' da minha vida e da vida alheia?". Essa pergunta me faço constantemente, inclusive aqui, nesse meu cantinho, onde guardo alguns pensamentos importantes para mim - "se há uma importância, é importante" - e me senti sendo julgada. Se pudesse, daria esse livro de presente para tanta gente! Não apenas àquelas pessoas com traumas expostos, mas, ao máximo de gente possível. Trata-se de tocar os corações em busca de um mundo melhor. Sim, darmos a nós mesmos a chance de sermos alguém melhor; de transformarmos esse nosso planeta num lugar melhor, apenas melhorando a nós mesmos.


Trata-se de não só querer deixar um lugar melhor para nossos filhos, mas, deixar filhos melhores em nosso mundo. E é simples, porém, difícil - risos: perdoar; aceitar as mudanças; respeitar a si e ao próximo - leia-se próximo como qualquer outra pessoa que não seja VOCÊ! -; compreender que as leis de Deus e do Universo Divino não são imposições legais, como comparamos com as leis humanas, mas, que são amor, um amor acima de nossa inteligência e julgamento. Deus não é uma criação humana, Deus, é Deus. Como diz no livro: "Deus é verbo: Ele é.". Trata-se de não se ter certeza - como minha amiga Noemia sempre fala e age - mas, ter fé. E a fé é isso, crer em algo que nem nossa razão é capaz de "racionalizar". Deus é muuuiittooo mais do que isso: Ele, de fato, é!


Como nos prendemos e travamos, fechando as portas para relacionamentos que gostaríamos de ter tido, e evitamos, por tabu - aliás, tabu é um...a merda - ou outro sentimento nada nobre... eu mesma, gostaria de ter me aproximado de algumas pessoas - não me privei muito de viver em contato com quem quis. Fiz grandes amigos e tenho uma família imperfeita, mas, perfeita em nossa união - mas, uma "razão", "sem razão" me privou e evitei... até hoje, para ser sincera evito, algumas pessoas, mas uma, em particular. Na verdade, carrego um julgamento forte por essa pessoa e na posição de juíz que me coloco, o culpo pelo que me tira a cada dia, como um fantasma... culpo uma pessoa por ter privado meu marido de se amar, porque fora distratado por esse homem, por toda a vida... e, sem entender o motivo, de tanta raiva e rancor, de um homem, que poderia ter se libertado das tristezas de sua própria vida, sem levar a infelicidade para o próprio filho... enfim, a questão é que carrego essa "raiva" - com algumas "razões" pouco razoáveis - mas, que não me cabe - nunca me coube - julgar esse pobre coitado, que deve ser um infeliz preso dentro de si e incapaz de se perdoar, nem perdoar a própria vida... Veja quantas "infrações" eu cometi: julgar, condenar, evitar, sentir raiva... tudo isso de alguém que precisa de amor e oração para se libertar de toda crosta que se fechou. É buscar a pérola - tesouro com dor e sofrimento que traz a beleza e a preciosidade, através da oportunidade de se deparar com o belo - dentro daquela ostra. É entender, de fato, que Deus nem vai me punir, nem a ele, por vivermos avessos um ao outro, mas, que Deus espera que nós mesmos nos libertemos, para recebê-Lo em nossas vidas. Esse é o império divino, existir dentro de nós!


Lógico que essa não foi a única lição que tirei na leitura desse livro. Mas, só lendo para descobrir-se e libertar-se!


Ler um livro, vai além de críticas literárias e formas de cada um dizer a sua verdade. É uma maneira de estarmos diante de diversas verdades, sem deixarmos a nossa de lado. É entrar em mundos diferentes, sem julgamentos ou busca de padrões literários.


