sábado, 4 de abril de 2009

PARTIDAS, DORES E CONTINUAÇÕES

Há quem diga que estamos na vida para viver, como se não houvesse amanhã!

Há quem diga que devemos viver, como se nunca fôssemos morrer, ou como se fôssemos morrer amanhã.

Há quem diga que apenas se deva viver.

E há quem vive.

Há quem vive sua vida, que apesar de ter tido um início triste e difícil (já que as palavras, por mais que descrevam, sempre resumem e diminuem o peso e intensidade das situações. Nas palavras, a lágrima é descrita, mas, não se pode secar. O choro é mudo, ainda que descreva como se é chorar. A dor, é explicada, não se tem como mensurar...) dedicando cada segundo à mudança, a um objetivo maior. "Seu Jonatas" era/É assim. Menino de origem humilde, mas, que nunca cessou de buscar a mudança. Hoje encontrou a paz (Deus o receba de braços abertos, conforme meu pedido teocêntrico,mas, que Oxalá o envolva, segundo suas próprias crenças e dedicação de vida), mas, deixou o mundo sem a paz que ele sempre brigou.

Jonatas dedicou vida a viver. Estudou muito, e pedindo licença, faço meu simbolismo de suas escolhas: estudou Letras Vernáculas, ensinava o poder e a força da educação; da língua que falamos como necessidade para expressão. Fazia, através de suas poesias, a descrição de sua infância e desse mundo racista e preconceituoso, mas, que veste o véu do fingimento e da hipocrisia que fere, onde "não, somos todos irmãos". Jonatas era/É sincero até a alma. Apesar do jeito sempre direto e, muitas vezes duro "entende?!", ele falava e qualquer pessoa sempre sabia o que ele estava pensando. Ele não perdia tempo "falando pelas costas", era Homem, para assumir o desafio, Guerreiro para aguentar a batalha diária. Menino, negro e pobre, é uma combinação muito comum, e desrespeitar essa combinação é mais comum ainda. Mas, isso não é CERTO, nem natural. A discriminação, o racismo, o preconceito, a supremacia de uma classe que se impõe e, por serem incapazes de lembrar que são gente, tratam aos outros como bichos, como animais. Sendo que nem aos animais devemos tratar dessa maneira punitiva e excludente. O animais que dão voz e vez a atitudes medíocres e terríveis do racismo, esses sim, mereciam punição, justiça e castigo, para sentir na pele o que já fizeram a tantas pessoas, e ainda fazem, pelo simples prazer de manter uma porcaria chamada PODER, que transforma seres humanos em mutações humanas, em seres hibridos, que ninguém sabe onde começa ou termina o homem e começa ou terrina essas aberrações poderosas. Esses monstros conseguem,a cada dia, a cada segundo, destruir a vida de milhões de crianças e sonhos. Jogam os negros nas sarjetas, para que eles nunca saiam de lá e eles não vejam a escória criada e manipulada pela brancura do PODER MALDITO e DO CAPITALISMO FATAL.

Mas, sonhos, são sempre sonhos e quando eles se tornam ideais e se fortalecem, constituindo-se em base sólida na vida de um desses meninos pobres, negros e excluídos, abrem-se as portas para as oportunidades que esse povo acha que fechou. Povo sim. Porque os poderosos também são povo! Um povo podre, mas, povo!

Aprisionam a classe baixa e pobre em postos de saúde insalubres, institutos educacionais norteados pela ausência de informação e educação... a prisão sem celas de uma vida oprimida, como um campo de força gigantesco que não se vê, não se toca, mas, se limita a seu diâmetro, porque ele é quase real. Essa força só é quebrada quando se percebe que se pode ir além e exigir os DIREITOS DO CIDADÃO, que é constituído em Lei e essa lei fica "protegida" por quem? Por eles,a supremacia podre! Como mudar? Elegendo quem possa fazer, não quem continua. Tirar todo mundo que está e não recolocar quem já passou. Vamos renovar. Colocar o equilíbrio das cores étnicas sentadas lado a lado em prol de uma sociedade mais justa e real.

Jonatas, através dos estudos e de seu trabalho, dedicou-se a viver a vida. A vida militante do Movimento Negro (que muita gente troce o nariz. Provavelmente, um narizinho fino - em muitos casos por processo cirúrgico...), vida de dedicação a inclusão social a através de educação e cultura. Sua vida É uma vida de trabalho e batalhas. Até o fim, ele foi um Guerreiro em batalha para se manter vivo. E, apesar de sua partida, sua vida se mantém: em cada palavra, em cada livro, em cada projeto elaborado e implantado a "duras penas", em cada ação sincera, justa e honesta, "entende?!". Hahaha, com certeza ele acharia meu texto muito "leve", ele teria dito mais, em menos palavras e com muita profundidade.

