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Imagem: Google Imagens |
Há um grande "pobrema" quando a gente não faz o que a pessoa quer... ela fala para todo mundo que você é "egoísta", "ruim", "num presta", "não é uma boa pessoa", "não é capaz de ajudar a alguém que precisa", etc, etc, etc.
Papo chato para domingão, mas, um conhecido me telefonou, inconformado - ainda que ele seja uma pessoa estável e até equilibrado, não há esse que seja atacado injustamente e não sinta uma pontinha de raiva ou aquela sensação de "eu não acredito que isso seja real!", mas é/foi. Compartilho a situação para que reflitamos quando somos A e quando somos B e nos ajude a sermos melhores em qualquer situação. Afinal, a proposta desse blog é trazer o cotidiano e nos transformarmos nele, AQUI E AGORA, concorda? Então, vamos lá, porque euzinha não sou verdade Universal, por isso, penso ser importante ver as situações por escrito, nossa mente age de maneira diferente e algo começa a processar lá dentro que, creio eu, toca mais a fundo do que um bate papo oral. Whatever.
Seguinte, vamos chamar meu amigo de A e o seu interlocutor de B, ok?
Bom, A estava saindo do trabalho - um dos três trabalhos -, à noite e recebe um telefonema de B, perguntando onde ele estava que queria encontrá-lo para "falar uma coisa". Só para situar, B é tio de A. Segundo A, com uma relação bem superficial e amena: se encontram em festa de família, se veem esporadicamente, rara rara raramente se falam e se veem. Não por não se gostarem, apenas por essas coisas da vida que alguns carregam na tinta, porém, apenas é uma falta de afinidade pessoal, de valores, de conduta de vida e etc. A é uma pessoa bem leve e legal. B, tivemos oportunidade de ver uma vez, en passant e pareceu ser aquele tipo de gente com uma oratória - lábia, mesmo - do tipo "vou embromar para conseguir ludibriar", com um quê de... deixa lá, foi só a minha impressão. Enfim, voltemos à situação - fofoca agora mudou de nome, né? Mas, tem uma boa finalidade: vamos pensar, nada de julgar. Curiar a vida alheia pode ser uma boa maneira de reflexão, também, né verdade?
Bem, A foi para casa - me perdoem, mas preciso ilustrar para ficar mais emocionante: A estava com uma, como dizer... "indisposição gastrointestinal", vulgo, "dor de barriga", doido para entrar em casa - e B o esperava no portão. B chegou, descrito como "político em campanha", com sorriso largo, uma simpatia tão forçada que parecia machucar sua face com aquele sorriso tão largo e armado. Já reparamos como as pessoas "mal intencionadas" usam o sorriso como arma? Faço uma ressalva, o sorriso que vem espontaneamente, da alma, ele traz alegria, o que traz angústia e te causa repulsa é o falso... Um detalhe muito interessante: B tem um carrão, grande caro, apesar de não ser uma pessoa que sustente esse padrão de vida, mas a aparência é mais importante.
B apertou sua mão. Perguntou as perguntas básicas: "Oi, como vai? Tudo bem? Firme e forte?". A responde o basicão: "Beleza! E você?", pronto, deu a deixa. B foi direto ao ponto, acompanhe essa saga pitoresca e reflexiva da vida alheia:
- Rapaz, tem um amigão meu que vem de viagem com a família, vai ficar lá em casa uma semana. Mas, sabe como é, estão sem grana e não têm como alugar um carro. Pô, já pedi a "Deuseomundo" e ninguém se solidarizou com a situação, rapaz. As pessoas andam tão egoístas que Deus me livre!
- Tá, certo, B, mas me diga uma coisa, você não quer entrar? É que eu estou me sentindo meio mal, estou com uma dor de barriga danada.
- Não, vou entrar não. É rapidinho. Será que você pode me emprestar seu carro, para que eles possam ficar mais livres pela cidade, conhecer... Como você sempre foi um cara legal, do bem, ajuda todo mundo, tem seu carro e o de C - C = esposa de A - dava para segurar a onda por uma semana e não ia atrapalhar nada, ela pode te deixar no ponto aqui perto que passa ônibus para seu trabalho, para na porta, eu já procurei levantar todas as informações e é tranquilo. Pode deixar que o combustível ele coloca, você só precisa deixar um pouquinho para eu pegar aqui e levar até eles, para não abusar da sua boa vontade...
A, apesar de ser um cara calmo e mais para calado, não se conteve e:
- B, assim, você tem noção do horário que saio de casa, de carro, para chegar em um dos meus três empregos, com os quais eu pago minhas contas, inclusive o carro? Eu pego às 7:30h, fora da cidade. Você quer que eu vá para a rodoviária, pegar ônibus para seu amigo curtir? Sinceramente, você vê algum sentido nisso? Faria de bom grado se não fosse me prejudicar, mas vai comprometer toda minha rotina. Eu saio da cidade 1 às 13h e corro para a cidade 2 e chego em cima da hora. De ônibus, com certeza, perderia um dos empregos e preciso manter os três.
