quarta-feira, 11 de maio de 2011

SELEÇÃO NATURAL

Toda mulher sabe que o primeiro trimestre da gravidez é um dos mais delicados e, também conhecido como período de SELEÇÃO NATURAL.

Na primeira gravidez, enjoava muito - menos do que esta... porque, nesta, tive refluxo - e fui parar no hospital, porque, na hora que agachei, para vomitar, saiu um pouco de sangue. Nossa, um susto. Foi só uma gotinha, mas, corri. Ao chegar na emergência, estava quase na hora da troca de plantão - da tarde para a noite - e a médica - minha xará-, me recebeu e informou que o aparelho de US - Ultrassonografia - estava quebrado. Conversou comigo e me "garantiu" que era um aborto e que era comum, visto que estava dentro do primeiro trimestre e que eu me acalmasse, porque tratava-se de uma seleção natural, etc. Sorte que ela não me deu nenhum medicamento, além do para enjôo. Pois, quando trocou o plantão, o médico que assumiu veio me ver e perguntou baseado em que eu acreditava ter abortado. Expliquei o parecer da colega dele e ele fez um exame de toque, me dizendo em seguida: "Só posso garantir com a US, mas, pelo que senti aqui, seu útero está fechado..." A suposição dele era que, como fica sangue de menstruação grudado no colo do útero, pode ter saído esse sangue, que fica na região externa, no momento do esforço para vomitar. Pois bem, me pediu para ficar lá, em observação, para evitar qualquer coisa. Dia seguinte, consertado o bendito aparelho, fizeram minha ultra. A primeira coisa que ouvi foi um batimento acelerado e uma bolinha linda, lá dentro e bem fixada em meu útero. Era Peu, vivinho da Silva e sem nada que demandasse risco. A hipótese do médico era a que mais se aproximava do que pode ter acontecido. Um susto, apenas. A gravidez foi normalíssima. Assim, eu fui apresentada a SELEÇÃO NATURAL e a uma coisa contrária a ela, que são médicos que não respeitam a seleção natural de cada um, em seguir sua verdadeira vocação e fazem medicina apenas porque estudaram bastante e passaram no vestibular, se formaram e se tornaram profissional de medicina, o que, para mim, é algo muito diferente de ser médico. SER médico, para mim, é um DOM. Nem todo mundo que se forma em medicina É médico. E, a depender da área que opte por trabalhar, além do dom, tem que ter JEITO... A imprudência da primeira médica poderia ter custado a vida de um embrião saudável e do meu filho.

Daí, voltei a condição de espera: espera do parto; de ver e pegar meu pequeno; de vê-lo crescer...

Hoje, vivo outra espera, a espera do sangue descer. Quando eu era menina - em minha época, 11, 12 anos era menina, ainda - eu era louca para menstruar. Vivia a espera do sangue descer. Aquele sangue mudaria minha vida, dentro de minha crença. Eu me tornaria: mocinha. Um passo para ser mulher. Romperia uma barreira e ascenderia: estava crescendo. Engraçado é que, depois que a gente menstrua, mês após mês, acha um incômodo, né? Mas, quando não vem, a gente se preocupa... risos. Ou, quando estamos querendo ter um filho, a espera dele não descer é que se instala. Pois é, os sinais em nossas vidas são tudo, já percebeu? Marcos em cada fase de nossa história. O movimento natural do nosso corpo, por mais que se tenha avanços tecnológicos, é ele quem determina as verdadeiras mudanças e transformações. Esse movimento natural que determina em que fase estamos e para a qual vamos... Por isso que, hoje, vivo um misto de cada fase dessas fases, com um agravante: a espera da perda. Nas fases anteriores, vivi a espera da mudanças alegres. As boas expectativas, dos sonhos e planos. Na fase atual, estava bem e tranquila: o embrião estava bem encaixado e crescendo. Cresceu até a 8a semana e seu coração parou de bater. 

