sexta-feira, 8 de agosto de 2008

SEJAMOS CRIANÇAS, ADULTOS CONTENTES!!!

Alguém já se deu conta de que a infância é nossa fase de referência? É nela que descobrimos o mundo, aprendemos a andar, a falar, a sentir...

E alguém já se deu conta de que vivemos fugindo dela? Como se quanto mais distante daquela fase, mais "maduros",mais "adultos" seremos... muitos, querem é fugir da má fase que viveram, por terem sido mal tratados; por não terem tido a liberdade de ser criança; por ter tido que ser adulto antes do tempo; por ter sido obrigado pelos pais a ser adulto "intelectualizado" desde a infância, para obter destaque entre as outras crianças e "garantir" um futuro...

Freud tem/tinha (ele é tão contemporâneo, que nunca sei como conjugar o verbo no tempo certo...) toda razão quando diz que muitos de nossos problemas vêm de nossa infância. Claro, que a responsabilidade de nossas vidas é nossa, então, não adianta viver a vida toda brigando com aquele passado triste.

Eu tive uma infância maravilhosa,mas, as pessoas me "super valorizavam" muito. Não por maldade, mas por admiração, pela criança brilhante que eu era: bonita; inteligente (vulgo: CDF - risos); bem articulada; sabia dançar; sabia declamar poemas; resolver problemas de matemática (mas, isso só na infância, reneguei os cálculos durante o final do ginásio e segundo grau e apenas estudava para passar...risos); sabia subir num palco e apresentar um evento; sabia escrever belos textos;era amiga dos professores; era amiga dos alunos de quase todas as séries; era popular; era simples...; enfim, eu era uma criança sempre alegre, sorridente, feliz e inteligente. Falo sem receio de parecer "imodesta", mas é porque eu era assim mesmo. Eu achava aquilo normal. Não me sentia destaque, apenas era. Sabe, para mim, era assim e pronto. Não era um personagem, era eu. Eu era assim.

Valorizava uma amizade mais do que tudo, tanto que no "Jardim II" (nem sei como é hoje. Acho q hoje a exigência é tão grande para com as crianças, que elas, daqui a algum tempo, terão que fazer vestibular para entrar no maternalzinho...) fui adiantada para a Alfabetização,por já saber ler e escrever... não me senti à vontade, me senti pressionada. Me lembro, como hoje, que não me adaptei. Já conhecia a professora e alguns colegas, do dia-a-dia,mas, nem isso me satisfez. Lembro que meus pais tiveram o cuidado de me consultar se eu queria ir mesmo e que me apoiariam se quisesse voltar. Já tinha o apoio deles desde sempre! Isso sempre me fora fantástico! Mas, achava que era assim com todos os meus coleguinhas. Senti falta de minha turma. Senti falta de ser Jardim II. Não queria ser adiantada, queria ser normal. Claro que não racionalizei dessa maneira, só pedi para voltar para minha turma. Queria, na verdade, era viver um ritmo certo, sem pressa.

Adorava teatro. Toda apresentação de escola, fazia uma peça. Tinha um grupinho de teatro no prédio em que morava. Eu,meus irmãos e vizinhos éramos atores, diretores, produtores e divulgadores. Era muito legal.

Tomava banho de chuva; andava de bicicleta;ia para festas; namorei quando achei que devia; tinha hora para "descer" (como nos referíamos ao ato de sair de casa e encontrar os amigos na rua) e "subir" (voltar para casa...risos). Era uma "liberdade vigiada", como falava minha mãe. Podíamos fazer muito, mas, dentro de um limite. Era importante saber que éramos crianças, nossos pais era responsáveis por cada um de nós. Era tudo muito legal. Claro que deixei de viver coisas que queria ter vivido, com aquela frase (que toda criança o-de-i-a): "você ainda é criança para entender. Quando for adulto, vai me dar razão..." - risos. Tinham coisas que realmente era por insegurança, outras, por zelo, outras por senso de responsabilidade mesmo, enfim, vivi muita coisa boa. Veraneava à beira mar; férias de junho, viagem para o interior... já fui Rainha do Milho por duas vezes consecutivas; era uma criança normal. Meus pais não nos sufocavam com obrigações, nem nos deixavam soltos... havia um equilíbrio muito natural. Era tudo muito bom!