Outro livro que li e me abriu uma grande fenda em busca da minha transformação foi "Enseada do Segredo", de Morgana Gazel. Gente, ler é se deparar com nossas emoções o tempo todo. Quando paro para me avaliar, através da leitura do que me escrevo, como esse post - escrevo o que está dentro de meu coração, numa região íntima e pessoal, para mim mesma, num nível de abrangência da auto-leitura e em direção à minha razão e minhas limitações impostas, inclusive através de medos imaginários - me deixo tocar. A leitura por si só, já nos leva a uma leitura de nós mesmos. Como é recomendado re-ler o que se leu, afim de trabalhar as emoções despertadas e/ou represadas, leia-se sempre. Leio-me sempre! Minha vida não é nenhum mar de rosas, mas, também, não é uma inundação, ou uma casa invadida por terra, após as chuvas... mas, a maneira como me vejo e me amparo, me fortalece no processo de mudança. Ah, gosto de deixar bem claro esse meu pensamento: "me fortalece no processo de mudança", porque venho observando - não julgando, mas, observando... tem um pouco de julgo, sim... mas, não se expande, nem condena... - que muitas pessoas realizam exercícios de fortalecimento ao ego, ou auto-estima e não mudam... vejo pessoas que fazem ioga a anos e são iguais... vejo pessoas que frequentam igrejas ou religiões, te repetem a Bíblia inteira, mas, em suas ações... são contradições que vejo e constatei que a "culpa", ou melhor, a situação não depende do externo, e, sim, do interno. Você pode estar com alguma energia, tipo ansiedade, por exemplo, represada dentro de si e de seus questionamentos, você vai, dá um passeio na praia, mira aquela belíssima paisagem, faz algumas posições de ioga, se "acalma" e continua sendo a mesma pessoa... Por que não se pergunta de onde deriva o medo que sente e que vem gerando sua ansiedade, para curar a causa e se modificar e, através do mesmo exercício, livra-se da enrgia certa e capaz de empreender a sua mudança? A calma temporária acaba gerando um exército de gente que difama processos ou instituições que poderiam ajudar na transformação. Mesma coisa quem frequenta uma igreja, na hora do aperto vai, senta e se entrega às orações em busca de calma. As palavras, a força do ambiente, até a presença de Deus, pode-se dizer - já que Ele sempre nos ampara, onde quer que estejamos, desde que de coração aberto... não creio que Ele seja esse ser punitivo e vingativo... não combina com amor e perdão divinos... - geram seu conforto. Conforto alcançado, de volta a vida "normal" a pessoa faz e age do mesmo jeito... é hora de romper esse círculo vicioso. Vamos nos dedicar a viver um círculo virtuoso. Harmonia, amor, paz e serenidade verdadeiros e reais! Perdoar-se; perdoar. Libertar-se; libertar! Amor; amar!!!


Sempre é hora de andarmos para frente. Se permitir mudar e aprender com os erros é crescer e se libertar! É, ainda vou me libertar e me permitir conhecer essa pessoa que evito com tanta raiva descabida... sem expectativas, sem esperar que eu agrade... apenas, me libertar da posição de "juíz" e descer ao mesmo patamar, porque somos todos iguais.


Falando cara a cara com Deus... acho que deitaria num cais, a beira de um lago, debaixo de um céu perfeito e ficaria calada! Viveria a emoção. Mesmo sem vê-lo cara a cara, através dos meus olhos humanos e limitados, gosto de sentí-Lo e pedir perdão por volta e meia julgá-Lo... aceitar as dificuldades não é fácil, mas, não deve ser fácil para Ele nos ver destruir tudo que Ele criou com tanto amor, inclusive nós.


Falando cara a cara com Deus? Nós já estamos com Ele e Ele em nós, só precisamos, em vez de querer ver com nossos olhos que a terra há de comer, escutar e sentir. Vamos deitar e nos transformar em nossas cabanas internas!


Ah, para falarmos cara a cara com Deus, podemos nos olhar no espelho da verdade, do amor, do perdão, da entrega ao bem... e vê-Lo! Deus está aqui, aí, lá... em todo e qualquer lugar a todo e qualquer instante! Aliás, nós estamos Nele!


Deus abençoe! Muita paz!


Pat Lins.

domingo, 7 de junho de 2009

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Espiritualidade - por Leonardo Boff



Você já viu Deus?




"Minha mãe era analfabeta, nunca quis aprender a ler. Certa vez eu lhe trouxe um caderno e um lápis bentos pelo Papa Paulo VI para ver se ela se animava a aprender. Minha mãe jogou longe, dizendo: 'Para que eu quero aprender a ler e escrever se tenho onze filhos que fizeram universidade, quase todos doutores. Para quê? Eles sabem por mim. Não preciso eu estudar e saber.'




Mas era uma mulher de grande sabedoria existencial e profunda piedade.




Eu costumava gravar coisas que escrevia para ela escutar. Minha mãe escutava e dizia: 'Onde você aprendeu tudo isso? Eu nunca te ensinei tais coisas!'