Seu Jonatas andava sempre em passos curtos, como quem está sempre em busca de andar, ouvir, falar e refletir. Sentava-se sempre de maneira que seus ouvidos estavam virados como uma antena a captar. E seus lábios sabiam abrir na hora certa. Falava e calava. Voltava a pontuar. Sua voz era baixa e muitas vezes gaguejava. Seu jeito de falar é sempre forte, mas, entrecortado, "entende?!".

Aprendi com ele muita coisa, até a não querer ser como ele - risos. Mas, no fundo, ele tinha razão. Ele falava, se expressava e eu sempre sabia o que ele pensava de mim. Aprendi que mais vale uma palavra seca, direta e de fato, do que palavrinhas melosas e veladas, encobrindo a cinismo e a falsidade... Seu Jonatas era o super sincero. Se estivesse "errado", estaria super sinceramente errado, mas, ele sabia o que pensava e todos ao seu redor também. Difícil era demovê-lo de uma idéia... poderia aceitar, a muito custo e sob muita pressão - risos - mas, se a nova idéia fosse boa, ele sabia reconhecer sim.

Em sua magreza, muita força de vontade; em sua alimentação sempre saudável, a saúde da força; em seus cabelos "dreads", a representação gráfica de um dos penteados afro, sim, porque não?!; em sua maneira de vestir, "vestia a camisa" da causa de sua vida: a luta contra o racismo; em seus conhecimentos, a arma para se vencer a batalha - INFORMAÇÃO, EDUCAÇÃO E CULTURA, sempre com a bandeira da honestidade e da justiça. Era um homem justo e bom. Muitos não entendiam aquele jeito dele, mas, era evidente: um menino sofrido, que virou um homem guerreiro, mas, o menino estava sempre lá, fazendo sofrer as lembranças e viver as mudanças. Jonatas estava sempre atento para nos chamar atenção, mas, quando menos esperava, ele mesmo, que nos tensionava, deixava escapar uma piada ou comentário (muitas vezes ácidos, mas,sempre inteligentes) que, quando viamos, estávamos rindo. Ele sorria e passava a mão pelo cavanhaque, como quem, ainda no momento de descontração, estava pensando. Acho que Seu Jonatas era um eterno pensador e ele é um eterno pensador, porque em seus poemas e livros, parte desses pensamentos estão vivos e eternizados em palavras. Essas palavras que limitam, mas, se esforçam para descrever o que o coração e/ou a mente precisam dizer. Ele falou pela voz de povos esquecidos e que, por serem pacíficos e acomodados à realidade em que vivem, são banalizados, excluídos e ignorados. Ele fala pela voz dos sem recursos, dos pobres pretos e analfabetos. Falou pelos quilombolas, pelos negros, pelas mulheres. Ele falou pelos injustiçados. Mas, os "injsuticeiros" não se abalam. Do alto dos altares podres do poder, os poderosos não temem, porque acham que não dando, não vão perder. Mas, ai deles, que não devem ser poupados e sim punidos, por não dar, para não perder, o que, de fato, nem deles é, é nosso, é vosso, é de todos nós: DIREITOS!

A educação fomenta o conhecimento, mas, é necessário muito mais para se conhecer, que não é só saber, é, principalmente, saber o que fazer com o que se sabe e/ou se conhece. INFORMAÇÃO, CONHECIMENTO, SABER, BUSCA isso alimenta a alma e dá forças para empreender uma boa mudança, uma mudança do saber, pelo saber, uma mudança com emoção e com razão, uma mudança de equidade, tudo pela igualdade. Sem temor de perder e ganhar. Uma mudança de somar e multiplicar entre todos, sem dividir, só partilhar! A Educação que me refiro é a educação de verdade, não essa superficialidade que nos impõem e querem que aceitemos, onde quem quer mais, sofre retaliação e é tido como "louco" ou "anormal". Fácil demais taxar!