Achava que tudo era normal e lindo para todos. Até que uma colega, em plena 4ª série primária, veio me perguntar porque eu era tão feliz? Os pais delas estavam se separando, porque a mãe descobriu que o pai tinha outra... veio com tanta raiva para cima de mim, que vi que, dentre os meus colegas,poucos tinham pais casados... mas,isso não era estranho para mim, achava que eles eram felizes assim, né?! Meus pais não se separaram,porque vivem bem. Quem convive com eles vê que se amam. Não é coisa rara,mas, também não é coisa tão comum... só, não entendo até hoje,porque isso incomodou minha colega? Eu não me gabava por meus pais estarem juntos. Eu era/sou feliz por serem pessoas de verdade; que vivem uma relação que não é perfeita,mas que é linda! Não existe perfeição. Meus pais se amam e vivem bem e pronto. Por que isso teve que doer em alguém há pouco mais de 20 anos atrás? As pessoas se doem com a alegria dos outros porque têm tempo para isso. Em vez de construir sua própria alegria, perde tempo invejando aquilo que queria estar vivendo...

Algo meio ligado a SUPER EXPECTATIVA, SUPER HERÓIS, SUPER FRUSTRAÇÕES... Não acho ofensa meus pais viverem bem. Acho ofensa, ver tanta gente que não vive, fingindo viver para dar satisfação a uma sociedade tão hipócrita. Alguém já parou para se questionar quem vem a ser a tão mencionada: SOCIEDADE????? Acho que se um casal descobre, após constatar de verdade, que não dá certo (não é se desesperar na primeira dificuldade e partir para o divórcio. É ver que realmente há uma incompatibilidade que vem entristecendo em vez de alegrar; que vem destruindo cada um, em vez de edificar...) é melhor pedir a tal "separação" oficial,porque, separação de fato, já existe! Para quê viver sofrendo? Claro que existem casos e casos; cada um sabe o que é melhor para si!

Então, não vim ao mundo para ofender, nem ser ofendido. Respondi a minha colega, de maneira singela (naquela época, era sincera sem dar "patadas" - risos), que isso era entre meus pais, eu não tinha nada a ver com a relação deles. Que meu pai era sempre tão presente em casa,só saia com minha mãe...resumo, que ele não dava margem para desconfiança. Quando falei que a gente não tinha nem do que desconfiar, foi que ela alterou: "é assim mesmo! Depois,quando descobre...". Rapaz, me lembro como hoje, daquele dia. Encurralada num vértice da sala,onde não havia para onde correr. Na hora do intervalo, sem ninguém por perto. Foi coisa de gente doida e doída mesmo. Falei, meio que com raiva: "não tenho o que desconfiar de meu pai. Se algum dia isso acontecer, e que Deus me livre, minha mãe vê o que faz!". Empurrei ela e saí. Mas, fiquei com aquilo martelando em minha cabeça e comecei a observar meu pai. Em silêncio...Veja, como as situações podem ser criadas? Já viu? Ela quis (e por um instante conseguiu) enfiar "minhoca em minha cabeça". A convivência com meus pais sempre foi tão aberta, e tão verdadeira, que decidi não falar,para não criar algo que não existia. Não tinha o que observar em meu pai. Ele estava sempre conosco. Sempre saía com minha mãe. Sorriam sempre. Discutiam muito pouco, e poucas vezes discutiam. Era mais coisa de estar se arrumando para sair, minha mãe estar pronta e meu pai, sempre atrasado... Eles sempre souberam conversar. Achava o máximo isso. A gente (e e meus irmãos) aprendeu, desde cedo, a sempre falar a verdade. A gente apanhava, ficava de castigo, mas,não mentia. Somos assim até hoje. Isso nos fez crescer assim, pessoas honestas e francas. Temos muitos e muitos defeitos,lógico. Mas, qualidades enormes! Somos todos do time do bem! Falo com orgulho, porque, para mim, isso é natural e norma. Para mim, todo mundo é assim, basta se permitir.

Mas, esse jeito "super valorizado" que cresci, de certa forma, me tirou um pouco o foco da realidade. Não percebia que despertava muita inveja e ciúme. Comecei a perceber, aos poucos. E comecei a me sentir uma pessoa que não era desse mundo. Todo mundo fingia, todo mundo queria ser algo que não era e vivia à sombra do que nunca foram... Muitos, passavam a acreditar que eram o que queriam ter sido e viviam daquele jeito: personagem de si próprios...

