Imagem: Blue Time por Carien van Hest |
Há algum tempo, o tempo era algo tido como "terrível", pois nos lembrava a condição de mortais. Mesmo assim, dentro dele, se era possível viver. Havia tempo para viver e sentir, sentir e ser. Mesmo com pouco tempo, se aproveitava o tempo, a família, o amigo, o vizinho... os pequenos prazeres que eram tão grandes e importantes, magníficos instantes restauradores de força, fé e alegria.
E o tempo foi passando, seguindo sua própria lei de seguir e nos lembrar que ele não vai, nem volta, que esse tipo de tempo é apenas uma condição para nos lembrar da perecibilidade da matéria, de tudo que é duro, denso, material, carnal, físico. E isso causou medo para as frágeis mentes que somos... esse medo se tornou pânico. Esse pânico se tornou um surto psicótico. O desespero criou um tempo acelerado, acelerando o ritmo dos afazeres, o trabalho como fuga da realidade, o dinheiro ganhou ainda mais corpo como "propulsor" ou "facilitador" de poder, ou até como "Lei Maior", criando a tal proteção e segurança para quem o tem em extrema abundância.
Medo, pânico, terror, ambição, angústia, doenças, crises, desgraça, destruição...
As aranhas continuam a tecer seus fios, no tempo de sempre, natural e cadenciado, sem pressa... sem atraso... sem euforia... sem desânimo... apenas tecem. Apenas seguem o fluxo natural.Os animais das florestas correm, procurando sobrevivência, fora do fluxo natural e da lei da selva, vivem agora uma balbúrdia agressiva, descompensada, extremamente acelerada e sem sentido real e concreto.
Pare um pouco e se pergunte: essa loucura que criamos e culpamos o senhor Tempo, faz algum sentido? Não assumimos nem a responsabilidade de que perdemos o controle sobre nossa criatura temporal fugaz e veloz, tão efêmera que evapora mais rápido que o éter e nos deixa cada dia mais cansados e necessitando de mais combustível que o normal. Alguns de nós, ao nos reconhecermos co-responsáveis, ainda que dando sequência a um arquétipo insano e insalubre, praticamente zumbis e sem liberdade ou vontade, buscamos em nós e na cooperação mútua entre amigos e familiares afins, esse reabastecimento sadio, com amor, compreensão, não falo de uma realidade fantasiosa, falo da concreta, que inclui alguns desentendimentos, brigas, discussões, raivinhas, mas, tempo para se reajustar através de algo que muitos não têm mais: tempo para entendimento...com isso, nos permitimos reconhecer a falha e imprecisão em nós e no outro, diminuindo o impacto nocivo do peso e dos genocídios que causamos diante de tanta intolerância onde, muitos que lutam para ter seu espaço respeitado, saindo do seu núcleo de interesse, revelam-se cruéis e intolerantes com outro núcleo e assim, fortalecem uma teia perigosa de sucessão de destruição, ou seja, não há tempo também para aquilo que não me interessa, percebe?
E por aí vamos... mas, quando nos abrimos para dentro, nos permitimos estar nesse tempo louco, criado por nós mesmos, onde as 24h de um dia criado por nós, humanidade, diminui a cada dia, mesmo ainda contabilizados como 24h... com sensação temporal e rítmica de 12h... criamos um dia de 12h, no máximo, 16, 18h. Cortamos o tempo que criamos para termos menos tempo livre, mais tempo ocupado e mais tempo para não ter tempo de entender, apenas passar. Não seguimos mais fluxo, porque não dá tempo, exige muito de nós... melhor apenas passar...
Qual o melhor nome para isso tudo? Loucura? Que nada, os loucos são mais livres... negam essa realidade destrutiva e, nós, os certos, os chamamos de loucos. Certos são eles, isso sim.
Nosso tempo é de soberania: eu sei o que está em minha cabeça, não tenho tempo para te dizer, atropelo a tudo e todos, porque não tenho tempo a perder e se você não me segue, louco é você, além de incompetente e burro. Daí, do auge da minha tirania ensandecida quando associada a algum tipo de poder, me elejo poderoso/a símbolo da perfeição, portanto, você, outro, você é culpado por existir, poupe-me da sua presença... Minha nobreza me permite te julgar e condenar nesse meu tempo e pronto, não tenho tempo a perder!