Ao ouvir uma das gravações em que eu falava da experiência de Deus, ela me olhou fundo e fez a pergunta: 'Você já viu Deus?' Eu respondi de pronto: 'Minha mãe, a gente não vê Deus. Deus é espírito, é invisível.' Ela deu como que um suspiro, colocando a mão no peito, me olhou com infinita tristeza e disse: 'Você é padre há tantos anos e nunca viu Deus?' Eu insisti: 'Mãe, a gente não vê Deus.' Ela retrucou: 'Você não vê Deus, mas eu O vejo todos os dias. Quando o sol se põe lá no horizonte. Deus passa com um manto fantástico, lindo. Ele vem sempre sério, e teu pai que já faleceu vem atrás, olha para mim, me dá um sorriso e segue junto com Deus. Eu vejo Ele todos os dias.'




Eu fiquei parado, me perguntando: 'Quem é o teólogo aqui, ela ou eu? A analfabeta ou o doutor em teologia?'




Temos que aprender com as pessoas que vivem tais experiências. Porque a fé é uma experiência tão global que entra pelos olhos, entra no coração, entra na fantasia, entra nas projeções.




Deus é substância da sua própria substância.




Essas pessoas não crêem em Deus. Elas sabem de Deus porque O viram, porque O experimentaram."



LEONARDO BOFF






quarta-feira, 3 de junho de 2009

VOCÊ JÁ VIU O AMOR?



Não, o amor não se aprende em livros! Mas, pode-se sentir o amor de alguém quando escreve com verdade e entrega e até aprender a desamarrar os nós e tomar uma decisão: vou me libertar e viver o amor! Tudo é possível, basta haver verdade e vontade, o resto, o amor guia!!!

Sim, o amor precisa ser vivido, sem amarras, sem peso e sem tanto pudor! Olha, fico chocada com o peso de "pecado" que dão a um sentimento tão sincero e nobre. Tanta gente carrega uma Bíblia debaixo do braço, prega um amor que eles nem sentem (alguns)... apenas repetem aquelas palavras e, por isso, saem tão sem verdade! O amor é entrega em paz; é dedicação sem peso; prazer sem carne; é crer... é sentir! Vem do coração. Você sabe que ele existe porque ele insiste em pulsar. A gente até resiste, mas, acaba cedendo, cedo ou tarde. A escolha é de cada um.

Tanta gente busca apenas a razão, como solução para tudo. Nem se dá o mínimo trabalho de nem ter trabalho apenas: ame! Com amor tudo fica mais vibrante. Não falo apenas do amor carnal, esta é uma das maneiras de se amar. Falo de amar a vida! Tem gente que teme falar, pior, viver, o amor. Fora os que dão ao amor o mesmo peso da morte...

Esse post não tem muito sentido, não. Sei lá, porque escrevi isso aqui! Meu coração que mandou. Sei lá, deve ser porque amo amar. Amo a possibilidade de, em meio a tanta dificuldade e limitações, saber que uma força maior me move e me motiva. Uma força que não vejo, mas, que, quando estou caindo, ela me segura e, com toda força e muita convicção me diz: "vai passar! tudo passa!". Uma voz mansa e suave, em contraste com minhas cobranças e exigências. Essa voz veio me amparar esses dias. Desde domingo estou com os olhos inchados, resultado de uma reação alérgica, e meu filho com uma virose, e está com diarréia e, diante de tudo isso, apesar de toda angústia e preocupação com Peu, uma calma (não convencional...) impera em minha pessoa. E, mesmo em meio a essa mesma angústia (ver um filho doentinho é triste, mesmo que a paz impere, uma tristeza também ronda) me deparei com uma cena que me tocou. Parecia cena de filme. Senti até os efeitos visuais, ouvi a trilha sonora e tudo e tudo veio em slow motion : Peu descansava um pouco e acordou, em meio a uma agitação, choramingando, e chamando "mamãe". Ao me aproximar, ele estava sonhando e segurei sua mão, acariciando seus cabelos, com todo amor que meu coração traz, e ele, sem abrir os olhos, apenas segurou um dedo meu e sorriu. Foi o sorriso mais lindo que vi. Ai, quando me vi ultra-mega-hiper emocionada com uma cena tão simples e singela, meu coração disparou e associei a voz mansa, que escuto, me acalmando, àquela sensação de prazer e conforto: AMOR! Meu amor por ele e o dele por mim, numa situação de desgaste e cansaço, se encontraram e devem ter dado um abraço beeeeemmmm apertado, porque só faltou uma luz nos envolver e senti a presença de Deus ali. Tanta gente busca Deus em tanto lugar, que nem se dá o prazer de vê-lo todos os dias e em todos os instantes, em cada situação e demonstração de amor e entrega, sem medo, sem preocupações, sem traumas, sem frustrações, apenas a magia do momento, da verdade, da ausência de máscara, ou de necessidade de sentido e direção. Entrega ao momento!