Criei um personagem também: uma pessoa sem grandes problemas (havia limitação financeira. Meus pais nunca foram ricos,nem tiveram vida fácil. Mas, tivemos tudo o que eles puderam nos dar. Não cresci com roupas de marca, mas, cresci vestida. Sempre tinha uma peça da moda...eles fizeram e fazem muito pela gente. Crescemos em meio a uma troca. Meus pais davam o que podiam e éramos felizes! Tive muito: escola particular, faculdade, especialização, curso de inglês - que não concluí porque achava que aprendia rápido e poderia aprender sozinha...); sempre de bem com a vida; sincera; de confiança; disposta; dinâmica; "pau para toda obra"; amiga... gente, esse meu personagem sou EU!!! risos. Mas, também desenvolvi um orgulho velado (de viver num ambiente favorável a mim, passei a acreditar que sempre seria assim: bem tratada, bem recebida, bem vista) e isso me impedia de me permitir errar... desenvolvi uma auto-cobrança de sempre estar certa. Sabe meu personagem? Era eu mesma,mas bem exagerado... eu não sou perfeita, mas, queria achar que era!

Quando me sentia triste, não expressava logo. Quando me deparava com algo que não sabia resolver, me cobrava uma solução. Precisava acertar! Precisava fazer com que ninguém se decepcionasse comigo.

Não tinha riqueza como meta de vida. Queria sucesso profissional e estabilidade financeira, fruto do meu esforço. Minha ambição era ter o suficiente sempre para poder viver com conforto; ter um plano de saúde descente e que me ajudasse na velhice; ter um carro, um apartamento; condições de manter os dois; ter condições de socorrer um amigo ou parente,num momento de necessidade; ter tempo para viver a vida com meus amigos e família;ter condições de um dia ter um filho e propiciá-lo esse mesmo conforto... Para mim,uma tarde no Shopping,comendo pizza de R$ 10,00 com minha mãe (quando a grana tá curta) não tem preço. Poder ter os domingos em família, "queimando uma carne", também não tem preço. Só quem tem a oportunidade de viver coisas tão simples e ricas, sabem o valor que essas reuniões têm. Um telefonema para um amigo; uma mensagem de e-mail, só para dizer: OI!, também é maravilhoso! Por que tanta gente deixa isso morrer? O TEMPO? A VIDA? Por que tanta gente não sabe nem o que é isso?

Pois é, a vida não tem preço.

Nossos personagens é que "precificam" tudo e todos os momentos.

Quando tive a DPP, vi que esses momentos foram minha base. Vi que meu personagem pedia socorro. Não tive traumas de infância. Fui criança, quando deveria ser; adolescente, quando deveria ser; adulta, na hora certa. Quem disse que o adulto é que tem as respostas certas? A criança que tem! Foi na minha infância que descobri que tinha força. Foi reaprendendo a andar que cresci! Foi/é tratando meu personagem perfeito e exigente que me (re)descobri. É sabendo que a criança que fomos, ainda somos, ainda É! A infância que vivemos,boa ou não, é que nos impulsiona ou aprisiona. É lá que encontramos todas as respostas. É sendo franco e aberto ao mundo, sem medo, sem rodeios, como uma criança que seremos adultos seguros, vivos e viventes!

Todo castelo de areia deveria ser real. Real, não só na realeza,mas na beleza de poder existir para todos!!!

Toda criança, merece ser um adulto decente; todo adulto, merece ter tido uma infância decente; todo ser humano,merece uma vida decente!!!

Pode deixar a criança desenhar um traço torto, amanhã,ela pode acertar!!!

Por que é tão difícil viver o presente? Por que cobrar tanto as crianças por um futuro que elas viverão de qualquer maneira? Por que sufocar essas crianças,para ter um "bom" futuro financeiro e fadá-las a viver como adultos que queriam voltar a ser criança,para começar tudo de novo? Por que a gente esquece que ser Pessoa, vem antes de tudo, até de ser Profissional? Por que tanta frustração? Tanta maldade desmedida? Tanta revolta? Tanto fingimento? Por que tanta dor?

Na roda viva da vida, viver um hoje feliz,pode ser um belo dia de saudade amanhã, ou um amanhã com mais força!!!

Salvem (literalmente) as crianças! Sejamos adultos, crianças contentes! Sejamos, enfim, GENTE!!!

Patricia Lins

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