Sábado passado, eu não tive sangramento, muito menos algo que me levasse a estar preocupada. Fui fazer uma ultra, já que, a primeira, fiz com menos de 5 semanas e não dava para escutar o coração. Minha médica pediu para que eu repetisse, para a época certa, já que, após a 7a semana é que se é possível escutar. Pois, fui fazer. Mas, o coração não batia. Ele estava bem desenvolvido. Parecia um bonequinho com cabeça, tronco e o que começavam a ser os membros. Vi tudinho e estava fácil de ver, porque estava bastante nítido. Mas, sem batimento. A hipótese é que o coração havia parado há uma semana. Fui, novamente apresentada a teoria da seleção natural, onde a natureza se incumbe de interromper uma gestação de uma criança com algum problema. Mas, o que me deixa intrigada é que:

1 - o embrião cresceu bastante e normal, da 5a para a 7/8a semana - apesar dele(a) estar com tamanho de 9 semanas;
2 - ele(a) estava bem encaixado, líquido normal...;
3 - uma semana antes, eu havia parado na emergência... por conta do refluxo. A médica da emergência, uma senhora com ar de deboche, me fez ficar de pouco mais de12:00h até quase 17h, tomando apenas remédio para enjôo e soro, sem escutar minha queixa real, que era do sufocamento pela acidez que subia do meu estômago, queimando tudo e com a sensação de que estava voltando tudo. Era como se nada descesse, apenas subisse... Só que eu já havia vomitado desde o dia anterior e o que saía era algo muito ruim, com um sabor amargo e ácido. Era abrir a boca e saía. Muito nojento. Ela veio me ver - isso num hospital bom e de nome forte, viu? - e perguntou como eu estava. Eu disse: "péssima! O negócio ácido e que queima ainda está forte e estou com a sensação de que vou sufocar." Ela, com riso debochado, me disse: "Patricia, Patricia, tenha paciência mulher. Gravidez é assim mesmo." Eu, sarcástica e desesperada, apenas disse: "Eu sei, já estive grávida antes e sei que passa. Acontece que estou me sentindo muito mal e esse líquido nojento não pára de subir me queimando e isso está me sugando as forças." Ela sorriu e saiu. Prescreveu alguma coisa e saiu. Ela prescreveu "ANTAK". Veja. eu cheguei lá por volta de 12:10h, fui atendida logo depois e só após as 17h ela foi me ver... Foi quando me passou esse remédio para o estômago, que me aliviou em menos de 15minutos. Acalmou tanto que senti fome. Me foi liberada uma refeição - pense, eu estava sentada o dia inteiro numa cadeira, na emergência - leve: sopa, inhame e suco. Nossa, comi como se fosse um banquete, naquela cadeira desconfortável e sem ter onde apoiar. Detalhe: não sou fã de sopa... Mas, tomei como se fosse a coisa mais gostosa da vida. Uma semana depois, fiz a ultra e disse que o coração do bebê parou... O que pensar?

Fui ler a bula do antak e a maioria fala que não é indicado na gravidez, principalmente, dentro do primeiro trimestre. Ele interefer nos batimentos cardíacos de quem o toma - um dos efeitos colaterais - e é capaz de passar pela placenta e, inclusive, passa na amamentação. Portanto, não recomendado a gestantes e mães amamentando... O pior: a acidez só passou naquele dia, na segunda, estava de novo... Só bebi água e voltava do mesmo jeito. Foi complicado. Eu sofria e estava desgastada, mas, repetia: vai passar! E me apegava a expectativa de que passaria e depois seria tudo melhor. Pensava no bebê. Alisava a barriga e dizia: "fica aí, viu? Mamãe tá reclamando do enjôo e dessa acidez insuportável, mas, tenho que aguentar!". 

Fiquei confusa e com uma pulga atrás da orelha: SELEÇÃO NATURAL ou FALHA MÉDICA?

Não sei se tem como comprovar... o fato é que, hoje, estou a espera do sangue descer. Não para entrar numa fase de boa mudança, mas, para uma fase de encerramento. Enquanto ele está aqui, ainda em meu ventre, tenho a sensação de que o coração vai bater... Como não sinto cólica, nem tenho perda de sangue ou sangramento, fico presa a uma falsa esperança. A realidade é que estou vivendo a espera da perda concreta. 

Estamos sempre a espera de algo... Por isso, que, apesar dessa espera, estou vivendo o aqui e agora, dando continuidade aos afazeres diários, com algumas restrições e sei que as coisas só acontecem quando têm e como têm que acontecer. Estou tendo que viver na prática o que me proponho: ter fé. Uma coisa é acreditar que Deus existe e que existe um propósito para cada coisa. Mas, a fé de que Ele sabe o que faz e ser grato é mais complicado. Então, falo: "Deus, apesar de não entender seus desígnios, sei que eles são reais. Não posso lutar contra os fatos. Mas, também, não poso agradecer de coração... Te peço perdão pela minha ignorância e peço que me capacite a entender. Um dia entendo e, nesse dia, posso te agradecer com consciência..." Sei lá, Deus é Deus e Ele deve entender meu lado humano, afinal, eu sou humana.

