Finalmente, assisti "A invenção de Hugo Cabret". Coisa mais linda! Casou com uma bela conversa que tive durante a tarde sobre sonhos, tempo de ser e acontecer e razões de existir. Adoro perceber que estou em sintonia com a vida... rsrsrs Foi assim que esse filme caiu em meu colo, na hora certa.
Consertos; dor em tentar esquecer o passado e ficar preso a um tempo inexistente... metáfora do menino que mora dentro de um relógio e, se os relógios estiverem sempre na hora certa, ninguém perceberá que ele está ali...; estação de trem - idas e vindas / partidas e chegadas / encontros, reencontros, desencontros; a vida por trás da vida; o que se foi e não se é mais, mesmo sem ter deixado de ter sido; será que conhecemos as pessoas com quem (con)vivemos - suas dores mais profundas, suas angústias, seus medos, suas inquietações, seus sonhos?
Adorei a cena do Méliès jovem, vivendo seu sonho, arriscando por um futuro melhor e vivendo esse futuro que se torna um passado mal assombrado e doloroso, como todos nós que fazemos questão de ignorar que somos capazes de viver as mudanças e criar o novo no atual. A cena é quando ele fala para o pequeno Tabard: "Venha garoto! Venha sonhar comigo!"e, anos depois, o menino já adulto ergue um museu em homenagem ao ídolo despertador de sonhos ignorando o fato desse ídolos ter esquecido de quem era e ter esquecido do quanto viveu seus sonhos... atualmente, vive um pesadelo na vida real da tristeza e, ironicamente, um homem que alegrava as pessoas tem uma banca que conserta "sonhos"em forma de brinquedos e nunca ri. A arte só é viva se tiver alguém para adimirá-la, senão será obra morta. Mas, basta um olhar de emoção sincera que ela renasce e se ergue como uma planta que esquecemos de regar. A vida é muito mais do que fazemos sozinhos. É muito mais do que construímos do lado de fora. É muito mais do que o máximo que podemos imaginar imaginar. Os encontros sempre têm algo a nos revelar. As mensagens da e na vida não são exatamente o "quê" e "como"desejamos que sejam, elas são o que elas são: mensagens. E só fazem sentido quando nos colocamos em movimento para enxergar o que está escrito como está escrito. O passar do tempo, a velhice não é para ser o fim, mas uma fase de preparo para o descanso natural. Não é querendo ser jovem para sempre ou o não querer encarar que o passado é real mas é passado que faz um presente melhor e um futuro brilhante. É o saber viver cada instante e cada nova fase que dará o ritmo de todas as coisas, como o ponteiro do segundo, ele sim que dá o ritmo e marca o tempo do tempo. A cada sessenta, um. Vixe! Vamos calcular quantos anos de vida temos nessa proporção? Somos jovens demais diante do mundo e ele continua a girar e se renovar. Humanos, entendamos, enfim, a mensagem: renovemos sem nos modificarmos tanto! Mudemos e nos mantenhamos. Simples assim.
A mensagem de que o coração é que faz tudo funcionar devidamente é linda, através da chave em forma de coração que faz a máquina funcionar. O coração é humano e só um ser humano pode dar "vida"a uma máquina, sem o movimento do homem a máquina para e assim fica até alguém dar corda. As máquinas nunca substituirão o ser humano. A automação pode desempregar muita gente e talvez esse seja o paradoxo que criamos e não sabemos usar: elas existem para facilitar a vida humana e nos permitir ter mais horas de lazer e prazer. Infelizmente, o capitalismo selvagem não nos permite viver esse tipo de realidade e por pura má vontade da gente mesmo... Confuso? Real!
Ah! Quantas vezes o menino nos mostra que somos como um relógio e eu entendi essa mensagem de algumas maneiras: "tudo tem seu tempo e como o tempo é algo exato, no momento exato nosso tempo se revelará"; "somos como um relógio: vivemos sob o comando do tempo; só funcionamos bem com cada peça em seu devido lugar; manutenção é o que nos leva a continuar... ou continuar é a nossa manutenção?"; "viver é entender que nunca estamos sozinhos e que o isolamento e o medo de Ser é que nos separa do mundo real e da vida lá fora, além das nossas paredes que, enquanto nada mudar, acomodados viveremos"; "criar e ser um precursor não é o mesmo que continuar sendo... assim, podemos dar início a algo e nos esquecermos de nós mesmos por conta de uma tragédia"; "a magia está nos sonhos que podemos viver e para vivermos esses sonhos, precisamos acreditar!".
Outro ponto interessante - o filme todo é um ponto interessante - foi entender quem era o menino solitário por trás do inspetor malvado e infeliz, que não sabe sequer o que vem a ser dar um sorriso: órfão e ex-morador do orfanato para o qual ele manda as crianças que perderam os pais. Uma vítima da própria amargura e de um ambiente que contribuiu para o aumento dessa amargura, dor e tristeza, além de ter sido vítima da guerra. E, mesmo assim, tudo que ele queria na vida, por mais que negasse, era ter alguém, era amar e ser amado. E achei linda a cena onde ele salva o pequeno Hugo dos trilhos, demonstra preocupação com o menino e depois retoma seu posto de homem mau que tem um cachorro como único amigo. Mesmo assim, os apelos de Hugo o tocam a ponto dele querer sair daquela situação. O amor que a florista plantou nele - olha a metáfora com as flores, coisa mais romântica e envolvente pela pureza - começou a transformá-lo em um ser melhor. Hugo, com seu dom de consertar, sem perceber, deu àquele homem infeliz a corda do tempo, onde ele para para escutar o menino, ele é recebido pela florista que o envolve em carinho ao segurar o seu braço. Uma cena simples, rápida mas que me chamou a atenção pela leveza despretensiosa.
