Interessante... lendo um poema belíssimo e perfeito do amigo Marcos F. Auerbach, e a luta de Louise, a jabuti do meu filho, pela liberdade, me inspirou a reflexão:
De tanto que julgamos nos conhecer como a palma da mão, mal sabemos quem somos de verdade, além do que nos deparamos dia a dia... e que somos mais do que algo previsível.
De tanto que acreditamos e julgarmos que sabemos quem é o outro, ainda nos surpreendemos diante das suas inovações.
Temos a mania de nos colocar como tão seguros e auto controlados que, mesmo perdendo o controle, carregamos a arrogância em dizer: "Tudo sob controle, eu me conheço!".
Vendo uma jabuti escalar "parede" da caixa de papelão para tentar viver em liberdade, dando tudo de si - incluindo usar o vasinho da água como degrau, usando de uma inteligência desconhecida, por ser subestimada - me questiono: até quando?
Até quando seremos os mesmos e viveremos como os nossos pais? - Sem ofensas... apenas trocadilho com a música e o que ela levanta como necessidade de romper com o que passou, sem desmerecer e sem desrespeitar a importância.
Fazemos sempre as mesmas coisas e almejamos mudanças e transformações. Andamos em círculos e juramos seguir uma reta!
Inteligência é se recriar, é criar o novo - ainda que a partir do velho. É isso que quer dizer: deixar o passado para trás. Não é ignorá-lo, mas fazer um novo tempo que existe, ainda que não façamos, mas que pede: me reinvente. Veja o que já fez, o que já existe, veja, veja, veja! Até hoje, tudo igual, afirmando ser diferente.
Reinventar-se é voltar atrás para andar para frente. É ter um referencial - ou não - do que não mais fazer ou do que continuar fazendo, porém inovando.
A gente não precisa correr o mundo, procurar novos lugares para viver velhos padrões que levamos conosco. A gente precisa é ser novo, aqui, no mesmo lugar, onde quer que vá: EU. A mudança está em nós, não no lugar para onde iremos.
Certa vez escutei alguém me dizer: "Minha igreja é onde vou, porque Deus está em mim...". A pessoa, uma mulher, quando me disse, não estava desdenhando ou subjugando as religiões, apenas ressaltava a importância do não apego exagerado ao externo, mas ao EU, ao quem somos onde quer que a gente vá, independente de religião. A fé é algo que está, não que nos colocam.
Enxergar a abertura, o espaço inexistente - ou, melhor, o espaço aberto à espera do que virá -, requer essa capacidade de se saber onde está e onde faz ideia de onde quer chegar - no caminho, posso chegar em outro lugar. Como disse Xuxa, na semana da criança no programa "Encontros", com Fátima Bernardes: "Quando me perguntam se eu sonhava em chegar onde cheguei, eu digo: nem sabia que existia esse lugar. Eu sonhava com um monte de coisa, mas esse lugar é novo, surgiu comigo... nem eu sei que lugar é esse de tão bom que ele é...". É ir, sabendo que pode voltar, quando quiser, porque o que já existe é terra original. Nossa origem é imutável. Nosso futuro que é "transformável", "criável", "realizável". Nosso presente que é "criável".
Pedro, meu filho de 7 anos, diante de uma folha morte e da sugestão de um amigo nosso de colocá-la na grama para renascer diz: "Só se nasce da semente... Esta folha já está morta!" . Sim, só se nasce da semente. Mas, o que se foi serve como adubo. Assim, todos aprendemos, naquele instante a importância de todos os tempos: passado, presente e futuro.
Na Natureza, nada se perde, tudo se APROVEITA. Ou seja, tudo se REINVENTA!
Do sossego, do silêncio mental, mesmo em meio à turbulência, mesmo após ter cometido algum erro, algum deslize..., a consciência da ação passada pode nos levar à segurança do saber o que não mais fazer. Daí, vem o adubo, aquilo que já foi, que já morreu, ainda vive dando base ao por vir! Nada surge do nada original. Não mais.
Só com serenidade se faz o novo.
Estou refletindo tanto enquanto escrevo que ainda nem sei como concluir... fico sem conclusão, apenas parando a escrita, não a reflexão.
Pensando aqui, me reinventando aqui e agora. Tomando, cada dia mais, consciência de mim e ainda longe de me conhecer por completo... Por isso: "PENSO, LOGO EXISTO!", já nos disse Descartes. E, só abrindo mais o leque... a distância entre dois pontos pode ser uma curva...
"Ser ou não Ser? Eis a questão"... (Shakespeare)
E, para não dizer que não falei das flores: "Caminhando e cantando e seguindo a canção... somos todos iguais, braços dados ou não... vem vamos embora que esperar não é saber. QUEM SABE FAZ A HORA, NÃO ESPERA ACONTECER!" (Geraldo Vandré).
Nada é tão verdadeiro que não caiba uma nova verdade, né verdade?! Nenhum tempo humano é tão exato, que não caiba um novo tempo, de um novo momento, para recomeçar! (Pat Lins)
"No novo tempo, apesar dos perigos... estamos na luta pra sobreviver!" (Ivan Lins)
A gente é assim, não linear. Começa com um pensamento, que puxa outro, que nos leva a outro que cria outro... e assim, vamos indo, vivendo e seguindo um novo amanhecer - igual, mas diferente!
Reinventar-se é nascer de novo (?).
Pat Lins - se reinventar é ter consciência do aqui e agora e que agora já é outro aqui e agora a começar.