Daí, Jonatas ser tido como era: militante fanático. Prefiro ver que ele sempre foi fã, fã de uma vida justa de verdade. Fã do negro, como ser humano também e merecedor de justiça e RESPEITO. E, cá entre nós, há respeito para com as classes que não sejam ricas, nem brancas, nem masculinas e muito menos adulto? Basta ser pobre, preto (se for mulher ainda é pior), criança ou idoso para sentir na pele o poder da chicotada voraz dos "senhores" do poder. E quem dá esse poder? Somos nós! vamos dar poder a quem merece. Vamos abrir espaço para juízes, médicos, advogados... negros competentes e qualificados. Vamos criar oportunidades de qualificar esses cidadãos. Jonatas era editor do Caderno de Educação Pedagógica do Ilê, e desenvolvia diversas atividades sempre voltadas para essa fonte de alimentação: educação e cultura. Enquanto o Carnaval na Bahia, em Salvador, principalmente, só existe 1 semana, os blocos afros que são escondidos pela imprensa, mas, são procuradíssimos pelo "folião" (o que, para mim, gera uma interrogação gigantesca em minha mente:como um espetáculo tão belo e tão procurado pelos turistas, não recebe destaque na imprensa... não tem acesso a patrocínios, nem os que "sobram " escorrem dos blocos comerciais os procuram?! Que profissionais de marketing mais furrecas esses, dessas empresas... furreca sim! Devem receber um salário bom, prêmios e destaques... tudo superficial, porque ganham sem receber nada além de um reconhecimento por um trabalho "bonito", mas, que só ajudou a aumentar a rendas das empresas. E o cunho social? Será que é tão errado e ingênuo esperar que todos os profissionais de marketing e comunicação desenvolvam um vínculo maior ou, ao menos, ter um cuidado com o social? Patrocinar um bloco afro, não é uma maneira de associar a imagem de determinada empresa ao carnaval, é associar a imagem a instituições que dão aula em forma de show e de culutura. É associar a imagem da empresa a educação e cidadania por todo o ano, não só 1 semana de destaque e posterior esquecimento. Um bom plano de marketing deveria ter um tópico assim: COTA DE PATROCÍNIO A INSTITUIÇÃO CULTURAL BLOCO AFRO XXXX, INVESTIMENTO NO ESTUDO E EDUCAÇÃO DAS CRIANÇAS,... e muito mais. Chega de procurarem essas instituições para monografias, acreditando que se faz uma permuta: "vai gerar visibilidade para o bloco". Não gera. Gera nota para o aluno ou equipe e pára por aí. Ninguém foi levar algum projeto para ser tocado lá, foi?! Apenas os que já fazem parte da região... enfim, vou fechar o parêntese e retomar a linha.), existem o ano todo. Não é em micareta não (não sou contra as festas, devem haver sim, o que me refiro é ao desequilíbrio. Quem é que não gosta de ver o ensaio do Ilê, por exemplo? Ou do Olodum? E conhecer os outros como Malê Debalê, Okambi... e tantos outros) é em salas de aula, em espaços de inclusão social e agora, com muito esforço, inclusão digital. É levar portas para essa juventude e abri-las!

A partida de seu Jonatas me fez ver que de fato basta estar vivo para morrer. Ele partiu, mas, seus ideais serão tocados e continuados, ainda que com a dor de sua partida, a vida dos vivos continua. E com certeza, ele queria isso, que déssemos continuidade. O "Tambores da Liberdade" (programa de rádio) vai continuar, como ele sonhou, idealizou e manteve. E foi nesse tempo de convivência, que aprendi a admirar aquele homem, que de início assusta, pela postura aparentemente arisca, mas, que de perto, é o mesmo menino que deve ter curtido as praias de Saubara, apesar da ausência de luxo. Vou colocar um post aqui abaixo, alguns poemas dele, para deixá-lo vivo em minha lembrança e nesse meu cantinho, onde guardo o que aprendo com minha vida e a experiência de vida dos meus, e Seu Jonatas, "entende?!" me ensinou algumas coisas, que farei questão de lembrar.

Meu amigo, que você encontre a paz e que um dia, esse mundo de Deus, alcance a paz em vida, não só na hora do descanso.

Fica aqui meu sentimento de tristeza e minhas lágrimas, pela dor e perda de alguém tão especial!


Pat Lins


5 comentários:

  1. MUITO LINDO FILHA,VOCE DESCREVEU COMO NIGUEM COMO É/ERA JONATAS.TENHO CERTEZA QUE ELE ENCONTROU A PAZ QUE TANTO DESEJAVA NÃO CONSEGUIO PARA O MUNDO, MAIS NÓS TEMOS OBRIGAÇÃO DE CONTINUAR LUTANDO PELA PAZ NO MUNDO.BJS.

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  2. Muito obrigada pelo carinho e reconhecimento. Abs

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    1. Eu que agradeço ter aprendido tanto com ele, Luisa. Bjsss.

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    2. Eu que agradeço ter aprendido tanto com ele, Luisa. Bjsss.

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    3. Eu que agradeço ter aprendido tanto com ele, Luisa. Bjsss.

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