O legal: tudo isso em plena "Cidade Luz", Paris. Cidade de suma importância para o desenvolvimento da arte. Berço do Iluminismo, da capacidade do homem de pensar e de agir. Talvez por isso, a mensagem da importância da leitura de bons livros e de uma biblioteca com acervo riquissimo naquela estação. E nos livros estão os registros do passado. Muitas respostas podem ser encontradas lá, principalmente respostas para as perguntas que nem sabemos como formular. Num bom e honesto livro muito é possível se encontrar.
Assim, onde arte e vida se misturam o que é filme e o que é realidade se confundem - uma bela expressão de arte traz vida e vida é a arte de viver. Muito interessante a imagem que dá para ver "de dentro" do quão grande é "o fora" e como vista de cima aquela região lembra o encaixe perfeito das engrenagens de um relógio. Nesse mesmo lugar de refúgio, o menino (re)vive, como "fuga" do problema, ao ser perseguido, a cena que viu no cinema e fica pendurado no "tempo" - o relógio da estação - até o tempo de seguir de volta e cumprir sua "missão". Ou seja, no tempo certo, obstáculos podem nos atrapalhar, podem dificultar, mas nunca impedirão. Não precisamos ficar pendurado e parado no tempo, mas uma pausa de vez em quando para se recuperar e criar condições para agir melhor se faz necessária.
Assim, onde arte e vida se misturam o que é filme e o que é realidade se confundem - uma bela expressão de arte traz vida e vida é a arte de viver. Muito interessante a imagem que dá para ver "de dentro" do quão grande é "o fora" e como vista de cima aquela região lembra o encaixe perfeito das engrenagens de um relógio. Nesse mesmo lugar de refúgio, o menino (re)vive, como "fuga" do problema, ao ser perseguido, a cena que viu no cinema e fica pendurado no "tempo" - o relógio da estação - até o tempo de seguir de volta e cumprir sua "missão". Ou seja, no tempo certo, obstáculos podem nos atrapalhar, podem dificultar, mas nunca impedirão. Não precisamos ficar pendurado e parado no tempo, mas uma pausa de vez em quando para se recuperar e criar condições para agir melhor se faz necessária.
Gosto de imaginar que o mundo é uma grande máquina. Você sabe, máquinas nunca tem partes extras. Elas têm o número e tipo exato das partes que precisam. Então imagino que se o mundo é uma grande máquina, eu também estou nele por algum motivo. E isso significa que você também está aqui por alguma razão.
A Invenção de Hugo Cabret
O filme é lindo, completo, tocante. Fala da condição humana em se dar conta de que é humano. A importância da arte como expressão de beleza estética e ética como parte da condição humana. Nós precisamos de arte, como precisamos da ciência, como precisamos da educação, como precisamos da religiosidade. Tudo isso pode nos levar rumo ao caminho da sabedoria. Onde há beleza pura, natural há Vida.
O amor é a chave para tudo! E é através do amor de uma menina pelo seu amigo, um amor puro, que a mensagem começa a ser revelada. Que os ajustes começam a se fazer. Ela, em busca de uma aventura: a própria vida além dos livros que lia. Ele, em busca de consertar um autômato para ser seu amigo e não se sentir só. Eles, juntos, se ajudam, consertam em si aquilo que estava fora do lugar para, enfim, poderem ajudar todos ao seu redor. Nenhuma ação do bem se restringe a quem emana. Ela segue e vai seguindo onde encontrar porta aberta e segue, sem parar! E a chave estava em forma de coração pendurada em seu pescoço, na altura do peito, bem ao centro, bem no coração dela. Todo mundo tem uma razão de existir. Todos nós somos peças da máquina perfeita da Vida, do Tempo e da Natureza divina. Todos nós somos criaturas de Deus na Terra e um dia entenderemos a nossa razão de aqui estarmos, o que viemos fazer e seremos capazes de entendermos a mensagem da nossa Vida, em vida, desde que nunca deixemos morrer em nós a criança que fomos e que deu origem a tudo que somos - Ops! Na verdade, que deveríamos ser... - e que retrata o nosso início de vida, o começo da nossa caminhada e de que viveremos sempre fases e fases, até a suposta última fase: a morte. Vida e Morte andam juntas. Começo e fim. Mesmo assim, onde termina nunca é um final e pronto... algo começa para quem fica, inclusive a condição em se adaptar a ausência de quem partiu.
A criança é o símbolo do amanhã, do começo, do crescer e todo ajuste em nossas vidas deve ser feito. Comecemos perdoando nosso passado. Comecemos nos redimindo. Comecemos de volta ao começo, sem deixar de dar continuidade ao hoje e na construção de um amanhã cada dia melhor!
Poderia levar horas escrevendo aqui e me deliciando com a decupagem dessa obra-prima, dessa obra de arte - isso sim é Cinema como Arte, como expressão da beleza que a arte tem que ter com conteúdo, magia e vida! - porém, nada substitui a sensação ao assistir e assistir e assistir.
E fica a pergunta: o que é REAL realmente? É a vida que vivemos, essa que fingimos ser vida real realmente ou a vida que temos para viver e que juramos ser um ideal utópico, impossível, portanto, irreal e inexistente? Ou tudo isso e muito mais?
E fica a pergunta: o que é REAL realmente? É a vida que vivemos, essa que fingimos ser vida real realmente ou a vida que temos para viver e que juramos ser um ideal utópico, impossível, portanto, irreal e inexistente? Ou tudo isso e muito mais?
Pat Lins - pensando com arte.
PS - encontrei um texto bem legal sobre o filme: PENSAMENTOS FILMADOS - A INVENÇÃO DE HUGO CABRET
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