Isso vem nos tornando tão insensíveis que pensar cansa, apenas os meus pensamentos soltos e desconectados com um tempo necessário podem pulular e gravitar em minha brilhante mente. Quantos nobres soberanos, verdadeiras divindades vêm agindo assim... mas, porém, entretanto, contudo e todavia, a realidade que não é menina - e, por essas forças ou desastres da natureza, que renegam e "injeitam" o que é natural, pois para isso precisa-se de um tempo que não têm para esperar passar cada etapa... enfim - a realidade, no tempo certo, se revela mais poderosa e dá um choque: VEJA! Podemos até querer negar, mas é tão claro, tão direto que, mesmo negando e criando a realidade paralela e fantasiosa e migrando para lá, ela é assertiva e perdemos força, enquanto energia... nessa hora, para não cair e como não temos tempo hábil e natural para esperar a recarga energética, criamos uma condição além de zumbis... nos tornamos o que? Vampiros, pae! Sugando de quem ainda tem, deixando a pessoa seca e, seca, já não me serve mais, hora do juízo final: morra, peste imprestável que não serve mais para me servir. A gente tá tão surtado que, quando não se acha Deus - para não parecer que não temos humildade.., se auto define como uma simples entidade...
Ai, ai... quantos de nós está assim? Nos tornamos algo indescritível, irreconhecível, porém, assustador. Atiramos primeiro para depois perguntar, para não perder tempo. Tempo precioso, raro e... e... sem palavras. Esgotou meu léxico. Só sei que não temos mais tempo para ser, para parar e permitir sentir... parar toma muito tempo, exige parar, pensar, sentir e sentir dói, porque cansa, porque lembra que somos matéria bruta, dura e apodrecendo a cada dia. Melhor é passar por cima, fingir que esse tempo "implacável" não me atinge e acreditar que estou acima dele, intimidando a todos para que não tenham tempo de me perceberem tão pequenos quanto eles... Meddoo! Têm medo de se aceitar como falho e tão banal como os que banaliza. Aqui caberia aquele emoji com olhinhos para cima de "Ops! Falei!". Ahh, pode ser um #sqn
Bom, eu? Eu prefiro me ajustar ao Tempo, no tempo que tenho. Tenho tido pouco tempo para dar conta dos blogs, mas, sentindo cada experiência, vivências surreais e seguindo, sem comprometer minha essência genuína... desenvolvendo comportamentos adaptando a essa realidade tosca e sonhando com a mega acumulada do final de ano para me libertar do tempo da pressão de quem tem que pagar as contas na data certa.
Vamos vivendo como dá, como pode... mas, descobrindo a cada dia, a cada instante, que ser feliz depende de mim, não desse tempo louco, dessa guerra mundo a fora. Poderia escrever muito mais, mas ninguém teria tempo para ler e eu digo que não tenho para escrever... aqui já dá uma ideia do alerta que precisamos nos fazer e impor vez ou outra de que podemos ser "obrigados" a desenvolver comportamentos, tipo personas mesmo, para cada situação e isso mina nossas forças, mas que podemos ser ainda gente, pessoa, ser vivo e sentir, acolher e ser acolhido, compreender e entender que para tudo há uma explicação e com o tempo, o entendimento se faz e feito, a verdade se estabelece. Mesmo que os outros pirem e me matem em noma da falta de tempo, morro com dignidade e isso, ninguém me tira, para melhorar, isso fica! É o que fica num outro tempo que surge após os ataques ofensivos e destruidores de energia vital - sim, ninguém está imune... nem os próprios agressores - que é o tempo que se estabelece com a Verdade atemporal. Quando ela se revela, ou quando nós a desvelamos ou paramos de fingir que não a estamos vendo, aí sim, ela linda, altiva e sábia cura tudo e todo o tempo, de todos os tempos, se ajustam. Sonho com esse dia, muito mais do que com a mega acumulada do final de ano...
Pat Lins - atemporizando-me