sexta-feira, 2 de setembro de 2011

O AMARGO SABOR DA RAIVA

A raiva é poderosa, forte, dona de si...

Tem um amargo sabor de dor. Ela dói, destrói, corroe. Começa com um amargo na boca, trazendo secura. Parece espinhos afiados e gigantescos que isnistem em furar a pele e sair, para assumir um lugar que não é dela, mas, ela o quer. Tem dedos de espátula, tentando empurrar nossa órbita ocular para fora do seu lugar, numa força imperativa de dentro para fora da nossa face. Espreme nossa cabeça como garras em forma de forceps, apertando nossas têmporas e fazendo-nos enlouquecer com a quantidade de informação inútil, de onde ela tira seu alimento, e que a faz inchar, inchar e inchar tanto que se materializa em forma de um vazio cheio, repleto de nada que preste e que serve apenas para ocupar o espaço físico em detrimento do espaço mental. Confunde! Confusão! Esse é seu intento: nos confundir a ponto de ficarmos cegos, mesmo os olhos enxergando tudo, só que tudo errado. Depois, sobe aquele calor terrível, queimando a espinha, cada vértebra, cada músculo, cada célula, cada átomo... Reduz-nos a subátomos vazios e inoperantes. Uma partícula atômica, por menor que seja, e, teoricamente, indivísivel, contém mais informação do que uma infinidade terabytica, mas, a raiva, nos torna sub sub sub nada, pedaços de nada. Não, nós não a incorporamos, ela nos toma, é dona de si. Nos reveste como segunda pele e envolve nossa alma em tristeza, dor e angústia. Lança-nos ao mais fétido pântano,sem luz, sem água, sem vida. Cala-nos, pelo orgulho que desperta a vergonha em pedir ajuda ou pedir perdão, mediante arrependimento de alguma ação. Nos emudece a ponto de arrancar nossa língua e limita-nos no vocabulário oco da ignorância analfabética de um zero. Ela nos mata!


Mas, em meio ao calor da ira e do ódio catalizados no decorrer do tempo mal vivido, dominados pela raiva, a íris sensível reconhece a mínima luz! Abre-se toda para que ela entre! Eis o sol! Símbolo de vida e libertação. Sinal do fim da solidão e ressurreição. Entra um calor que refigera, que acalma as emoções aprisionadas e estancadas numa represa de lágrimas congeladas pelo mau uso delas. A raiva transpira o suor mais encorpado, com dor e odor insuportáveis para quem sente e quem expele. A vida, na forma das virtudes, salva e destila esse suor em líquido transparente, levando as impurezas que contaminaram nossa alma. Banha-nos na luz mais sublime e divina, espalhando uma fragrância suave e alegre das lembranças de quem somos: imagem e semelhança da perfeição, em matéria imperfeita e dispersa, mas, em essência, divinos e eternos como Quem nos criou. Somos partículas operantes de um Universo incessante e misterioso que insiste em nos dar novas oportunidades, mesmo que as tenhamos deixado passar. Assim como um problema não resolvido fica até ser solucionado, a oportunidade volta para que voltemo ao caminho certo. E por essa mesma íris, por cada fio de cabelo, por cada célula epidérmica, envolve-nos, entra e guia-nos Ele, o Astro-Rei: o Sol! Imperador sem tirania; verdadeiro dirigente de nossas almas. Rei dos Reis! Luz! Força! Energia Vital! Essa luz envia seus raios como espadas, como mãos, como dedos que arrancam as marcas da negatividade que nos dominou. Sim, sentiremos dor, como um músculo machucado que ao voltar para seu lugar, dói. Dói uma dor diferente: cura! Só a redenção pode-nos curar! Essa é a luz que queima e destróe a chama destrutiva do orgulho e do "não fazer".

É chegado o tempo de nos ajudarmos e enxergarmos o que nossa sábia menina dos olhos quer que vejamos. Só com os olhos puros de uma criança podemos saber nos perdoar e seguir em frente, com a determinação de quem quer apenas crescer e seguir, sempre em frente, com olhar destemido e muito a aprender.

Assim, a vida se torna doce, como deve ser e a raiva se transforma em outro tipo de energia, mais sutil e livre, libertadora. A raiva é dona de si, mas, não é dona de mim! Nem de ti! Nem de nós! Ninguém domina a raiva. Só quem entende e consegue praticar e viver as virtudes carrega a chave que fecha as portas dessa emoção mal compreendida e sub-utilizada, abrindo a porta certa, na direção correta para onde ela precisa ir. Só vivendo um dia após o outro se aprende e se vive. Só consciente e firme, guiado pela vontade conseguiremos romper com as partes mais baixas e subir os degraus que viemos para subir. Não desejo sorte, para cada um de nós, desejo discernimento, para que saibamos separar o que é do que "não é".



Pat Lins.

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