Bom, queria só compartilhar essa fase ruim e chata, pela qual passo. Mais uma fase ruim e delicada. Mais uma que vai passar, com certeza, porque eu quero deixar passar e estou deixando. Mas, mesmo dentro dessa fase ruim, muita coisa boa: Pedro tem me dado todo o apoio. Não falei claramente para ele, vou pedir ajuda a psicóloga. Mas, ele estava na sala da ultra, quando a médica falou que não havia batimento cardíaco e saiu. Depois, quando chegou em casa, ele se jogou na cama dele e ficou triste, abraçado ao travesseiro de anjinho dele. Perguntei se ele queria conversar com a mamãe e ele disse que não. Pedi meu beijo, que ele não havia me dado. Ele se recusou e me disse: "meu irmãozinho não está mais em sua barriga...". No dia seguinte, me abraçou e beijou muito, mas, no rosto, no braço, na perna... menos na barriga, como vinha fazendo nos últimos meses. Na segunda-feira passada - dia 09/05 - repeti a ultra e nada. Mas, antes de sair, ele estava pronto para ir a escola, me abraçou e disse: "minha princesa, eu te amo muito! Você vai para sua médica agora, é? Leve seu pijama, viu?" 

Fora Peu, meus pais, irmãos, minha sobrinha, meus tios e tias, meus primos, meus amigos - os que já estão sabendo... estou avisando aos poucos - e até meus alunos, todos estão me dando tanto apoio e carinho que não dá para se manter triste. Fora que eu sinto assim: dói, mas, opto por não sofrer, muito menos, eternizar a dor, deixo-a passar. Vejo como as pessoas estavam felizes com essa gravidez e como estão tristes, como se fosse com cada um. É bom saber que se é querida e amada. É bom saber que existem muito mais pessos que torcem por mim, do que as que me invejam e me enchem o saco. Muito bom saber que não estou sozinha! Não fujo do meu momento, mas, ele fica muito menos pesado por ser partilhado com a torcida das pessoas. Encaro de frente a realidade e não dá para sofrer pela verdade. Outra coisa, não me culpo... Sem essa de achar que falhei em alguma coisa. Com certeza, trata-se de uma cosia que não depende de mim. Se alguma amiga-mãe está passando por isso - a não ser que tome algo consciente - trate de jogar a culpa para as cucuias. Existe uma pressão de que "a mulher não soube segurar a criança...". Cai fora! Fora as besteiras que ouvi: lógico, os chatos de plantão não mudam, nem nessas horas. Uma jovem, no consultório de minha médica, veio logo falando: "tava fazendo estripulia, não foi não? Agora, vai emagrecer, dar umas caminhadas..." Ou seja, querendo me culpar ou, me fazer sentir culpada. Eu sei o que me fez engordar e o motivo da dificuldade de perder peso. Sei que minha saúde é muito boa, mesmo estando acima do peso, está tudo em ordem. Minha pressão é 9x6, por vida. E, mesmo que não fosse, não seria questão de culpa.  Então, tapem mesmo os ouvidos e deixem esse povinho falar. Porque, por mais que me suba uma raiva enorme, esse povinho nunca vai mudar... e me poupe, povinho é gentinha medíocre, com mente tacanha e pequena... isso merece crédito? Alguém que é incapaz de pensar, refeletir e ter bom senso? Se eu vou saber a causa ou não, é uma coisa. O fato é o que tenho: um embrião já sem vida que será expelido, naturalmente, a qualquer momento. Se é algo prazeroso? Lógico que não. Mas, é o que é e não preciso enfeitar nada, apenas precisei aceitar. Aceitar ajuda a curar a dor.

Aí, sim, agradeço a Deus por esse presente diário de ser amada e amar!

Boa sorte para todas as mães! Muita paz para todas nós! Eu continuo seguindo, respeitando o tempo das coisas. Respeitando meu momento e deixando que ela passe, naturalmente.

Saudações maternais,

Pat Lins.

Um comentário:

  1. "Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o SENHOR.

    Porque assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos." Isaias 55, 8-9

    Nem tudo que ocorre conosco cabe em nosso entedimento limitado de ser humano, mas a palavra aceitar, como usou, ajuda a minimizar a dor. Desejo que sinta intensamente a presença do Senhor, mesmo que nao entenda muitas coisas.

    Receba essas palavras com a força de um abraço,
    Cíntia

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