Leonardo Boff, cita uma conversa com sua mãe, onde ela, uma senhora sem "instrução", não sabe ler, nem escrever. Para ela, ver todos os filhos, não só "formados", como com bastante título acadêmico, bem posicionados financeiramente e "encaminhados" na vida, era mais importante do que saber ler e escrever. E ela pergunta a ele se ele já havia visto Deus. Ele responde, com todo "conhecimento" acadêmico que "Deus não se vê, Ele é um espírito" e ela, com a inocência dos simples e puros, afirma que vê Deus todos os dias: em cada nascer e pôr-do-sol, e ainda vê o falecido marido atrás dos raios, sorrindo para ela... Boff então, diante da sabedoria e real conhecimento de vida daquela mulher conclui que "essas pessoas não crêem em Deus. Elas sabem de Deus porque O viram, porque O experimentaram". Vou postar esse texto dele, em outro post, vai se chamar: "Espiritualidade - por Leonardo Boff".

E, o que eu vivi hoje, foi mais um momento com Deus. Parei e vi que esses momentos de amor são diários e constantes e que é um amor tão grande, que não deixa de existir diante de minha resistência e dos meus "afazeres" diários. AMOR! Não julga ou desiste de alguém que se ama, mesmo estando esse alguém ocupado com o que "acha" ser tão mais importante!

Lembrei-me de um livro que ganhei, quando tinha uns 15 anos (emprestei, não me recordo a quem, mas, não o tenho mais. Se algum amigo, lendo este post souber, me fale - risos), "Utopia e Paixão, a política do cotidiano" e tem um trecho que gosto, também, abordando o tema amor, por outro viés: "Quem não ama fica rico - a maior dificuldade a vencer na vivência de relações amorosas é distinguir o ciúme como sentimento autoritário de propriedade das pessoas, do que parece fazer parte do próprio amor e de nossa natureza biológica, fruto do sentimento de totalidade, profundidade e integralidade. Amor e liberdade são duas necessidades semelhantes e paralelas. Temos duas alternativas para manter a exclusividade da conquista: a violência (saída autoritária) e a sedução (saída amorosa). A sinceridade e a lealdade são duas éticas indispensáveis para que não haja mentiras, simulação, hipocrisia e traição. O natural são as coisas, as pessoas e as relações entre elas terem um começo, um meio e um fim imprevisíveis, incontroláveis e de acordo com as necessidades e possibilidades. Toda perda amorosa, todo fim de relação é coisa extremamente dolorosa. Deveríamos estar sempre preparados para enfrentar a dor. A dor e o prazer no amor são uma só coisa, alternando-se a indicar as vitórias e os fracassos da sedução e da paixão. Segundo Henry Miller, 'para o rebelde é necessário conhecer o amor e dá-lo mais que recebê-lo e, ainda mais do que dar, ser o amor'." (Trecho de Utopia e Paixão - a política do cotidiano de Fausto Brito e Roberto Freire).

Pois é! A gente precisa dar mais amor, para sentir mais e arrancar esse "pudor" em amar! Precisamos aprender o que é amor, desaprendendo tudo que "aprendemos" e nos permitindo seguir mais o sentimento. No amor, o plano é: respeito, liberdade e verdade! Eis a fórmula. Deixe-se "incendiar" pelo fogo do amor! Guie-se pela luz irradiante do amor. Nem tem como falar "verdadeiro amor", é redundante. O amor, é verdadeiro, nossa maneira de demonstrar é que permeia "regras", conveniências, "prudências"... o amor é livre de tudo isso. A gente é que complica ou romanceia demais.

E você, já viu Deus?

E você, já viu o amor?

Pat Lins.

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