- Mas, rapaz, você nem tem filho, é só você e C. Um casal jovem, cheio de gás...
- B, tentei te situar da minha rotina apenas para que você entenda que eu nem preciso negar, ao entender, achei que você iria dizer: "rapaz! Valeu! Mas, vai te atrapalhar todo!" e, ao contrário, você está tentando me convencer de que que devo me sacrificar pelo seu amigo?
- É, mas lembre que você já precisou de mim e eu te ajudei. Bem que sempre te achei um mauricinho de merda, metidinho porque fez faculdade e esses cursos depois. Estudou tanto e tem que ficar correndo atrás de emprego. Adianta estudar e ter que ter três trabalhos para se sustentar? Aí, acontece isso, ó, não sabe o valor que a vida tem. Sempre teve tudo na mão, né, acha que a vida é fácil. Dizia para sua mãe não te dar as coisas na mão, que você sempre foi muito egoísta. Aí no que deu! Tem nada não, não precisa se sa-cri-fi-car, não. Eu vou dar um jeito, porque eu sempre resolvo tudo, né? ...
Cinco segundo de silêncio e A sem conseguir processar e organizar seus pensamentos... de repente, o que já era sem sentido virou um buraco e as voltas em seu abdome aumentavam e entre os gritos do seu corpo, aquela situação inusitada e inexplicável... e inimaginável e... não tenho mais adjetivo para (des)qualificar essa situação... A já nem escutava mais os ataques de B, porque sua mente não tinha referência do que aquilo tudo significava e, sem sei lá, signo, significado e significante - para mim, sem significância... - a semiologia + a psicanálise + a psicologia + a sociologia + a antropologia + todos os campos do saber devem ter uma explicação para o inexplicável... vamos reunir Saussure e Freud, Jung, vamos chamar Baumann também... sei lá, alguém já escreveu sobre a "teoria do absurdo"?!
A, passados esses cinco eternos segundos, emite um grunhido, quase uma palavra:
- Olha, tio, fala o que quiser, pense o que quiser, mas, escute o que fala, o que me pediu e me responda: você não trabalha, não estuda, seus filhos estão crescidos e moram com a mãe..., tem um carro grande, que cabe muita gente... Empresta o seu e fica tudo certo. Você não precisa se chatear conosco, pessoas egoístas. Você pode curtir com eles e todo mundo fica feliz!
- Você está me chamando de desocupado? Acha que posso ficar sem carro? Quem vai resolver as coisas que tenho para fazer? Vou ficar pegando ônibus por causa de ninguém? Agora, você sim, pode fazer isso e não quer, porque não sabe o que é ter que ralar, ter que subir e descer de ônibus. Entra em seu carrinho de merda... Estudou tanto e tem um carro popular. Só rindo...
Não vou continuar o diálogo porque foram quase meia hora de "papo". Mas, só para finalizar, A disse que encerrou assim:
- Bom, tio, como você disse, era coisa rápida, né? Já falou o que queria, ouviu o que não queria de mais uma pessoa egoista, né? Só por curiosidade, quantos egoístas teve contato hoje, para resolver seu probleminha?
- Fui em seu irmão, aquele advogadozinho de merda; fui em seu primo, aquele engenheiro tirado, que acha que é melhor que todo mundo porque mora numa mansão... deve deixar de comer para pagar as contas e manter aquele carro, aquele invejoso de uma figa; fui em sua mãe, que agora entendi porque você e seu irmão são assim, tão egoistas...
- E seus filhos? - acho que A usou de ironia pela primeira vez em seus 35 anos... depois vou curiar, perguntando se ele gostou do veneno escorrendo na hora certa...
- Aqueles puxaram o sangue ruim da mãe. Prestam para nada.
- Aí, viu, já que você é uma pessoa tão boa, tão prestativa e altruísta, volto a dizer: empresta seu carro para eles.
- Pô, rapaz, você invocou com meu carro. Vou manda benzer para tirar esse seu olho gordo. Desculpa se vim te incomodar em sua casinha, com sua vidinha. Vai, entra e vai ca**r... - e saiu andando, entrando no carro; arrastou e só ficou a poeira.
Bom, A entrou, ainda em estado de choque, fez seu serviço de imperador, aliviou-se, banhou-se e sentou-se incrédulo até a C interrompeu o silêncio com uma bela novidade que deixou o passado seguir seu rumo e ele nem se preocupava mais com o que B ia falar dele por ai, porque agora, ele vai ser papai e não tem tempo para perder com a loucura dos outros. Eu - Pat - chamo essa loucura de loucura insalubre, porque é danosa, venenosa e tenta prejudicar o outo, desestabilizando, desmoralizando, detonando...
Enfim, e aí, quantas vezes - em diversas proporções - somos A, somos B e somos C?
Eu sou o alfabeto inteiro, com características mais fortes de A... pois, todo mundo é bonzinho, né?
Assim, ficam as lições para refletirmos hoje... rindo para relaxar.
Pat Lins
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